Indiscutivelmente, obras para pavimentação de ruas e criação de novas avenidas trazem inúmeros benefícios para a população. Os moradores das proximidades veem seus imóveis sendo valorizados, pois o acesso a outros bairros e ao centro torna-se mais fácil e rápido. Foi o que, inicialmente, esperavam as pessoas que residem nos bairros Jockey Club e Marcos Roberto com a implantação da Via Morena, que é uma das principais avenidas da Capital. No entanto, a "surpresa" tornou-se desagradável quando elas passaram a ter suas casas invadidas pela enxurrada. Há pelo menos quatro anos, as cenas se repetem, mas nenhuma providência foi tomada ainda.
A chuva de quinta-feira, que somou 43 milímetros, transformou em rios algumas ruas de bairros da Capital e trouxe novos prejuízos para moradores. A cada enxurrada, os campo-grandenses assistem perplexos os estragos em diferentes pontos da cidade. Anteontem, foi a vez da população da região sul ser a mais prejudicada. A questão é que alagamentos só passaram a acontecer nos bairros citados depois da construção da Via Morena. Todos sabem da importância desta avenida, mas o poder público, obrigatoriamente, deveria ter feito sistema de drenagem eficiente para que a água não acabasse escoando para as outras vias.
Os moradores do Jockey Club, de fato, foram surpreendidos pelos alagamentos. Inclusive, há cerca de um ano, uma mulher morreu porque teve parada cardíaca após ver a residência tomada pela água. Em outras ocasiões, já haviam relatado que o problema começou depois da nova avenida e retirada dos trilhos. O secretário de Infraestrutura, João Antônio De Marco, confirmou que os trilhos serviam como barragem de contenção da enxurrada. Então, se isso já era de conhecimento das autoridades, por que nenhuma providência foi tomada? Ou será que para uma obra tão grandiosa não foi elaborado nenhum tipo de estudo com o objetivo de medir o impacto na região?
Essas questões ainda precisam ser respondidas, mas a falta de planejamento já ficou evidente em várias obras executadas na Capital, como as de contenção de enchentes. E para piorar, não há data para as intervenções nas proximidades da Via Morena começarem. Ainda será necessário, conforme o secretário, aguardar recursos (ainda não garantidos) na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A situação exige alerta para que os mesmos erros não se repitam. E, com a obra do prolongamento da Via Morena na saída para Aquidauana, orçada em R$ 13,9 milhões, já observam-se sinais de problemas semelhantes em outra região da cidade. Durante as últimas chuvas, as avenidas Júlio de Castilhos (na esquina com a Presidente Vargas) e Duque de Caxias (em frente a Base Aérea) apresentaram pontos de alagamento. Lá os trilhos também foram retirados e as obras estão apenas começando. A população, certamente, comemora novos investimentos, mas espera que os próximos tragam apenas benefícios.