A edição da revista Caras que chega hoje às bancas é publicada com tarjas pretas nas páginas em que relata o caso da modelo e atriz Cibele Dorsa, que morreu no sábado, aos 36 anos, após se atirar da janela do prédio onde morava, em São Paulo.
As tarjas pretas foram a forma que a editora encontrou para cumprir às pressas uma ordem judicial recebida por volta das 21h30 de anteontem, quando parte da revista já estava na gráfica, proibindo a menção do nome do cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, de 38 anos, em carta que a atriz teria enviado à editora antes de morrer.
O documento seria publicado na íntegra. Na carta, entre outras declarações, a atriz criticava Doda, seu ex-companheiro e pai de sua filha Viviane, de 8 anos. A menina e o outro filho de Cibele, Fernando, de 13, moram com Doda na Bélgica.
"Fomos pegos de surpresa, no fechamento da revista, quando recebemos a carta da juíza nos proibindo de citar o nome do cavaleiro. Por conta do horário, só tivemos tempo de cobrir o nome e o rosto dele com tarjas pretas", diz Luís Fernando Cyrillo Maluf, diretor corporativo da revista.
Para Maluf, a ordem judicial é uma forma de censura prévia. "O engraçado é que todos os outros sites publicaram a carta na íntegra. Por que só a Caras foi prejudicada?" Maluf disse que foi a primeira vez que a Caras recebeu uma decisão judicial nesse sentido. Segundo ele, parte da edição que já estava impressa foi perdida. Agora a editora vai calcular o prejuízo de entregar para o leitor uma matéria incompleta. "Vamos entrar com todos os recursos cabíveis", afirmou.
Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), concorda que houve censura. "A associação não entra no mérito do caso em si. Não importa quais são as razões que levaram à proibição. Mas o que a Justiça fez foi censura. Não se pode determinar previamente o que um veículo pode ou não publicar", afirmou.
A mesma opinião é compartilhada por Roberto Muylaert, presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner). "Ordem judicial não pode estabelecer nenhuma restrição. A liberdade de imprensa é garantida pela Constituição, independentemente do que seja. Os jornalistas e a editora são responsáveis por aquilo que publicam e devem arcar com eventuais consequências", diz Muylaert.
Antônio Carlos Mendes, advogado da família de Doda, diz que a ação judicial foi fundamentada no direito de família para proteger a imagem dos filhos de Cibele, e não a de Doda. "Não é questão de censura. Mas é um absurdo a revista se aproveitar de uma situação dessas. Como uma pessoa que vai tirar a própria vida pode estar em estado normal para deixar uma carta?"
Mendes também disse que Doda pagou um serviço de home care que mantinha duas enfermeiras com Cibele 24 horas por dia. E afirmou que Cibele assinou há menos de 15 dias a renovação de autorização para que os filhos continuassem por mais dois anos na Europa.