Vânya santos
Famílias resistem ao tempo e mantêm viva tradição de reverenciar morte e ressurreição de Jesus Cristo. Conforme costume antigo, elas seguem os ritos da Semana Santa, como participar da Missa de Lava Pés na quinta-feira, reservar a Sexta Feira da Paixão para oração e reflexão, além de celebrar o Sábado de Aleluia.
Este é o caso da devota Ramona Lugo Samudio, que aos 73 anos ainda segue os rituais juntamente com marido, filhos e netos. Ela conta que o costume era "forte" antigamente – há cerca de 50 anos – porque tanto as famílias quanto a Igreja Católica eram mais tradicionais.
"A Semana Santa era de muito respeito, oração e de ficar em silêncio. Não se trabalhava, não se fazia serviço doméstico. A casa era limpa dias antes. Na sexta não podia cozinhar, então a comida era feita na quinta-feira", relembrou dona Ramona, que, seguindo a tradição, fará todo o serviço de casa de hoje, inclusive o almoço desta sexta-feira.
A devota explicou que, no início da semana, as igrejas costumavam cobrir as imagens santas com pano roxo em sinal de luto pela morte de Jesus. Também retiravam os enfeites do altar e só descobriam os quadros no sábado. Famílias jejuavam na Sexta Santa, mas em algumas casas a carne ficava fora do cardápio. "As pessoas evitavam comer as coisas que mais gostavam, como doces. Outras não fumavam neste dia. Se o filho fizesse arte, a gente não brigava, deixava para resolver tudo no Sábado de Aleluia. As crianças não brincavam de bola, nem corriam", revelou.
Dona Ramona contou ainda que antigamente as famílias costumavam visitar sete igrejas, a pé, além de cemitérios. "Quando tinha companhia eu visitava as sete igrejas. Hoje visito a São Judas Tadeu, a Santo Antônio, a São Francisco e o cemitério".
O Sábado de Aleluia marca o fim da Semana Santa com a celebração da Missa de Ressurreição. Há alguns anos, neste dia era mais comum as famílias malharem o Judas como forma de repúdio à traição do apóstolo a Jesus Cristo.
Comparação
A aposentada Isabel Marin Lugo Magdalene, 59 anos, também preserva as tradições da Semana Santa. "Hoje as pessoas não dão a importância que a gente dava naquela época", comparou, esclarecendo que os pais ensinavam os costumes e os filhos seguiam. "Antes, a missa do Sábado Santo acontecia à meia-noite e era a coisa mais linda", relembrou.
Já a devota Aline Barbosa Lugo, de 69 anos, contou que seus pais a ensinaram a nunca deixar de ir à igreja e reservar a Semana Santa para fazer orações. "Hoje muita gente não tem o conhecimento da palavra de Deus porque o mundo oferece outras coisas", ressaltou.
Oratório
Há 35 anos, dona Ramona preserva em sua residência, localizada no Bairro Vila Carvalho, um cômodo destinado a orações. Além dos familiares, a devota frequentemente recebe visita de fiéis, que utilizam o oratório de São Miguel Arcanjo para rezar na intenção de agradecer a Deus ou para alcançar alguma graça pretendida.
"São Miguel é o arcanjo mais poderoso depois de Deus e intercede por todas as causas. Sua espada representa o poder que ele tem contra o mal", explicou Ramona. Para ela, o espaço une sua família e também aproxima as pessoas que precisam de oração.
O espaço é todo decorado com renda e cada cantinho está ocupado com bíblia, vela, imagens ou fotos. Religiosamente, todos os dias ela abre o oratório às 6h, reza e acende uma vela. O local também é visitado pelos filhos minutos antes de seguirem para o trabalho. "A minha família sempre teve oratório e minha mãe, quando era viva, exigiu que eu fizesse um", contou.