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Reminiscências VI

Reminiscências VI

Redação

21/05/2010 - 08h31
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Ponta Porã. Banco do Brasil. 1961 a 1968.
A nossa turma do BB, naquele período criou a AABB, Associação Atlética Banco do Brasil de Ponta Porã. O primeiro presidente foi o Douglas de Jesus Mamoré, meu padrinho de crisma, que se revelou desde cedo um grande líder e funcionário exemplar.

Eu fui o segundo presidente. Na minha gestão, alugamos uma casa de madeira que ficava em diagonal com a agência do banco e que a adaptamos para fazer um salão de baile. A casa era de propriedade da família do Sr. Jorge Santos Pereira. Na inauguração fizemos um baile. Era uma noite muito fria, típica da fronteira, no mês de junho. Os homens todos de pala; as mulheres com grandes casacos. Lá pelas tantas, fui chamado para ir à portaria, pois estava armada uma grande confusão. O Carlos Alberto Derzi, filho do sr. Salim Derzi, sobrinho do então deputado Rachid Saldanha Derzi (depois senador), queria entrar e teve impedido o seu intento pelo nosso colega Vanderlei Bambil Espíndola, que só andava armado. Entra, não entra, fui chamado.  De imediato consegui afastar o Dilei (apelido do Vanderlei), argumentado que não poderíamos macular a nossa inauguração com uma briga que se prenunciava homérica – o Carlos Alberto também era valentão. Após afastar o Dilei, comecei a conversar com o Carlos Alberto defendendo o nosso propósito de que a AABB não seria só dos funcionários do banco, mas da sociedade da fronteira. Após mais um pouco de conversa consegui acalmá-lo, convidando-o a entrar. Estava resolvida a primeira bronca.

O banco ficava na esquina da avenida Brasil com a rua 7 de Setembro. Do lado da av. Brasil, havia um bar de propriedade do Sr. Rufo Fernandes. Baixo, gordo, brabo, valente. Na gaveta do balcão guardava o seu revólver. Tinha língua presa. Os colegas gostavam de brincar com ele, que aceitava isso. Só não aceitava ser imitado. O nosso colega Dilei, acima mencionado, foi provocá-lo uma vez, imitando-o quando dizia: “Esses funcionários do banco são todos uns bobos. Pedem água mineral e não sabem que tudo é água de poço (esse poço dito com a língua presa soava possso)”. Ao perceber que estava sendo imitado, o seu Rufo abriu a gaveta do balcão e perguntou ao Dilei: “Parece que o senhor está me imitando?” E este, mais que depressa: “Não senhor, seu Rufo e já não quero mais nenhuma água”, voltando imediatamente para o banco. Nunca mais ninguém brincou com o seu Rufo.
Quando Marluce Manvailler, residente em Ponta Porã, foi eleita em segundo lugar miss Brasil,  ganhou o direito de representar o nosso país em Londres, no concurso de miss Mundo – onde foi eleita, em 1966 – foi um acontecimento para nossa cidade. Ao voltar da Inglaterra, teve direito a uma recepção de rainha, sendo recebida pelo prefeito no aeroporto e desfilou em carro aberto pelas principais ruas da cidade, após o que foi homenageada em nossa AABB. Eu, presidente, tive que saudá-la. Foi o meu primeiro discurso público. Vencido o nervosismo inicial, consegui cumprir o script. Depois ela casou-se com o advogado Gazi Esgaib.

A minha sogra, dona Armanda, preparava pastéis e alguns salgados, e também suco de laranja que a sua ajudante, Maria Ângela, paraguaia, levava na hora do recreio no banco, para o lanche dos colegas. Um destes, Dairo Barbosa da Cruz o Pitoco, cujo apelido já diz tudo, perguntou-lhe uma vez: “O que é isso no suco?” E ela, paraguaia, disse “És semilla”, ou seja, semente, da laranja. Pronto. Ganhou o apelido que ficou para sempre: Semilla. Que ela aceitou com bom humor.

Uma noite, regressávamos de uma festa em Pedro Juan Caballero, no Club Amambay, eu e meu primo Pápi Rodrigues, na sua Kombi, quando alguns amigos pediram carona e se acomodaram nos bancos traseiros. Quando passávamos por algumas moças que voltavam a pé, um dos caroneiros dirigiu-se a elas de maneira indelicada. Isso  me levou a repreendê-lo de forma agressiva, provocando uma reação imediata, e este, Sidney Almirão, de família tradicional de gente valente, abriu a porta da Kombi em andamento e saltou para fora, acompanhado pelos seus amigos. O meu primo disse: “Você não devia ter falado assim”. Mas já estava feito. A palavra depois de proferida não volta atrás. Como estávamos num fim de noite, passamos no bar Cinelândia, onde os jovens se reuniam. Daí a pouco, chegou o Sidney com a cara amarrada, sentando-se com os seus colegas numa mesa perto da nossa. Sentindo o clima, resolvi agir. Fui até a sua mesa e o chamei para conversarmos lá  fora. Saí à frente e ele me seguiu com as duas mãos dentro dos bolsos da calça: no bolso direito aparecia o cabo do seu revólver e no esquerdo ele chacoalhava a mão mostrando que estava cheio de balas. Os meus joelhos tremiam, fazendo um barulho que me parecia ensurdecedor. Para evitar que ele percebesse isso, comecei a conversar logo, dizendo que eu havia errado e não me competia falar com ele naqueles termos, e pedi desculpas. Ele ficou me olhando. Os joelhos batendo. Depois de um tempo, ele me disse: “Está bem”. Ufa. Foi um dos grandes alívios da minha vida. Fomos tomar cerveja juntos e acabamos a noite fazendo serenata.
Em agosto de 1968, saí do banco, iniciando um novo ciclo em minha vida.

