O modo como alguém nos trata depende de algumas variáveis. Uma delas é o caráter do sujeito, se tem dentro de si humanidade, limites, inteligência, informações e, outra, é a concepção e sentimentos que possua sobre nós. Na presente quadra, leitor, são profundamente deprimentes as noções que somos obrigados a concluir sobre o caráter do atual Presidente da República e, também, sobre o que o Presidente parece pensar sobre nós. O desfilar de palavras e atitudes irresponsáveis, incompatíveis com a dignidade do cargo maior de um Estado Democrático de uma grande Nação, de há muito nos fazem passar vergonha. Em alguns momentos poderíamos dar um desconto, dado a sabida limitação cultural do Presidente. Mas há coisas que não dependem de cultura, mas de respeito e ninguém pode dizer que o respeito devido ao outro dependa de nível de escolaridade.
As atitudes e palavras presidenciais desfilam nessa Marquês de Sapucaí em que se transformou a Nação, ora através de um “nada vi” naquela vergonha do Mensalão do PT, ora em tolices tais como “há muita democracia na Venezuela”, visando dar cobertura à marcha chavista para liquidação da democracia naquele país. Mais recentemente, o Mensalão que não houve, “foi um golpe contra o governo popular”, dado pela direita e a imprensa. A campanha descarada e inoportuna para a promoção de sua candidata é a azeitona dessa empadinha indigesta. E o AI-5 do PT, o Decreto do PNDH-3 assinado sem ler ? Mais ainda, leitor, a pérola entre as pérolas presidenciais, vimos os deboches e ridicularizações de Lula, ao ser multado pela Justiça eleitoral, por sua propaganda eleitoral extemporânea e ilegal. Aqui sim caberia a expressão “nunca antes nesse país” se viu um Presidente tentar, explicitamente desmoralizar a mais alta corte de nosso Judiciário.
Fato é que se torna cada vez mais evidente a falta de respeito que a Nação merece de quem quer que seja, inclusive das mais altas autoridades. Não somos imbecis, não nascemos ontem, temos memória, liberdade de imprensa que a alguns muito incomoda. Nossas instituições republicanas estão sendo construídas e merecem nosso esforço para solidificá-las. Não é a primeira vez que, do mais alto cargo, se tenta a desmoralização da República, os nomes de Jango e Collor não nos deixam esquecer. Creio que sobreviveremos ao “festival de besteiras que assola ao país”, mas, entretanto, como o besteirol vem crescendo e não há ninguém para dizer “por que não te calas Magda?”, não sei se a incontinência verbal do Presidente não possa nos levar a uma crise institucional mais séria e intransponível. Sim, pois a escalada de onipotência e atitudes maníacas vem se acelerando e não há como não perguntar: até onde vai?
A tudo isso, leitor, acrescenta-se isto: aqueles com a ideologia totalitária, como os que aqui estão no poder, ao longo da História, nunca entregaram o poder a ninguém após tê-lo conquistado. Aqui, leitor, como nunca na História desse país, estão reunidos ingredientes para uma receita, no mínimo, preocupante.
Valfrido M. Chaves, cidadão envergonhado, [email protected]