Inaugurado há 11 anos,
o Centro Comercial Popular
(camelódromo), recebe, pelo
menos, uma batida policial
por ano. Eles vão em busca de
produtos importados, fabricados
em grande parte na China.
O comércio ainda é ilegal,
e os comerciantes sabem os
riscos que correm. Nesse tempo
de “relacionamento” com a
polícia, a venda de produtos
piratas foi coibida e a participação
dos importados nos
boxes caiu para 25% do total
de mercadorias, segundo a
associação que os representa.
CDs e DVDs piratas, por
exemplo, agora são vendidos
fora do prédio, na calçada.
“Nossos companheiros
tiveram muitas mercadorias
apreendidas, tanto nos boxes,
durante as apreensões,
como nas viagens”, afirma o
dirigente do camelódromo,
Vicente Reinaldo Peixoto.
Nas viagens, durante as vistorias
nos ônibus, há relatos
de maior brutalidade policial,
mas no centro, a postura deles
é mais branda. “Os policiais
chegam, conversam na
boa, calmos, e dizem que vão
levar as mercadorias contrabandeadas”,
conta um dono
de boxes de calçados, que preferiu
não ser identificado.
Na última visita dos agentes,
o vendedor teve prejuízo
de R$ 9 mil e precisou vender
alguns bens para recompor
o estoque. Hoje, apenas alguns
tênis são chineses e,
seguindo o conselho dos
policiais, são de marcas
menos conhecidas do que
as bastante procuradas falsificações
de Nike e Adidas,
por exemplo. Mas quando o
concorrente do box ao lado
anuncia os produtos de grife
falsificados, o vendedor
segue o exemplo para não
perder clientes. “As pessoas
vêm procurar essas marcas,
não dá para trabalhar 100%
legal”, admite.
De acordo com o dirigente
do camelódromo, além de
perder capital nessas apreensões,
os comerciantes
acumulam dívidas que não
podem pagar. As compras e
viagens são, muitas vezes,
financiadas com empréstimos
bancários avalizados
pela associação de vendedores,
com taxas de juros
a 2% ao mês. “Ele perde a
mercadoria e não pode pagar
o empréstimo porque
não tem o que vender”, diz
Vicente. (CHB)