Qualquer categoria profissional é avaliada conforme seu poder de barganha, ou de acordo com a oferta e a procura por profissionais de determinada área. Isto faz parte do sistema econômico mundial e, embora questionável, não será modificado do dia para a noite. E, faz parte também do processo histórico que determinadas categorias conquistem reconhecimento (ou remuneração) de acordo com a situação, na medida em que a sociedade necessita mais de seus préstimos. Isto, porém, acontece ao longo de um processo, degrau por degrau. Em Campo Grande, agentes de saúde, porém, estão querendo atropelar etapas e subir a escadaria aos saltos. Em vez de mostrar sua importância, ou poder de barganha, evidenciando que por conta de sua atuação conseguiram evitar nova epidemia de dengue, estão fazendo exatamente o contrário. Em meio à situação caótica aproveitam a oportunidade para colocar as autoridades municipais “contra a parede”, interrompendo os trabalhos para reivindicar reajuste. Em outros termos, estão, explicitamente, fazendo chantagem, ou extorsão. É inegável que estes profissionais, como qualquer trabalhador brasileiro, tenham direito de reivindicar melhorias salariais e reconhecimento profissional. Porém, tudo deve ser feito a seu tempo. Da forma como estão agindo, até mesmo o apoio da população tendem a perder, pois pessoas estão morrendo, hospitais e postos vivem superlotados e até ajuda do Exército já foi buscada. Além disso, o simples fato de as lideranças do movimento terem “grampeado” uma reunião com o prefeito deixa claro a que tipo de extremo estes “sindicalistas” podem chegar para colocar uma autoridade “contra a parede”. Imaginemos que bombeiros e integrantes da defesa civil do Chile, país que acabou de ser sacudido por um catastrófico terremoto, se recusassem a resgatar corpos ou a procurar vítimas sob os escombros caso não obtivessem melhoria salarial. O mundo inteiro certamente repudiaria a manobra. Em Campo Grande, guardadas as devidas proporções, está acontecendo algo parecido. Ontem surgiu na cidade a décima suspeita de morte em decorrência da epidemia de dengue e, por mais falha que tenha sido a atuação destes agentes nos meses que precederam a epidemia, seu trabalho nesta época do ano é de fundamental importância, pois são algumas centenas de pessoas que deveriam estar visitando residências, terrenos baldios e estabelecimentos comerciais para combater o mosquito transmissor da doença. Embora a paralisação certamente não tenha a abrangência propagada por suas lideranças, qualquer baixa neste período crítico é extremamente grave, pois evidencia total falta de preocupação com a saúde dos munícipes, que são os verdadeiros “patrões” desses agentes. Pelo que se sabe, o prefeito assumiu o compromisso de negociar melhor remuneração em maio, período do reajuste anual de todos os servidores. Sabese, também, que todos os compromissos neste sentido assumidos pelo chefe do Executivo foram ou estão sendo cumpridos. Por isso, se houvesse bom senso, as chefias do movimento nem mesmo teriam entrado em greve, pois sua moeda de troca são vidas de contribuintes.