Apreensões de drogas em Mato Grosso do Sul, de tão comuns que são, somente viram notícia em casos excepcionais, quando os traficantes descobrem uma nova tática de driblar a polícia, o volume é muito grande, alguma "mula" morre por overdose ou se algum europeu "acima de qualquer suspeita" é flagrado. A descoberta do último sábado, de 725,8 quilos de cocaína pura, merece destaque, em tese, por conta do volume, o maior já descoberto de uma única vez no Estado. Para efeito de comparação, montante semelhante foi apreendido há 15 anos, quando a Polícia Federal apreendeu 671 quilos em meio a sacas de café que tinham a Turquia e os EUA como destino. E, para deixar claro que esta realmente foi uma descoberta inusitada, a terceira maior apreensão no Estado foi de 449 quilos e em quarto lugar está uma de 301.
Normalmente, os narcotraficantes preferem transportar pequenas quantidades para evitar grandes prejuízos, já que os 725 quilos poderiam render em torno de 20 milhões de dólares na Europa, onde a cocaína de "boa qualidade" custa em torno de 30 mil dólares o quilo. Então, se os criminosos tiveram a ousadia de colocar tamanha fortuna num único caminhão é sinal de que tinham certeza de que o produto chegaria a seu destino e que em nenhuma barreira ao longo dos mais de mil quilômetros de estradas até chegar aos grandes centros consumidores ou a algum porto o entorpecente seria descoberto. Ao que tudo indica, então, policiais "desavisados" resolveram trabalhar e atrapalharam um muito bem organizado esquema de bandidos do mais alto calibre. A apreensão, casual, dá a entender que inúmeros outros despachos, possivelmente do mesmo porte, já saíram do mesmo local de onde a carga de sábado saiu e polícia alguma tinha conhecimento, ou fizera vistas grossas. Estranhamente, porém, a mais importante testemunha, ou talvez a única, conseguiu escapar.
Exatamente por ter sido surpreendida por esta descoberta é que aumenta a obrigação da bem paga Polícia Federal, que anda acabrunhada como há muito não se via, de esclarecer este caso e capturar seus mentores. Caso contrário (a não ser que as informações sobre a apreensão e a fuga do motorista estejam contadas pela metade), ficará comprovado que o tráfico de armas e drogas anda absolutamente solto no Estado. A descoberta recente e casual de sete "vistosos" fuzis, na BR-262, também feita pela PRF, reforça esta tese. No final de março, quatro bolivianos foram presos na Capital tentando embarcar com US$ 400 mil rumo à Bolívia. Sabe-se que eles já haviam feito embarque parecido em outras onze oportunidades. Sempre passaram sem problema algum pelos equipamentos de segurança e pelos agentes da PF, que deveriam estar vigiando. Depois da prisão, praticamente nada de novo foi descoberto pela investigação. Quatro "mulas" de dólares estão presas e absolutamente nada se sabe sobre os "barões" deste esquema. Ao que tudo indica, aquelas prisões também foram fruto do acaso. Caso contrário, alguém "maior" teria sido capturado. E, se nem mesmo estes casos "grandes" são esclarecidos, que dirá os "pequenos".