A disponibilidade de crédito, resultado da estabilidade econômica e do aumento da geração de empregos, trouxe incontáveis benefícios a toda a população brasileira. Alguns milhões estão realizando o sonho de adquirir um carro e outros tantos um maior ainda, o da casa própria. Prova disto é que a Caixa Econômica Federal está batendo recorde de liberação de verbas ano após ano. E não é só um simples recorde, a Caixa dobra a quantidade de financiamentos a cada 365 dias. Isto só é possível por conta da demanda. Apesar dos incontáveis aspectos positivos do aumento desta demanda, é impossível ignorar que está ocorrendo explícita exploração de milhares de famílias ávidas para adquirir seu imóvel. Reportagem publicada domingo pelo Correio do Estado mostra que casas do programa federal Minha Casa Minha Vida, na periferia de Campo Grande, estão sendo vendidas por R$ 2 mil o metro quadrado. Pelo padrão do imóvel, área de lazer, localização em relação ao centro, tamanho do terreno, trata-se de um verdadeiro abuso, ainda mais se houver comparação com imóveis feitos por pequenas construtoras ou por empreendedores particulares. Nestes casos, o preço chega a cair quase pela metade. Além, disso, se os valores praticados por estas empreiteiras, que fazem os investimentos com financiamentos públicos, forem utilizados para fixar o preço dos imóveis de toda a cidade, o mercado imobiliário estará fadado ao fracasso absoluto, pois os preços ficarão literalmente proibitivos. Além disso, se a municipalidade utilizar estes valores para cobrança do IPTU, em alguns anos a metade dos campo-grandenses não conseguirá mais pagar o imposto. Integrantes da prefeitura já explicam os reajustes dos últimos anos, quase todos na faixa dos 20%, utilizando valores destas empresas. Quer dizer, os preços exorbitantes tendem a afetar todos os proprietários e não somente aos interessados na aquisição de novas unidades. Além disso, está havendo explícita valorização artificial, uma bolha que mais cedo ou tarde vai estourar e todos aqueles que tiverem feito negócio em determinado período sofrerão prejuízos incalculáveis. O dano maior, porém, será daqueles que hoje estão tomando os financiamentos e pagando cerca de R$ 80 mil por casas de 40 metros quadrados na periferia da cidade, só para citar um exemplo. Se algum dia quiserem vender estas casas, dificilmente conseguirão recuperar seus investimentos. Depois disso, como ficou comprovado na última década do século passado, milhares de mutuários deixarão de pagar os financiamentos. E, o impacto deste possível calote não recairá sobre as grandes construtoras, mas pesarão no bolso dos contribuintes, pois o risco do financiamento está sendo assumido por um banco público, que é a Caixa. Se houver aumento no índice de inadimplência, faltamente a liberação de crédito sofrerá redução e os juros aumentarão. Ou seja, o superfaturamento de agora pode trazer implicações bem maiores que uma "simples enganação" daqueles que, pelo ímpeto, estão comprando casas e apartamentos hoje. Os setores imobiliário e tributário inteiros estão sob risco por conta daquilo que pode ser classificado, literalmente, de ganância, pois os preços de determinados empreendimentos simplesmente não fazem sentido.