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O apelo do "déjà vu"

O apelo do "déjà vu"

Redação

11/08/2010 - 07h14
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Mariana Trigo, TV Press

Recontar histórias de grande sucesso em novelas é um tiro no escuro. Com algumas exceções, os “remakes” da teledramaturgia em geral não alcançam altos índices de audiência. “Ti-ti-ti”, de Cassiano Gabus Mendes, que foi ao ar há 25 anos, tem conseguido reerguer paulativamente o horário das sete. Um dos motivos é contar uma história pouco datada em tom farsesco. Com menos de um mês no ar, a trama adaptada por Maria Adelaide Amaral já conseguiu bater a audiência de 30 pontos, cinco a mais que a média geral de sua antecessora, “Tempos modernos”.
Mas, para tentar conquistar uma boa audiência, é necessário sempre adequar as histórias e personagens para os dias atuais. Mesmo assim, as produções originais de alguns autores raramente conseguem fazer tanto sucesso quando são revisitadas. “Eu tive de atualizar ‘Ti-ti-ti’. Para isso, conversei com especialistas em moda, como a Constanza Pascolato e Glorinha Kalil. A moda brasileira se industrializou muito. Jacques Leclair e Victor Valentin só fariam sucesso hoje no mercado de festa e de noivas”, argumenta Maria Adelaide, que ainda trouxe para a história referências da novela “Plumas & paetês”, também de Cassiano.
Apesar de não existir uma fórmula de sucesso para que os “remakes” sejam bem-sucedidos, quando as histórias têm elementos suficientemente atemporais, como personagens que não datam uma época e uma ingenuidade específica de um período, podem ter mais possibilidades de decolar na audiência. Caso contrário, folhetins com personagens que não são convincentes nos dias de hoje dificilmente conseguem prender a atenção do público, como tem sido o caso de “Uma rosa com amor”, de Vicente Sesso, que está sendo adaptada por Tiago Santiago no SBT.
Outro exemplo é Janete Clair, autora de grandes sucessos, como “Irmãos coragem” e “Pecado capital”. Ela escrevia de acordo com o retorno que tinha do público. No entanto, quando suas tramas viraram “remakes”, não arrebataram o público como seus originais. “’Irmãos coragem’ não teve tanta aceitação porque foi no horário das seis, com uma direção lenta (do Luiz Fernando Carvalho) e uma história que já não tinha tanto apelo. Mudei as partes mais problemáticas e a novela alcançou a audiência que a emissora esperava”, lembra Marcílio Moraes, que reescreveu a trama com Dias Gomes. “’Pecado capital’ também  ficou aquém do original. Não era uma história para ir ao ar às seis horas. Mesmo assim, o sucesso não tem receita, não é científico”, analisa o autor Gilberto Braga.
Adaptar uma trama que foi exibida em horário nobre às seis da tarde, por exemplo, realmente pode ser um convite ao fracasso. Afinal, além de toda a adequação do texto para os costumes e hábitos contemporâneos, muitas das cenas mais relevantes provavelmente são editadas em função da classificação indicativa. “Uma novela das 22h, como ‘Gabriela’, jamais se adaptaria para às 18h. Mas daria uma excelente minissérie. ‘Ti-ti-ti’, por exemplo, está no horário original e isso é perfeito”, compara o autor Ricardo Linhares.
Alguns textos também parecem mais fáceis de serem adaptados. As tramas de Benedito Ruy Barbosa, que sempre contam grandes sagas, são normalmente recontadas por sua filha Edmara Barbosa, com colaboração de Edilene Barbosa, também filha do autor. A familiaridade com o texto e a intimidade com o autor original, que sempre aconselha em constantes mudanças na história – de acordo com a audiência –, é um dos motivos de êxito de “remakes” de Benedito, como “Sinhá moça”, “Paraíso” e “Cabocla”. “Meu pai tem todas as histórias na cabeça. Aprova, orienta as atualizações e sugere as mudanças. Sou ‘beneditina’ de nascença e isso facilita na adaptação, porque já li mais de 260 mil laudas dele”, ressalta Edmara.
Textos atemporais e com uma história consistente também podem garantir mais chances de dar certo em “remakes”. Mesmo assim, não existem equações exatas para o sucesso de um “remake”. Apesar de um bom texto, uma adaptação cuidadosa e uma boa direção, ainda assim o êxito é sempre subjetivo. No entanto, alguns autores costumam funcionar mais em adaptações, como Ivani Ribeiro. Talvez por ela também ter supervisionado grande parte dos “remakes” de seus textos. Com exceção de “O profeta”, que acabou não fazendo o sucesso esperado. Com histórias como “A viagem” e “Mulheres de areia”, que ganharam “remakes” bem-sucedidos, a autora é uma das mais adaptadas na teledramaturgia. “Fazer ‘remakes’ de sucesso é um ponto de partida seguro. Tem de haver fidelidade com o que já foi escrito”, opina Lauro César Muniz, que ainda planeja fazer “remakes” de seus próprios trabalhos na tevê.

