A superprodução de soja deve compensar as perdas dos produtores de Mato Grosso do Sul, que viram os preços do grão cair 26% em um ano, ficando abaixo dos R$ 30 por saca. Aproximadamente um quarto da safra 2009/10 foi colhida no Estado. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o resultado deve ser 18% superior ao da safra passada, totalizando 4,9 milhões de toneladas nos armazéns do Estado. “Teremos mais soja no mercado, e isso vai compensar os preços baixos”, espera o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja), Almir Dalpasquale. Em Maracaju, líder estadual na produção da oleaginosa, 60% dos grãos ainda estão no pé. “A produção vai ser um fator compensador. Quem não teve custo alto para produzir vai ter lucro”, avalia o presidente do sindicato rural da cidade, Luciano Muzzi Mendes. A mesma produção que deve lotar os galpões – se o clima favorecer com chuvas dentro do esperado – será responsável pela queda nos preços negociados na bolsa de valores de Chicago (EUA). O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos prevê oferta de 255 milhões de toneladas de soja no mundo, 21% a mais do que na temporada passada. A colheita norteamericana deve ultrapassar os 90 milhões de toneladas, seguida da brasileira (66 milhões de toneladas), argentina (53 milhões de toneladas) e chinesa (14,5 milhões de toneladas). As informações são da Scot Consultoria, de São Paulo. O mercado assistiu ao aumento na produção e seguiu as regras do jogo: quanto maior a oferta disponível, menor o preço. No último dia 19, a saca de 60 quilos de soja foi negociada a R$ 35,70 – valor próximo da cotação de agosto de 2007, de acordo com o Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada. Se comparada com fevereiro de 2009, quando a saca custava R$ 45,12, a retração é de 26%. “A gente não acreditava que essas estimativas [de superprodução] se concretizariam. Sempre se falava em crescimento na produção, mas problemas climáticos, por exemplo, impediam isso. Agora é diferente”, conta Mendes, de Maracaju. Por lá, a colheita passará dos 7,5 milhões de sacas registradas na safra passada para 9,9 milhões de sacas neste ano. A produtividade saltou de 42 sacas por hectare para 55 sacas por hectare. A colheita deve terminar no fim de março. Desta vez, os produtores vão sentir menos os impactos da desvalorização do real frente ao dólar. “Quando começamos a plantar, o dólar já estava baixo, neste patamar, não vai ter diferença agora, na hora de vender”, conclui Mendes. Segundo ele, a maioria dos sojicultores locais não optou pelo mercado futuro – venda antecipada de mercadorias na bolsa de valores – e terão de satisfazer-se com os preços atuais.