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Síndrome da fadiga crônica: problema começa pela definição

Síndrome da fadiga crônica: problema começa pela definição

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Quando 30 anos atrás começaram a aparecer relatos sobre jovens homossexuais sofrendo de formas raras de pneumonia e câncer, os investigadores de saúde pública sofreram para entender o que parecia um distúrbio imunológico mortal: quais eram os sintomas? Quem era mais suscetível? Que tipos de infecções caracterizavam a doença?

Eles estavam atrás da ferramenta mais essencial de um epidemiologista – uma definição de caso correta, um conjunto de critérios que, ao mesmo tempo, incluísse os doentes e excluísse quem não tinha a doença.

No caso da aids, os investigadores logo concluíram que usuários de drogas injetáveis, hemofílicos e outros grupos demográficos também corriam risco, e a definição evoluiu com o passar do tempo, incorporando provas laboratoriais de disfunção imunológica e outras melhorias baseadas nos avanços científicos.

“Se você reconhece que algo está acontecendo, é preciso uma definição de caso para relatá-lo”, afirma Andrew Moss, professor emérito de epidemiologia da Universidade da Califórnia, campus de São Francisco, e um dos primeiros investigadores da aids.

Porém, quando uma enfermidade não tem causa conhecida e seus sintomas são subjetivos, como se dá com a síndrome da fadiga crônica, fibromialgia e outras doenças cujas características e a própria existência foram contestadas, definições de caso conflitantes são praticamente inevitáveis.

Agora, um novo estudo sobre a síndrome da fadiga crônica ressaltou como definições de caso conflitantes podem levar a um “fogo cruzado” epidemiológico – em que o que é visto depende de quem está fazendo a observação – que provocou um debate ardente entre pesquisadores e defensores dos pacientes dos dois lados do Atlântico.

O estudo, publicado mês passado na revista médica “Lancet”, relatava que exercícios e terapia cognitivo-comportamental poderiam ajudar as pessoas com a doença. Defensores e alguns dos principais especialistas rejeitaram as descobertas e afirmaram que o grande problema estava na definição de caso usada pelos autores.

Os cientistas britânicos que conduziram a pesquisa identificaram os participantes no estudo baseados principalmente em um único sintoma: incapacitação e fadiga inexplicável durante pelo menos seis meses. Muitos pesquisadores, porém, particularmente nos Estados Unidos, sustentam que a definição abrange muitos pacientes cuja enfermidade real é depressão, não a síndrome – e a primeira pode muitas vezes ser atenuada com psicoterapia e exercícios.

Os autores da “Lancet” escreveram “sua definição de caso para incluir pessoas com quadros graves de depressão e pacientes que, claramente, sofreram um abalo no sistema imunológico e estão deprimidos porque não podem mais fazer coisas rotineiras”, afirma Andreas Kogelnik, especialista em doenças infecciosas de Mountain View, Califórnia, que atende muitas pessoas portadoras da síndrome da fadiga crônica.

Ao estudar a condição, ele e outros pesquisadores excluíram pacientes cujo único sintoma é fadiga, mesmo que incapacitante, para usar uma definição de caso que inclui outros sintomas cognitivos, neurológicos e fisiológicos. Para eles, tais sintomas indicam uma desordem complexa do sistema imunológico, possivelmente causada por um vírus ou outro agente.

Desde 2009, estudos produziram resultados contraditórios sobre se os vírus relacionados à leucemia em ratos estariam associados à síndrome da fadiga crônica, também conhecida como encefalomielite miálgica. Um estudo recente descobriu que pessoas com a doença têm proteínas diferentes no líquido cefalorraquidiano, criando esperanças de que um teste de diagnóstico possa ser desenvolvido um dia. Nenhuma definição de caso é perfeita; toda doença tem discrepâncias. Entretanto, uma definição ampla ou restrita pode afetar profundamente estatísticas vitais para o planejamento da saúde pública.

Se os pesquisadores filtram suas percepções por diferentes óticas – isto é, definições de caso que produzem estudos populacionais variando em tamanho e características –, é difícil saber se eles estão estudando o mesmo fenômeno, sobrepondo alguns ou pesquisando enfermidades sem qualquer relação.


Determinar se as descobertas de um estudo podem ser extrapoladas para outros pacientes é, no mínimo, complicado.

“É preciso definir características e todos precisam usar os mesmos critérios porque, de outra forma, você chamará algo de maçã e outra pessoa examinará um pêssego e dirá que se trata de uma maçã”, assegura Anita Belman, neurologista da Universidade Stony Brook, Nova York, que pesquisa sobre esclerose múltipla pediátrica.

Ninguém discute que muitas pessoas que sofrem da síndrome da fadiga crônica também têm depressão. A questão é saber qual veio primeiro. Os pacientes ficam deprimidos porque uma doença terrível acabou com suas vidas ou a doença em si é a expressão somática de uma depressão subjacente?

