Carlos Henrique Braga
Mato Grosso do Sul reduziu o número de pobres em mais de 40% entre 1995 e 2008, mas precisa acelerar o ritmo se quiser erradicar a pobreza até 2015. A conclusão é de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao governo federal, que coloca MS como oitavo estado com menor número de pessoas nessas situações no Brasil. Outros estados tiveram desempenho superior, e MS caiu no ranking: em 1995, o Estado estava entre os seis onde a presença de pobres extremos (que vivem com até R$ 127,50 por mês) é menor.
Hoje, cerca de 130 mil vivem com até meio salário mínimo por mês no Estado, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE.
Há 15 anos, era pior. A pesquisa “Dimensão, Evolução e Projeção da Pobreza” aponta queda de 45% entre pobres extremos, que recebem até um quarto do salário mínimo por mês; e de 41,6% entre pobres absolutos, com rendimento mensal de até R$ 255, ou meio salário mínimo.
No quesito desigualdade social, medido pelo Índice de Gini, a nota de MS é 0,52. Em 1995, era 0,55. Quanto mais próximo de 1, maior a concentração de renda. O Distrito Federal, líder em desigualdade, tem índice de 0,62.
Para o economista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Ricardo Senna, a ascensão é explicada pela estabilidade econômica conquistada pelo País com o Plano Real, a partir de 1994, que evitou a corrosão dos salários. Com inflação controlada, e economia mais aquecida, o governo pôde dedicar-se a outros temas, como os sociais.
A preocupação traduziu-se em programas de transferências de renda como o “Bolsa Família”, que refletem diretamente no orçamento de milhões de brasileiros.
Por aqui, a indústria ganhou força no início da década e ajudou a diversificar a matriz produtiva, no passado reduzida aos ainda importantes boi e soja. Apesar de não significar salvação — o Ipea não condiciona desenvolvimento social a crescimento econômico — a indústria gerou empregos e impulsionou salários.
Fim da pobreza?
Segundo o Ipea, MS pode erradicar a pobreza extrema até 2015 se mantiver taxa de redução de 1.5 ponto percentual por ano. Para isso, seria preciso acelerar a retirada de pessoas das situações de pobreza. Entre 1995 e 2008, essa taxa foi menor do que 1. “Não acredito que o Estado possa erradicar a pobreza sem um plano estratégico de desenvolvimento”, desacredita o economista.
“Hoje, aproveitamos as oportunidades apenas; cada setor cuida do que é seu, as entidades de classe não têm visão de conjunto”, afirma Senna. Ele não observa continuação dos planos nas transições de governos, nem mesmo metas claras de desenvolvimento. “Precisamos de mais participação popular nesse sentido”, recomenda.