Em algumas oportunidades, convidado,
participei da administração pública
estadual, que muito enriqueceram meu
aprendizado profissional, onde aprendi,
por exemplo, que o administrador público,
só pode fazer o que a lei determina; e
o administrador privado, tudo o que a lei
não proíbe. Dessa forma pude apreender
também o que significa “fé pública”, que é
um dos apanágios que distinguem o agente
público.
Dessa experiência, relato cinco episódios:
No primeiro governo do dr. Marcelo
Miranda, que logo após tomar posse criou
várias secretarias de Estado – pois a administração
do dr. Harry Amorim Costa,
a quem sucedeu, tinha uma estrutura bem
enxuta –, entre estas, a de Comunicação
Social que tinha como titular, Aluizio
Lessa Coelho, com quem eu trabalhava na
Financial Imobiliária e me convidou para
ser seu chefe de gabinete. Foi a minha primeira
experiência pública.
Dentre as minhas funções estava a de
administrar o relacionamento com os órgãos
de imprensa da Capital e do interior,
excluindo os grandes grupos empresariais.
O diretor de um veículo, constantemente
me convidava para visitá-lo em seu escritório
e eu sempre me esquivava por falta de
tempo e por entender que o correto seria
atendê-lo em meu gabinete. Mas tanto insistiu
que um dia marcamos e lá fui eu.
Mostrou-me as instalações, maquinários,
etc. Ao final convidou-me para conhecer
a sua sala. Entramos. Fechou a porta. E
aí veio com uma conversa mole, dizendo
que sabia que eu tinha muitas filhas, que
o salário que recebia era insuficiente e que
ele gostaria muito de me ajudar. Ato contínuo
abriu uma gaveta e começou a tirar
maços de dinheiro, que colocou em cima
da mesa e empurrou na minha direção. E
eu olhando para ele. Quando tirou tudo,
disse que aquilo era para mim. E que era só
o começo. Olhei-o bem firme e falei: ”Eu
entendo o que você está querendo fazer e
sei que é assim que a maioria age, mas, não
aceito”. E disse mais: “Este episódio não vai
alterar o seu atendimento nem o direito a
que o seu veículo tem”. Despedi-me e saí.
Quando o Aluizio solicitou demissão,
saí junto com ele.
O segundo, já no governo do dr. Pedro
Pedrossian, sucessor de Marcelo Miranda:
fui contratado, por indicação do Aluizio,
como advogado da Enersul e colocado à
disposição do governo, lotado numa assessoria
da Cohab, sob a presidência do dr.
Edson Brito Garcia. Minha incumbência
era de criar o Pro-Sindi, um programa habitacional
para atender aos motoristas de
táxi sindicalizados. Essa era um categoria
profissional que merecia do dr. Pedro uma
atenção muito especial.
Entrei em contato com o sindicato, que
sempre foi muito atuante, com uma participação
política importante e consciente.
Organizamos um cadastro dos associados
e procuramos o dr. Edson, para receber as
instruções sobre como seria feita a seleção
dos motoristas cadastrados, a distribuição
das casas e quando os recursos para a
construção estariam alocados para o início
das obras. Aí a coisa começou a empacar.
Não atava nem desatava. Ao perceber que
aquilo não era para funcionar – na minha
avaliação –, falei novamente com o dr. Edson,
que me disse: “Heitor, fique por aí, isso
costuma demorar um pouco. Quando sair
o financiamento, trataremos do assunto e
aproveitaremos o trabalho que já foi feito”.
E o tempo foi passando. Então falei com
o Aluizio, que também me disse que era
assim mesmo e que eu deveria esperar, afinal,
estava sendo remunerado. Eu sempre
fui contra ganhar sem trabalhar, não me
sentia bem como “fantasma”. Tomei uma
decisão: enviei uma carta ao presidente
da Enersul, sem falar com ninguém, solicitando
demissão, pois na realidade eu
era funcionário dessa empresa. Quando
foi concretizada a demissão, através de sua
tramitação normal, avisei ao Aluizio, que
ficou muito agastado comigo e se dirigiu
ao sr. Ariel Fernandes, chefe de gabinete
do Paulo Fagundes, presidente da Enersul,:
“Como vocês demitiram um homem da minha
equipe?”, ao que o sr. Ariel respondeu:
“Ele não foi demitido, pediu demissão e a
mim não cabia e não cabe fazer nada, a
não ser acatar a decisão dele”.
Este foi o segundo episódio. Os demais
narrarei no próximo artigo.