Não se pode recordar pessoas marcantes de nossa Campo Grande, sem lembrar, de modo destacado, o homem que foi Plínio Barbosa Martins, de quem me orgulho muito ter sido seu amigo. Conheci Plínio ainda no começo do curso ginasial, portanto ainda na sua juventude. Sempre alegre, espirituoso e de invulgar inteligência. Logo após, ele foi para São Paulo onde se formaria em direito e eu associado a meu pai, assumi os negócios de nossa firma, havendo, consequentemente um afastamento natural. Fui reencontrá-lo no final dos anos quarenta, casualmente, na Avenida Ipiranga encontro que foi uma festa. Fomos juntos ao cinema e depois convidei-o para jantar comigo, no restaurante do City Hotel, então considerado de alto luxo. Depois de atualizar nosso papo, demos por encerrado aquele encontro, não sem antes relembramos os velhos tempos
Outro grande hiato, esse de alguns anos, para revê-lo, já como advogado militante e constituí-lo meu representante numa legalização de uma gleba que adquiri então. Ele nada me cobrou "é por conta daquele belo jantar no City", dizia-me com o cavalheirismo que lhe era peculiar. Sempre foi assim a nossa relação, que embora distante, nunca arrefecia a mútua admiração e crescente amizade.
Com o passar do tempo Plínio foi se firmando nas lides forenses, como destacado profissional e aumentando o seu já grande circulo de amizade. Era então reconhecido publicamente, o homem e profissional que eu vinha há tanto tempo admirando. Plínio casou-se com Ruth Martins, filha do doutor Vespasiano Martins e também sua prima, constituindo uma admirável família. Pouco tempo depois, foi chamado a militar na política, se destacando também ali e tornando-se então prefeito de nossa Campo Grande. Caracterizou-se sua administração sobretudo pela sobriedade e honestidade. Terminado seu mandato, aconteceu exatamente o contrário do que vemos com tanto constância hoje em dia, Plínio saiu mais pobre do que quando entrou, pois o salário que recebia era pequeno para suas despesas. Vou lhes contar um fato sobre o cuidado que tinha com a coisa pública. Certa vez, tendo que ir ao Rio por interesse público, foi guiando uma caminhonete da prefeitura, que teve pequeno acidente no Rio, cujo concerto ele pagou do próprio bolso "porque a prefeitura não é culpada de minhas barbeiragens", dizia-me quando o censurei.
Eu conto esse fato, que parece insignificante, mas que traduz com muita clareza, a honestidade que lhe era inerente, por essa e outras é que saiu da prefeitura mais pobre (ou menos rico) do que quando lá entrou. Essas considerações são feitas em função do que vemos hoje em dia, quando ser honesto é uma virtude cada vez mais rara, e, na verdade honestidade nem chega a ser virtude, honestidade é obrigação, sobretudo de quem lida com a coisa pública.
Foi uma perda terrível o desaparecimento prematuro do Plínio, mas ele deixou com seu exemplo de vida uma imorredoura lição aos pósteros.