Para pesquisadores que acreditam que a síndrome da fadiga crônica é uma mera condição psicológica, essa distinção pode não parecer importante. Contudo, há implicações profundas para quem está convencido de que se trata de uma doença viral e afirma que a terapia com exercícios aconselhada pelo estudo da “Lancet” pode causar recaídas intensas em pessoas com o problema – afirmação apoiada por pesquisas com pacientes.

A definição de caso com um único sintoma usado pelos autores da “Lancet”, conhecida como critérios de Oxford, foi desenvolvida na Grã-Bretanha em 1991. Da mesma forma que a equipe que conduziu o estudo atual, o grupo de 1991 também incluía destacados profissionais de saúde mental.

Porém, muitos cientistas e clínicos consideram a definição de caso com sintomas múltiplos publicada em 1994 pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, como o padrão internacional.

Além de seis meses de fadiga incapacitante inexplicada, a definição dos CDC requer ao menos quatro de oito sintomas comuns: problemas cognitivos, distúrbios do sono, dor muscular, dor nas articulações, dores de cabeça, linfonodos, dor de garganta e mal-estar após esforço físico, mesmo que o nível de atividade tenha sido mínimo.

Em 2005, os CDC anunciaram uma definição de caso “empírica” recomendando questionários de avaliação específicos e pontuações para medir fadiga, disfunção física e outros sintomas. Os críticos questionaram as novas diretrizes da mesma forma que os critérios de Oxford, argumentando que os questionários e sistemas de pontuação eram muito ambíguos.

Por sua vez, a definição de caso canadense, de 2003, é considerada a mais restritiva e é preferida por muitos pacientes. Ela coloca o mal-estar após esforço numa posição central na doença e exige vários sintomas neurológicos, cognitivos, endócrinos ou imunológicos.

Terapia é mais eficaz do que remédio contra depressão


Em 2009, pesquisadores da Universidade DePaul, Chicago, relataram que 38% dos pacientes de uma amostra de estudo que sofriam apenas de depressão, avaliados segundo as ferramentas dos CDC, receberam o diagnóstico errado de síndrome da fadiga crônica; o mesmo não aconteceu quando foi empregada a mais restrita definição canadense.

O estudo sugere que a “definição de caso empírica” feita pelos CDC “ampliou os critérios de tal forma que indivíduos com doenças puramente psiquiátricas receberão um diagnóstico inapropriado” de síndrome da fadiga crônica, escreveram Leonard Jason, professor de psicologia comunitária na DePaul, e seus colegas.

Os autores também perceberam que usando as novas ferramentas de avaliação, os CDC haviam aumentado enormemente sua estimativa de ocorrência da doença, para 2,5% da população. Então a questão permanece: terapia e exercícios ajudam os pacientes com a síndrome da fadiga crônica, como relatado pelo estudo da “Lancet”?

Sim, aparentemente – se a doença for identificada com uma definição de caso baseada unicamente na fadiga. Mas será que a evidência daquele estudo prova que essas estratégias ajudariam pacientes diagnosticados com síndrome da fadiga crônica usando critérios diferentes? Essa é uma afirmação muito mais difícil de se fazer.

* Por David Tuller

Inteligência artificial

Google anuncia IA para criar vídeos, resumir reuniões e melhorar emails

O lançamento de uma versão de testes acontecerá em junho

10/04/2024 16h00

Os usuários poderão escolher estilo, composição dos slides, cenas, imagens e músicas a partir de botões e comandos textuais dados ao chatbot Gemini. Divulgação

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O Google apresentou na terça-feira (9) um pacote de novidades de inteligência artificial para sua plataforma de trabalho que inclui Gmail, Docs, Meet e Sheets, após seguidos deslizes na competição pela liderança na tecnologia com a OpenAI e a Microsoft.

Entre os anúncios, chamou atenção uma ferramenta de IA geradora de slides em vídeo. Chamado de Google Vids, a nova ferramenta é, segundo o Google, um assistente de criação de vídeos equipado com inteligência artificial. A tecnologia cria uma espécie de sequência de cenas, ou um "storyboard", como é chamado na indústria criativa.

O lançamento de uma versão de testes acontecerá em junho. Assinantes do Workspace, disponível por US$ 10 (R$ 50) mensais, terão acesso à plataforma.

De acordo com a vice-presidente do Google Kristina Behr, a ideia é que qualquer pessoa seja capaz de contar bem uma história com o auxílio da ferramenta. "Nosso objetivo é que, se uma pessoa pode fazer um slide, pode fazer um Google Vids", disse a executiva em evento realizado pelo Google em Las Vegas para anúncio de novidades voltadas às empresas.

Os usuários poderão escolher estilo, composição dos slides, cenas, imagens e músicas a partir de botões e comandos textuais dados ao chatbot Gemini. Uma das apostas do Google para recuperar a competitividade no mercado de IA é a integração de seus serviços.

O Google teve um início desajeitado no mercado de IA generativa, embora seja o responsável pelos principais avanços técnicos por trás da tecnologia. Entrou na concorrência apenas após o sucesso do ChatGPT, e o primeiro produto da empresa —Bard— desapontou o público em termos de performance.

