OSCAR ROCHA
O novo show de Lulu Santos, “Acústico 2” – também nome do novo álbum –, que Campo Grande e Bonito assistiram em primeira mão antes de chegar a São Paulo e Rio Janeiro, é resultado direto do impasse que o mercado fonográfico proporciona a alguns astros da música na atualidade. Sem os tentáculos das grandes gravadoras como no passado, que garantiam superexposição dos seus contratados em várias mídias, os artistas consagrados precisam achar atalhos eficientes para atingir grande parcela do público. Com isso, raramente saem da área de conforto e repisam ideias testadas.
O procedimento serve para garantir o espaço conquistado, por isso a enxurrada de discos ao vivo, coletâneas e outros lançamentos com somente aquilo que o público pode reconhecer sem dificuldade. Bom para o artista, pois garante o pagamento do condomínio e o carro novo no fim do ano; péssimo para, digamos, o desenvolvimento artístico. Temos carreiras marcadas pela redundância.
A situação de Lulu é emblemática. Depois de três CDs de pouca repercussão – “Letra & música” (2005), “Longplay” (2007) e “Singular” (2005) – quer seus seguidores de volta e aposta em produto de pouca ousadia e retorno fácil: músicas em clima leve e previsível.
No domingo, com grande público à disposição, que, segundo a Fundação de Cultura do Estado, teria atingido o superlativo número de 70 mil pessoas no Parque das Nações Indígenas, dentro do Projeto MS Canta Brasil, Lulu repassou grande parte da carreira em arranjos sem guitarra, sobressaindo o som do violão. Dominou a cena o tempo todo. Foi fácil: poucos conseguem angariar tantos sucessos ao longo de quase três décadas. Era somente saber escolher. Depois da única inédita da noite, “E tudo mais”, soltou: “Nós somos feitos um pro outro, pode crer”.
Não há como duvidar da frase. O público é fiel, canta junto, é simpático. Pena que Lulu se porte como um amante preguiçoso. Culpa dele? Longe disso. É um dos maiores artistas do País. A “burocracia afetiva” deve-se ao formato adotado no show. Não trouxe novidades para seu relacionamento com o público. Os arranjos propiciaram momentos de grande karaokê. A multidão acompanha Lulu com desenvoltura. Merecia aplausos. Pena que o show não apresente sobressaltos, tudo é linear.
Vez por outra, Lulu Santos colocou canções menos conhecidas no repertório, como “Dinossauros do rock” e “Brumário”, que não tiraram o show da rota preestabelecida. Não importa se o ritmo fosse rock, baião ou funk. Todas pareceram frágeis diante da opção dos arranjos adocicados. No único bis, deixando o violão de lado e ostentando uma guitarra Les Paul preta, jogou “Tempos modernos” numa versão roqueira. Aí, sim, mesmo se repetindo, fugiu do padrão sucesso garantido. Aproximou-se das performances que fez no Albano Franco, em 1995, e no Festival América do Sul, em 2006 – nestes lugares, longe das amarras atuais, mostrou porque é o rei do pop nacional.
Por sorte, sabe-se que, passada a temporada para ganhar uns trocos, Lulu volta tinindo como sempre fez, apostando no que tem de melhor: a busca de novos caminhos artísticos. A abertura do show foi feita pela banda campo-grandense Mandioca Loca, que buscou atenção com a mistura de rock e música regional. Nem sempre obteve êxito no intento.