Estamos vivendo no epicentro de uma grande crise de valores. Roubar e mentir já não são tão feios assim. Recentemente, assistimos perplexos, a alguns políticos escondendo vultosa quantia de dinheiro em bolsas, meias e cuecas. Filmadas, para quem quisesse ver, as cenas passadas e repassadas na televisão invadiram nossas casas, atingindo diretamente nossas crianças e nossos jovens. Já passados alguns meses, ninguém foi posto atrás das grades. Ué! Mas lugar de ladrão não é na cadeia?! E nós, bobos da corte, continuamos vivendo como se nada tivesse acontecido. Até quando vamos acreditar que não existe jogo do bicho, debaixo do nosso nariz, e com ele o enriquecimento ilícito? Que o nosso conhecido, que ganha um salário igual ou menor que o nosso, pode ter um carrão e morar em uma casa maravilhosa, ostentando orgulhosamente a sua esperteza? Que para se dar bem, nesse País, não é preciso estudar e ser inteligente, mas primordialmente – ESPERTO?! Muito das causas que afligem a humanidade hoje está na negação dos principais valores, como: honestidade, verdade, justiça, ética, disciplina, integridade. A vivência desses valores alicerça o caráter e reflete-se na conduta como uma conquista espiritual da personalidade. Por tudo isso, temos que insistir e exigir uma educação de qualidade. Atualmente estamos vivendo num sistema econômico baseado no conhecimento, em que a inovação passa a ser um fator de competitividade nas empresas. E inovação é própria do ser humano, não adianta os empresários investirem nas melhores e mais modernas máquinas, sem investir no seu funcionário e ou trabalhador. As grandes empresas e as mais modernas já entenderam isso. Por um motivo bem simples, porque é ele (que põe a mão na massa) que pode ou não realizar o que a empresa propõe. O motor do carro mais moderno não é feito pelos engravatados das diretorias. De modo que considero oportuno falar um pouco sobre o lugar e o valor de cada um – trabalhador e gestor. E no meu caso, logicamente, sobre meus colegas de profissão – os professores. Em outubro do ano passado foi apresentado, em São Paulo, o resultado de um pesquisa feita por Mona Mourshed, Ph.D do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que teve como objetivo saber como os melhores sistemas educacionais do mundo chegaram ao topo. Este trabalho radiografou as práticas de 20 sistemas de reconhecido sucesso e constatou que a aprendizagem só foi reforçada quando os governos implantaram políticas eficientes para valorizar o professor. Acredita-se que a qualidade de um sistema educacional não pode ser maior que a qualidade de seus professores, isto é, o professor não é o único, mas é o principal responsável pelo sucesso da aprendizagem. Seu conhecimento e sua atuação em sala de aula (seu território) são os fatores mais decisivos para o desempenho da turma, ultrapassando em importância o material didático e as metodologias de ensino. Não por acaso, escolher bons profissionais é uma das políticas mais disseminadas entre os países de alto desempenho. Na Coreia do Sul, a receita para seduzir os melhores professores foi uma combinação de salário inicial atraente, o equivalente a 4 mil reais mensais, a possibilidade de aprimoramento profissional e a chance de trabalhar numa carreira valorizada socialmente – coisas distantes da nossa realidade. Em Taiwan, formaram seu quadro docente com algumas das melhores cabeças do país. Ali, um professor ganha tanto quanto um engenheiro – o que, por si só, já atrai os alunos mais talentosos para a docência. Não sei se é teimosia, falta de estudo ou de discernimento, mas o Brasil continua com a ideia equivocada de que o que vai melhorar a qualidade na educação são prédios novos, livros didáticos, materiais pedagógicos, programas, equipamentos (computadores) e gestão. Basta ver que o salário médio do docente do ensino fundamental em início de carreira no Brasil é o terceiro mais baixo do mundo, no universo de 38 países desenvolvidos e em desenvolvimento, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Neste estudo, apenas Peru e Indonésia pagam salários menores do que o Brasil. O salário anual médio de um professor na Indonésia é US$ 1.624. No Peru, US$ 4.752. No Brasil é de US$ 4.818, metade do encontrado nos vizinhos Uruguai (US$ 9.842) e Argentina (US$ 9.857) e muito abaixo da média dos países desenvolvidos, onde o maior salário nesse nível de ensino foi encontrado na Suíça (US$ 33.209). Enquanto isso, aqui em MS, no final do ano, assistiu-se a mais uma desastrada ação governamental! Após reunião com mais de 500 diretores de escolas, no Yotedy, o Governo do Estado anunciou o aumento salarial, para 2010, de 9,73% para os professores da rede pública estadual, enquanto as gratificações para os diretores, diretores adjuntos e secretários das escolas tiveram ajuste de 15% e 30%. A explicação, absolutamente equivocada, dada na TV pelos gestores desse processo, foi que essa diferença de percentual se deve ao fato de que a educação é feita (acontece) na gestão. Não sei, não mas estou, de novo, com a sensação de que, em nosso Estado, continuamos seguindo na contramão da história.