Relatório da Operação
Castelo de Areia, da Polícia
Federal, revela que a empreiteira
Camargo Corrêa supostamente
pagou propinas no
valor de R$ 2,9 milhões ao
PT e ao PMDB, os principais
partidos da base governista.
O dinheiro, no caso do PMDB,
teria sido repassado a aliados
ao presidente do Senado, José
Sarney (AP), e corresponde a
3% de uma parcela de R$ 97
milhões liberada pela União
para obras na eclusa da hidrelétrica
de Tucuruí, no Pará,
conforme informação divulgada
pelo jornal “Folha de
S.Paulo”.
Sarney considerou a denúncia
“uma infâmia” e, por
meio de sua assessoria, disse
que não vai se manifestar. A
Camargo Corrêa, por sua vez,
informou que não comenta
assuntos sub judice, mas
em notas anteriores sobre o
assunto, considera as acusações
“absurdas” e manifesta
confiança nos diretores da
empresa acusados de envolvimento
nas irregularidades. Na
semana passada, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu
a operação depois que
a defesa da empresa questionou
a legalidade das provas.
Conforme a denúncia, manuscritos
apreendidos pela PF
em poder de Pietro Bianchi,
diretor da construtora, indicam
repasses de dinheiro
para o PMDB em nome de
“Astro/Sarney”. A pol ícia
acredita ter decifrado os dois
nomes. O segundo seria Fernando
Sarney, filho do presidente
do Senado e alvo da
Operação Boi Barrica, a qual
o jornal “O Estado de S.Paulo”
está impedido de noticiar por
censura judicial. O primeiro
nome seria uma referência a
Astrogildo Quental, diretorfinanceiro
da Eletrobras e
ex-secretário estadual do Maranhão
no governo Roseana
Sarney. As direções do PT e
do PMDB não responderam à
reportagem.
Os supostos pagamentos
aparecem em documentos
digitalizados que foram apreendidos
com Bianchi, um dos
três diretores da construtora
que são alvo de ações judiciais.
Para o PT, os pagamentos
foram registrados em nome
de Paulo, que a PF ainda
não decifrou exatamente de
quem se trata. A Castelo de
Areia investiga um suposto
esquema de corrupção, evasão
de divisas e lavagem de
dinheiro envolvendo executivos
da empreiteira.
A investigação alcança,
além da Camargo Corrêa, doleiros,
políticos e autoridades
públicas federais e de São
Paulo. Na primeira fase, deflagrada
em maio de 2009, a
operação só havia apanhado
parlamentares e partidos de
oposição, como o PSDB, entre
os suspeitos de recebimento
de caixa 2 da construtora, o
que gerou uma onda de desconfianças
sobre a investigação.
O prosseguimento do
inquérito acabou resvalando
nos principais partidos da base
governista e em aliados de
primeira hora ao governo.
No início de dezembro, o
Ministério Público Federal em
São Paulo encaminhou 18 representações
a diferentes autoridades
pedindo abertura
de inquérito sobre 14 obras da
Camargo Corrêa. Pediu apuração
também do conteúdo da
planilha apreendida com Bianchi,
que indica pagamentos de
caixa 2 a políticos e parlamentares.
Fontes policiais observaram,
todavia, que a simples
existência da planilha não
configura crime se não for
encontrada prova de que os
pagamentos foram feitos.
As obras sob suspeita são
mencionadas nas planilhas
e outros documentos apreendidos
pela PF em maio de
2009, na sede da construtora,
em São Paulo e com três diretores
da empresa. Ao lado das
menções às obras, segundo o
Ministério Público, são citadas
autoridades dos poderes
Executivo e Legislativo. Os documentos
levantam suspeitas
da prática de corrupção ativa
e passiva, crimes financeiros,
além de atos de improbidade
administrativa e eventuais
ilícitos eleitorais.