A segunda tentativa, o chatbot Gemini que chegou ao mercado em fevereiro, rivaliza em performance com a versão mais recente do ChatGPT, mas foi centro de uma polêmica que envolveu a representação de nazistas não-brancos, entre outras imprecisões históricas. Por isso, a plataforma teve sua função de geração de imagens desativada por dias.

Agora a empresa se apoia na sua grande base de assinantes para integrar o bot concorrente do ChatGPT a Gmail, Docs, Sheets e outros recursos. Os recursos se assemelham às funções de IA disponíveis no pacote Office e no Windows, da Microsoft.

Um exemplo dessas funcionalidades é um assistente feito com IA capaz de resumir conversas, fazer traduções e responder dúvidas durante uma sessão de Google Meet. O robô funciona a partir de comando de voz.

Também com expectativa de lançamento em junho, a tecnologia tem suporte para 69 idiomas incluindo o português, segundo o Google. A assinatura do serviço custará US$ 10 (R$ 50).
O assistente também funcionará no Google Chat, bate-papo presente no Gmail.

A plataforma de email também passará a receber comandos por voz e receberá um botão para "melhorar" textos com um clique. A tecnologia "transformará uma nota simples em um email completo".

Ainda com base em IA, as planilhas do Google ganharão uma funcionalidade para formatar e organizar dados de maneira intuitiva. O produto promete acelerar a produção de tabelas.
O Google também acrescentou gatilhos condicionais às planilhas, que avisarão o usuário em caso de mudanças relevantes nos dados.

No Google Docs, programa de edição de texto, a empresa implementará um sistema de abas, que promete facilitar acesso e trabalho em múltiplos documentos ao mesmo tempo.

Para o Google Drive, o gigante da tecnologia passou a oferecer na terça um recurso de classificação e proteção de arquivos com o auxílio de IA. A tecnologia pretende facilitar a gestão de arquivos de negócios, para facilitar a detecção de arquivos nocivos, como vírus.

Integrado aos aplicativos de produtividade, o chatbot do Google para empresas, chamado Vertex, terá 130 opções de personalização sob promessa de adequar e melhorar a performance da tecnologia às necessidades dos usuários.

Programadores ainda ganharam acesso na terça a uma versão mais sofisticada do chatbot Gemini, o modelo 1.5 Pro.

De acordo com o Google, essa versão trabalha melhor com imagens, áudios e linguagens de programação.
 

Justiça

Barroso dá recado a Musk e fala em instrumentalização criminosa das redes sociais

O presidente do Supremo diz que é público e notório que "travou-se recentemente no Brasil uma luta de vida e morte pelo Estado democrático de Direito"

08/04/2024 14h00

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, divulgou nota hoje em que afirma que "decisões judiciais podem ser objetos de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado". divulgação

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Em meio ao embate entre o ministro Alexandre de Moraes e o empresário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, divulgou nota nesta segunda (8) em que afirma que "decisões judiciais podem ser objetos de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado".

Neste domingo (7), Moraes determinou a inclusão de Musk como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento.

Moraes afirmou que o empresário iniciou uma campanha de desinformação sobre a atuação do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), "instigando a desobediência e obstrução à Justiça, inclusive, em relação a organizações criminosas".

Na nota assinada por Barroso, sem citar nominalmente Musk, o presidente do Supremo diz que é público e notório que "travou-se recentemente no Brasil uma luta de vida e morte pelo Estado democrático de Direito e contra um golpe de Estado, que está sob investigação nesta corte com observância do devido processo legal".

"O inconformismo contra a prevalência da democracia continua a se manifestar na instrumentalização criminosa das redes sociais", afirmou.

"O Supremo Tribunal Federal atuou e continuará a atuar na proteção das instituições, sendo certo que toda e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras", disse Barroso.

Segundo ele, "é uma regra mundial do Estado de Direito e que faremos prevalecer no Brasil", que "decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado".

No domingo, Musk disse em seu perfil no X que Moraes deveria renunciar ou sofrer impeachment. No mesmo texto, afirmou que em breve publicará tudo o que é exigido pelo ministro e "como essas solicitações violam a legislação brasileira".

Um dia antes, um perfil institucional do X havia postado que bloqueou "determinadas contas populares no Brasil" devido a decisões judiciais, e Musk retuitou mensagem em que disse que "estamos levantando todas as restrições" e que "princípios importam mais que o lucro".

Apesar de o post da empresa não citar de onde seriam as decisões, Musk repostou a publicação, junto da mensagem: "Por que você está fazendo isso @alexandre", marcando o ministro do STF.

Horas após a postagem do domingo, Moraes determinou a inclusão de Musk como investigado. Segundo o ministro, a medida se justifica pela "dolosa instrumentalização criminosa" da rede, em conexão com os fatos investigados nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos.

Moraes determinou ainda a instauração de um inquérito para apurar as condutas de Musk em relação aos crimes de obstrução à Justiça, inclusive em organização criminosa e incitação ao crime, todos previstos no Código Penal.
 

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