Pedágios, buracos e falta de veículos elevam frete da soja
7 MAR 10 - 00h:18
De cada dez sacas de soja
colhidas nesta safra no Estado
de Mato Grosso, quase
cinco serão consumidas pelo
frete. Os custos do transporte
até o porto representam 8
milhões de toneladas, quase a
metade da produção do Estado
que responde por 62% da
soja produzida no Brasil. O
frete está 25% mais caro este
ano, e ainda faltam caminhões.
Os produtores culpam
a precariedade das estradas de
Mato Grosso e o aumento no
custo do pedágio no Paraná
e em São Paulo pelo que chamam
de “apagão logístico”.
Quem leva a soja para
o Porto de Santos paga R$
1.095,50 por viagem só de pedágio,
média de R$ 2 por saca.
É como deixar 42 sacas nas
praças de cobrança. “Temos o
frete mais caro do mundo”, reclama
o empresário Eraí Maggi
Scheffer, de Rondonópolis,
um dos maiores produtores
do País.
O Estado já colheu mais
da metade das 18,4 milhões
de toneladas previstas. Como
grande parte da produção foi
negociada no mercado futuro,
os produtores têm pressa
de embarcar a produção. Muitos
estão com os silos abarrotados
com o milho que não
foi vendido por causa dos
preços baixos. O aumento
na produção da soja e a coincidência
da colheita com
outras regiões produtoras
fizeram crescer a demanda
pelo transporte. Na semana
passada, apenas na região de
Rondonópolis cinco mil carretas
circulavam.
A Rodolíder, que opera na
região, tinha 300 caminhões
rodando na semana passada.
“Para atender a todos os pedidos,
precisávamos de mais
300”, disse o operador Gilson
Silva Tenório. O frete alto e
a certeza de conseguir carga
atraíram os caminhoneiros
Tadeu Alves Bezerra, de 47
anos, Renildo Marco de Moura,
41, e Djalma Alves, 33, de
Bauru (SP). Estão fora de casa
desde o sábado de carnaval.
Depois de transportar milho
para Rondonópolis, esperavam
para carregar a soja para
Santos. Bezerra pegou o frete
por R$ 190 a tonelada, mas
arcaria com os custos. Prevê
uma receita bruta de R$ 7 mil.
No pedágio, o gasto é de R$
576 para ir e R$ 519 para voltar.
“Em São Paulo, tem pedágios
novos na rodovia Marechal
Rondon e na Castelo Branco”,
lembra.
O produtor ainda arca com
os cerca de 100 quilos de soja
que se perdem no caminho de
cada viagem. Uma opção seria
a ferrovia: a Ferronorte possui
terminais de embarque em Alto
Araguaia e Alto Taquari, no
sul do Estado, mas produtores
reclamam do preço. “O trem
deveria ser uma solução, mas
virou um problema, pois o
preço do frete está colado no
do caminhão”, diz Scheffer.
A estrada de ferro continua
distante das maiores regiões
produtoras. “É uma situação
absurda. Produzimos bem da
porteira para dentro, mas na
hora de pôr no navio, o valor
da soja evapora”.
Segundo o diretor do Instituto
Mato-Grossense de Economia
Agrícola (Imea), Sereni
Paludo, o frete na principal
produtora do Estado subiu
12% desde janeiro. Já o preço
da soja, de R$ 26 para o produtor,
é um dos mais baixos
dos últimos anos. O agricultor
recebeu semana passada R$
450 por tonelada, enquanto
o custo do frete até o porto
é de R$ 220. Há quatro safras
o governo não subsidia o escoamento
da soja, medida
prevista em lei para manter a
competitividade.