Direitos Humanos

Estudos revelam graves violações dos direitos humanos contra indígenas em presídios de MS

Estudo inédito de defensores públicos relata que muitos indígenas cumprem pena sem entender o motivo

16/04/2024 18h18

Fotos: João Gabriel Vilalba

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Estudo da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul aponta graves violações de direitos humanos contra indígenas no Presídio Estadual de Dourados, a 220 quilômetros de Campo Grande.  

O aspecto mais alarmante desta pesquisa é que muitos dos indígenas condenados não têm conhecimento do motivo de sua prisão e são incapazes de se defender, pois não podem se expressar em sua língua nativa e muitas vezes não possuem documentos que os identifiquem corretamente.

De acordo com dados da pesquisa realizada pela Defensoria Pública em colaboração com a Secretaria Nacional de Políticas Penais, órgão do Governo Federal, em 2023, constatou-se que 1.226 indígenas estão presos em todo o país. Durante esse mesmo período, em Mato Grosso do Sul, havia 401 indígenas detidos, o que representa praticamente um terço do total de indígenas detidos no estado.

“Estive lá pessoalmente e percebi que os indígenas não são compreendidos. Fiquei me questionando quem são? Quais seus valores? Qual é a sua cultura? Os indígenas não têm proteção nenhuma do sistema judiciário e de quem está do seu lado”, resumiu o defensor público e Coordenador do Sistema Penitenciário, Cahuê Urdiales.

O estudo inédito sobre o encarceramento de indígenas no Estado foi apresentado na tarde de hoje (16), na sede do órgão em Mato Grosso do Sul. Ele aponta violações graves dos direitos e da dignidade humana no sistema prisional.

Defensor público e Coordenador do Sistema Penitenciário, Cahuê Urdiales. Fotos: João Gabriel Vilalba 

MS tem mais presos indígenas no País 

Segundo dados apresentados pela Defensoria Pública, em colaboração com a Secretaria Nacional de Políticas Penais, órgão do Governo Federal, Mato Grosso do Sul continua sendo um destaque entre os estados com maior número de presos autodeclarados indígenas no país, totalizando 401 indígenas.

Língua e documentos

Durante a apresentação dos dados, o defensor público e coordenador do Núcleo Institucional do Sistema Penitenciário, Cahuê Urdiales, relatou que muitos dos indígenas presos não têm consciência de que estão cumprindo pena, devido à falta de compreensão da cultura indígena. Isso revela uma grave violação dos direitos humanos.

O defensor ainda destacou que essa questão poderia ser resolvida com a presença de intérpretes capazes de traduzir do português para as línguas indígenas, ou vice-versa, conforme previsto nas normativas que o judiciário brasileiro deve seguir.

“Muitos deles não sabem porque estão presos. Falta esse conhecimento ou compreensão da cultura indigena.  é chocante. Tivemos um exemplo quando houve um atendimento e um indigena foi condenado a 131 anos de pena [...]. A assessora olha a sentença para ver a quantidade e fala, o que eu faço?", relata
  
O defensor ainda acrescentou que "o indígena, ao receber a pena, não demonstra nenhuma reação, pois não compreende o significado de 131 anos. Ele foi julgado sem a presença de um intérprete e sem garantias de condições humanas adequadas. A maioria deles sequer possui certidão de nascimento como prova de sua existência', concluiu. 

De acordo com os estudos, a maioria dos indígenas em Dourados pertence aos povos Kaiowá (96), Guarani (65) e Terena (26).

Dos 206 indígenas atendidos, 22,3% não possuem nenhum documento civil, como certidão de nascimento, RG e CPF ou título de eleitor e, portanto, estão desassistidos por qualquer política pública ou estadual. 

"A legislação brasileira prevê que todo nascimento no território nacional deverá ser levado a registro, uma vez que este é o primeiro documento de valor jurídico da vida civil de uma pessoa e, consequentemente, assevera a sua existência para o Estado brasileiro", pontua o coordenador do Núcleo de Defesa Indigena e defensor público, Lucas Colares Pimentel.

 Coordenador do Núcleo de Defesa Indigena e defensor público, Lucas Colares Pimentel.Fotos: João Gabriel Vilalba

Quais são as providências

Ambos os defensores admitiram que a instituição não tinha conhecimento do problema, apesar de estar ciente do sistema de encarceramento indígena.

