Em meio aos preparativos para lançar seus candidatos ao Palácio do Planalto, os partidos que planejam entrar na corrida presidencial deste ano decidiram pôr as finanças em ordem. O plano é reduzir ao máximo as dívidas – zerá-las, se possível – para evitar que o rombo nos cofres ganhe proporções maiores após a eleição. PT e PSDB encerraram a última campanha presidencial, em 2006, no vermelho. Petistas, que já contabilizavam saldo negativo de R$ 40 milhões, viram o buraco crescer R$ 9,8 milhões com débitos deixados pela campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já os tucanos, que naquele ano lançaram o atual secretário paulista de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, saíram com R$ 19,9 milhões em dívidas. Mais de três anos depois, o PT listará em sua próxima prestação de contas à Justiça Eleitoral dívida de R$ 36 milhões referente ao exercício de 2009. O número é bem menor do que os R$ 55 milhões herdados da gestão do ex-tesoureiro Delúbio Soares, que comandou as finanças petistas até ser expulso da sigla, após o escândalo do mensalão. Já o PSDB conseguiu baixar seu endividamento para cerca de R$ 4 milhões. Em 2009, o partido zerou os débitos ainda pendentes da disputa presidencial de 2002 e acertou contas com os fornecedores da campanha de 2006 – com exceção de um deles. “Estamos em negociações em relação ao valor e nossa expectativa é de chegar a um acordo logo”, disse Eduardo Jorge Caldas, vicepresidente nacional e responsável pelas finanças do PSDB. Ajuda “possível” O sucessor de Delúbio no PT, Paulo Ferreira, já avisou a instâncias regionais que o diretório nacional não vai sacrificar as contas partidárias em nome do desempenho nas eleições. O auxílio financeiro para a campanha de deputados virá apenas “na medida do possível”. “O diretório nacional não vai se endividar ainda mais por causa das eleições. Nós já sofremos o bastante”, disse Ferreira, que entrega o cargo nesta semana para disputar vaga na Câmara. Pelas previsões, deve ser substituído por João Vaccari Neto, presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Ferreira admite ainda ser grande o rombo nas finanças, mas alega que os débitos foram renegociados e hoje cabem na capacidade de pagamento do partido. “A dívida existe, está sendo paga e já não impede o funcionamento do partido.” A herança de Delúbio ainda compõe a dívida do PT. Empréstimos junto aos bancos BMG e Rural correspondem a débitos de R$ 3,6 milhões e R$ 4,5 milhões, respectivamente. Ainda assim, a maior fatia da dívida se refere a outra eleição. São R$ 14 milhões devidos à Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, pela compra de camisetas para a campanha de 2002. PSB E PV O PSB, que contra a vontade de Lula ainda insiste em lançar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao Planalto, não possui dívidas significativas e tem seu balanço financeiro equilibrado, de acordo com o deputado Márcio França (SP), tesoureiro da legenda. Mais do que isso, ele afirma que já tem reserva para ajudar candidatos na eleição para o Legislativo, de aproximadamente de R$ 1 milhão. O plano é aproveitar a corrida eleitoral para reforçar o caixa. O PSB quer impulsionar a votação de candidatos a deputado para engordar a fatia a que tem direito no Fundo Partidário. Os recursos desse fundo são divididos entre todos os partidos de acordo com a votação de cada um nas eleições para a Câmara. Atualmente, segundo o tesoureiro, entram cerca de R$ 800 mil ao mês no cofre da sigla em repasses do fundo e contribuições de filiados. Para motivar as instâncias regionais a ampliar a votação para a Câmara, a sigla criou um critério específico para a distribuição das receitas. A regra prevê 40% da verba que deve ir para os diretórios estaduais. No caso do PSB, um terço desse montante é dividido igualmente entre essas instâncias. Os dois terços restantes são distribuídos conforme a votação de cada Estado na eleição para a Câmara. “É uma maneira de aumentar nossa cota do fundo”, justificou França. O PV, que disputará uma eleição presidencial pela primeira vez com a senadora Marina Silva (AC) como candidata, tem contas “modestas, mas equilibradas”, afirmou Alfredo Sirkis, vice-presidente da legenda. Em 2008, a sigla admitiu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter feito gastos irregulares com recursos do Fundo Partidário e teve de devolver R$ 94 mil aos cofres da União.