Heitor Freire, Corretor de imóveis e advogado

Segurança

Agendamento online para passaportes está indisponível temporariamente

Polícia Federal detecta tentativa de invasão do ambiente de rede

18/04/2024 20h00

Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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A Polícia Federal (PF) informou, nesta quinta-feira (18), em Brasília, que está temporariamente indisponível o serviço de agendamento de emissão de passaportes pela internet. A decisão foi tomada após a instituição detectar, no início desta semana, tentativa de invasão ao ambiente de rede da PF.

O serviço de agendamento será retomado após a verificação de integridade dos sistemas, porém, ainda não há previsão de quando isso ocorrerá. A nota da PF diz que o governo trabalha para restabelecer o serviço online.

Para os atendimentos marcados previamente em uma unidade emissora do documento de viagem, a instituição garante que serão realizados normalmente na data e horário marcados, quando o solicitante deverá apresentar a documentação original necessária e o atendente público fará a conferência das informações cadastradas, além de coletar dados biométricos (impressões digitais e fotografia facial).

A Polícia Federal recomenda aos cidadãos que não tiverem viagem ao exterior programada para os próximos 30 dias que aguardem a normalização do serviço.

Os brasileiros que irão para o exterior nos próximos dias e, comprovadamente, necessitarem da emissão de passaporte comum podem enviar a documentação que prove a urgência para o e-mail da unidade da Polícia Federal mais próxima. Os contatos das superintendências estaduais da PF e das delegacias onde são emitidos passaportes estão disponíveis no link.

Agendamento regular
Habitualmente, quando o serviço virtual de agendamento para emissão de passaportes está operando, o cidadão interessado preenche o formulário eletrônico na internet, escolhe uma das datas e horários disponíveis e, por fim, marca o posto de atendimento da PF onde deseja ser atendido.

O cidadão não deve ir diretamente a uma delegacia da Polícia Federal sem fazer o agendamento prévio para passar pelos procedimentos de emissão do documento.

A entrega do passaporte ocorrerá na mesma unidade apontada no primeiro agendamento online do serviço e não poderá ser modificada.

Após o atendimento presencial, a retirada do documento poderá ser feita entre seis e dez dias úteis até 90 dias corridos. Depois desse prazo máximo, o documento será cancelado, com total prejuízo da taxa paga.

O custo comum para emissão de um passaporte é R$ 257,25. Se houver urgência, serão somados R$ 77,17, como taxa adicional de emergência, gerada durante o atendimento. Total: R$ 334,42

Contudo, se a remissão for de um passaporte ainda válido que tenha sido extraviado ou perdido, o valor cobrado na taxa comum dobra: R$ 514,50 ao todo para desembolso.

Briga interna

PCC vive maior racha em 20 anos, e Marcola tem poder testado pela 1ª vez

Advogado de rivais de líder da facção confirma desavença, mas nega surgimento de um novo grupo criminoso

18/04/2024 19h00

Marcelo Victor/ Correio do Estado

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A rebelião de três supostos integrantes do alto comando do PCC (Primeiro Comando da Capital) contra o chefe máximo do grupo marca uma das mais maiores crises vividas pela facção nos últimos 20 anos e testa pela primeira vez o poder de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Integrantes de órgãos de inteligência do governo paulista, delegados das polícias Civil e Federal e advogados ouvidos pela reportagem confirmaram a existência do racha entre membros da chamada "Sintonia Final" e apontam para mudanças que já começaram a ser percebidas em alguns pontos da capital.

As primeiras informações sobre o racha no PCC surgiram em fevereiro, quando os serviços de inteligência interceptaram uma mensagem atribuída a membros da ala mais radical da facção. Nela, Camacho estava sendo excluído do PCC e tinha a sua morte decretada por supostamente ter delatado colegas.

Marcola sempre negou ser chefe ou integrante do PCC, mas os investigadores afirmam o contrário. Procurada, a defesa de Marcola não quis comentar o assunto.

Na liderança dos rebelados está Roberto Soriano, o Tiriça, apontado pela polícia como um dos mais temidos integrantes da cúpula do PCC, seguido por Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, todos presos no sistema federal.
Dias depois, porém, um novo "salve", em resposta à primeira mensagem, foi interceptado pelos órgãos de inteligência. Nele, a cúpula do PCC trazia à tona a rebelião do trio, classificada como calúnia e traição, e dizia que a atitude havia custado a expulsão dos rebelados, além da decretação da morte de todos.