Após a divulgação dos dados, a expectativa é aumentar a visibilidade do problema e reunir-se com outras instituições para tentar encontrar uma solução.

“Acreditamos que os esforços devem ser mútuos, mas podemos amenizar como determina a legislação. A lei precisa imperar e exigimos isto. Que a lei possa ser garantida e reconhecida aos indígenas”, detalhou. 

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Reivindicação

Policiais penais pedem transporte para deslocamento a trabalho em presídios afastados

Em uma ação coletiva, policiais penais da Agepen/MS também denunciam o transporte inadequado de presos em seus veículos particulares, sendo essa uma responsabilidade do Estado

16/04/2024 17h00

Os policiais penais também denunciam o uso inadequado de veículos particulares para realizar escoltas e deslocamentos oficiais. Foto: Agepen/MS

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Os policiais penais da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul (Agepen/MS) buscam na justiça o transporte diário para o trabalho em presídios afastados e de difícil acesso, em zonas rurais de Campo Grande. Sem meios de locomoção adequados, eles se veem obrigados a usarem seus veículos particulares ou de aplicativos, inclusive para o transporte de presos.

Foto arquivo/Processo

Diante disso, o Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária do Estado de Mato Grosso do Sul (Sinsap/MS) entrou com uma ação coletiva junto à Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande (MS), para obrigar a Agepen/MS e o Estado de Mato Grosso do Sul a fornecerem escolta adequada para o deslocamento dos policiais penais até os presídios localizados em áreas distantes da zona urbana, bem como o transporte para os custodiados do sistema prisional em casos de necessidade de atendimento médico hospitalar.

O sindicato destaca que alguns policiais penais realizam suas atividades em presídios estaduais que não são atendidos por transporte público regular, como é o caso das Penitenciárias da Gameleira e Jair Ferreira de Carvalho em Campo Grande, a Penitenciária Estadual de Dourados e o Presídio de Segurança Média de Naviraí.

Cabe destacar que até o ano passado, o serviço de transporte era fornecido aos policiais pela Agepen. No entanto, neste ano houve a suspensão repentina do transporte e sem a previsão de retorno.

Além da questão do transporte, os policiais penais também denunciam o uso inadequado de veículos particulares para realizar escoltas e deslocamentos oficiais, o que é considerado inaceitável, principalmente por se tratar da segurança pública.

Foto arquivo/Processo

Em um desses casos de abuso, uma servidora teve que usar seu carro particular de passeio, um Gol 1.0, para realizar o transporte (escolta/custódia hospitalar) de um preso da "Máxima" até o Hospital São Julião. No trajeto, seu veículo estragou, gerando prejuízos financeiros e também colocando em risco a vida da servidora.

Segundo a ação, a falta de transporte institucional ou indenização correspondente para esses deslocamentos é considerada desumana e inconstitucional, violando direitos sociais fundamentais previstos na Constituição Federal.

Por fim, o Sinsap/MS justifica que legalmente tanto a prática da Administração Pública quanto a legislação estadual preveem o fornecimento de transporte ou indenização (reembolso) para funcionários que precisam se deslocar para executar serviços externos, especialmente em locais de difícil acesso.

Agepen diz que escolta já está em processo de licitação

Em nota ao Correio do Estado, a Agepen/MS informou que a empresa responsável pelo transporte até o ano anterior suspendeu o contrato, e atualmente está em processo de licitação para a contratação de um novo serviço.

Confira a nota na íntegra:

“A Secretaria de Estado de Administração (SAD), por intermédio da Secretaria Executiva de Licitação (SEL), está realizando o levantamento de interesse dos órgãos em realizar a Contratação de transporte coletivo terrestre de passageiros, com condutor e combustível, para verificar a viabilidade de abertura de processo licitatório. A Agepen apresentou justificativa e estimativa de consumo, bem como manifestou interesse em participar do Sistema de Registro de Preços para Contratação de transporte coletivo terrestre de passageiros, com condutor e combustível, em atendimento ao Ofício Circular n. 312/SUCC/SAD/2023 e ao Decreto Estadual n. 16.122/2023. Desta forma, diante da missão de administrar o sistema penitenciário estadual, assegurar a custódia das pessoas privadas de liberdade e/ou monitoradas eletronicamente; executar as penas nos diversos regimes e promover condições para a harmônica integração social do condenado e do internado, tendo em conta a Visão em ser referência no correto cumprimento da Execução Penal e das políticas de reinserção social das pessoas privadas de liberdade que integram o sistema penitenciário estadual, a Agepen almeja suprir a demanda do transporte dos servidores, para Unidades que se localizam no entorno da Cidade de Campo Grande-MS.”

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