O motivo da discórdia teria sido uma conversa entre Marcola e um funcionário da Penitenciária Federal de Porto Velho, quando o primeiro passava por atendimento de médico, em julho de 2022. O preso teria dito que Soriano seria um psicopata e insinuado que agia contra agentes.

A conversa foi usada pelo Ministério Público contra Soriano, que acabou condenado a 31 anos pela morte de uma psicóloga da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), em 2017. Irritado com a situação, o preso condenado teria convencido os colegas de que Camacho cometera um erro imperdoável.

Na resposta interceptada, os criminosos afirmam que analisaram o teor da conversa e "fica claro que não existe nenhuma delação por parte do irmão [Marcola] e sim um papo reto de criminoso com a polícia".

"A Promotoria pegou esse áudio e criou um cenário falando o que bem entendia. Todos sabemos que promotores vão sempre criar um cenário favorável a eles", diz trecho da mensagem que informa que a gravação estava disponível a todos que quisessem acessá-la para tirar as próprias conclusões.

A rapidez da resposta gerou dúvidas nos órgãos de inteligência. Pensou-se, em um primeiro momento, tratar-se de um trabalho de contrainformação de membros PCC, com o intuito de tirar a atenção de um suposto plano de resgate em curso. A dúvida foi descartada com o decorrer dos dias.

Os serviços de inteligência apontam que apenas a segunda mensagem foi compartilhada pelos chamados "sintonias de rua", o que indica que os criminosos tomaram o lado de Marcola na guerra. Entre eles estariam as lideranças das principais favelas, como Paraisópolis e Heliópolis, redutos da facção.

Um sinal disso foi o fato de que pontos de venda de drogas que pertenciam ao grupo rebelado que foram tomadas e repassadas para criminosos ligados ao chefe do PCC. Em uma dessas biqueiras, na região do Sacomã, zona sul da capital, vizinhos das biqueiras afirmam que todos os gerentes ligados a Tiriça foram trocados.
Até mesmo um time de futebol ligado a esse criminoso teria sido desativado por conta do decreto.

No sistema prisional paulista, conforme funcionários ouvidos, até agora não houve nenhuma grande alteração. Os presos estariam em "compasso de espera", aguardando os desdobramentos fora do presídio.

Delegados da PF ouvidos pela Folha afirmam que Marcola, de fato, ainda possui um grande prestígio entre a massa carcerária e possui fortes aliados. Avaliam, porém, que essa guerra interna possa enfraquecer consideravelmente a liderança do criminoso, no poder há cerca de 20 anos.

Procurado pela reportagem, o advogado Rogério Santos, defensor de Roberto Soriano e Abel Pacheco de Andrade, confirmou a existência do racha. Ele afirma, entretanto, desconhecer os motivos que levaram ao rompimento e quem tomou tal decisão.
"Ele [Abel] apenas disse o seguinte: o Marcola foi afastado do PCC. Isso ele me disse, mas não me disse que tinha sido decretado, até porque eu sou advogado, eu não estou ali pra levar e trazer recado de preso", afirmou.

Ainda conforme Santos, embora tenha havido de fato um racha, os clientes negam peremptoriamente qualquer iniciativa ou conversa para criação de nova facção, o PCP (Primeiro Comando Puro), muito menos de eventual ligação desta com o CV (Comando Vermelho), inimigo do PCC.

O advogado afirma que tal notícia, sustentada até por promotores de Justiça, tem como o objetivo fomentar ainda mais a desavença entre os chefes da facção, o que pode colocar em risco até mesmo a vida dos familiares dos envolvidos.

Integrantes de órgão de inteligência ouvidos pela reportagem também descartam a possibilidade de união de membros do PCC e do CV, porque nenhum dos lados aceitaria eventuais traidores. Essas pessoas acreditam que são informações plantadas para tornar o racha do PCC em uma guerra sangrenta, o que ainda não começou.

A última grande disputa sangrenta entre chefes do Primeiro Comando ocorreu no final de 2002 quando Marcola entrou em rota de colisão com César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião, os dois principais chefes até então. Os colegas ficaram do lado de Camacho na briga interna: Cesinha, Geleião e as mulheres de ambos foram sentenciados à morte pela facção e por anos o PCC tentou matá-los.

Cesinha foi assassinado, e Geleião morreu de Covid.

Na ocasião, a advogada Ana Maria Olivatto, 45, ex-mulher de Camacho, foi assassinada a tiros em Guarulhos. A principal suspeita de mando do crime era Aurinete Carlos Félix da Silva, a Netinha, mulher de Cesinha.

Segundo a polícia, foi esse episódio que colocou Marcola no topo de organização e que mudou os rumos da facção criminosa. O grupo colocou o caráter assistencial que tinha em segundo plano para se tornar uma espécie empresa voltada ao tráfico internacional de drogas. Caso Camacho seja destituído do comando, apontam os policiais, o PCC tende a mudar de perfil e se tornar um grupo muito mais violento.
 

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