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Mulheres vivem o paradoxo da exigência da beleza e do estigma da futilidade

Mulheres vivem o paradoxo da exigência da beleza e do estigma da futilidade

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Ao passar na frente de um dos Diretórios Acadêmicos da faculdade onde cursa design gráfico, Gabriela Namie, 20 anos, ficou chocada com uma placa. Do lado de um pictograma feminino, igual ao encontrado em qualquer porta de banheiro feminino, se deparou com uma ilustração de uma mulher “todo gostosona”, nas palavras de Gabriela. Embaixo, uma legenda insinua que a Fundação Armando Álvares Penteado tem a “vantagem” de ser a instituição acadêmica com as mulheres mais bonitas.

“Muitas meninas apóiam esse pensamento, vestem camisetas com essa estampa. Eu me sinto ofendida”, lamenta a estudante. “O diretório está categorizando todas as mulheres da faculdade a partir desse conceito. Não vem ao caso se uma aluna é gostosa ou não, mas isso está sendo colocado como o único atributo que importa. Ou como se atribuísse um crédito à faculdade. Para esses alunos e alunas, isso é um elogio, dignifica a mulher”, desabafa.

É machismo elogiar a mulher por sua beleza? Ou beleza se tornou um atributo como outro qualquer, que não desqualifica uma profissional competente e inteligente? A discussão é controversa, porque passa pela percepção que muitos estudiosos têm de que a beleza em si se tornou uma característica socialmente indispensável para a felicidade e o bem-estar – muitas vezes, uma cobrança torturante. “Ser bonita é uma demanda sobre todas as mulheres”, afirma Rachel Moreno, autora do livro “A Beleza impossível – Mídia, Mulher e Consumo” (Editora Ágora). “As mulheres estão trabalhando mais, estudando mais, diminuindo a diferença salarial, temos uma presidente que furou o teto de vidro. Além de tudo isso, a beleza vem como uma chave para a felicidade.”

Na percepção de Rachel, o ambiente favorável para a busca da beleza impossível é criado pelo conjunto de mídia, mercado publicitário e a educação que as meninas recebem em casa e na escola. “Muita mulher chega à idade adulta achando que o sacrifício pela beleza facilita o acesso ao mercado de trabalho”. Segundo ela, o problema não é simplesmente se apresentar com boa aparência. “Você pode ter outro projeto de vida e priorizar outras coisas, mas a busca da beleza em paralelo te leva a sacrifícios e baixa sua autoestima. Vira uma obsessão”, diz.


"Mulher tem que ser linda, boa profissional, boa esposa, boa mãe. É uma ansiedade maior que transforma a gente em pessoas muito competitivas", diz a Fernanda Lobo
O paradoxo vem quando a beleza se torna, apesar de “indispensável”, uma característica que reduz a mulher a algo que não tem nenhuma função além de ser admirado. É quando uma mulher bonita é automaticamente percebida como apenas bonita. A engenheira química Fernanda Lobo, 28 anos, trabalha numa multinacional do ramo de bebidas, e se nunca ficou sabendo ser vítima de comentários criticando-a, já ouviu muito a respeito de colegas. “Se você dá margem para as pessoas esse comentário vem naturalmente, sobretudo entre mulheres. Já vi pessoas usando shorts ou blusa decotada na empresa, que tem um dress code mais informal, e isso gera uma exposição negativa”, diz. “Mulher tem que ser linda, boa profissional, boa esposa, boa mãe. É uma ansiedade maior que transforma a gente em pessoas muito competitivas. Em vez de ser solidária, você acaba excluindo do grupo quem pareça uma ameaça.” Ela mesma evita não expor as tatuagens que tem. “Não me incomoda quando vou contratar alguém, mas a gente tem que aceitar que nem todo mundo é igual a gente”.

Os defensores da beleza


Loira e linda, a executiva Renata Marcon, 46 anos, trabalha há 21 anos em uma grande multinacional de tecnologia. “No começo eu sofri esse tipo de preconceito”, conta. Hoje, Renata pode se orgulhar de ter construído uma imagem de competência e atitude firme. “O único problema que nós temos é que nossas reações são muito observadas. As mulheres precisam se policiar muito”, afirma. Maquiagem discreta, calças, camisas, saias e terninhos ajudam a comandar uma equipe e lidar com clientes que são 80% do sexo masculino. “Já tive clientes que comentaram que nunca usei de charme em nenhuma negociação. Esse é um problema que nós mulheres enfrentamos: quando ela é bonita e bem apresentada, é esperado que use a feminilidade dela para conseguir uma vantagem.”


Corpo de mãe


Sim: as mulheres são cobradas por sua beleza. Mas, no ambiente de trabalho, o preconceito se inverte e a feminilidade é colocada sob policiamento. A consultora de estilo Amanda Medeiros confirma: os sinais de feminilidade extrema estão vetados. “É preciso deixar roupas decotadas, coladas, com tons como rosa ou roxo vibrante para o ambiente pessoal. Evitar maquiagem pesada, unhas grandes ao extremo ou mesmo perfumes fortes”. Mas curiosamente, o lado feminino não pode sumir. “Mulheres que possuem altos cargos devem evitar tosar o lado feminino, imitando homens no comportamento ou na forma de vestir; é preciso encontrar equilíbrio entre força e gênero, sendo esforçada ao máximo para evitar críticas”, afirma. É só lembrar que líderes mundiais como a presidenta brasileira Dilma Roussef ou a chefe de Estado Angela Merckel raramente são vistas usando calça. O tailleur, com saia e blazer, é obrigatório nos fóruns. “Qual a necessidade dessa preservação aparente do gênero? Que códigos são esses?”, questiona a filósofa Dulce Maria Critelli.

A filósofa acredita que como valor, a beleza esteve sempre associada à mulher, dentro ou fora do ambiente de trabalho. “Culturalmente, a beleza ‘gruda’ na mulher, assim como.a sensibilidade. Ao homem estão associados a força e poder. Em torno desses estereótipos, há uma série de desdobramentos, que são os códigos e padrões que ao longo das épocas vão se estabelecendo. É esperado que toda mulher faça o sacrifício possível para estar associada a esse código de beleza.” Ela filósofa lembra que a atração pelo belo é natural ao ser humano, e que a “tirania da nossa cultura ” seja um modelo de beleza tão restrito. “O homem tem uma liberdade maior do que a mulher. Se ela não busca os códigos de beleza, é como se ela não tivesse se esforçado o suficiente. Nossa identidade está vinculada ao nosso aspecto.”

Beleza e inteligência


Se a competência, inteligência ou outro atributo em uma mulher é questionado, Dulce acredita que a base pode estar na ideia de que a beleza é uma forma de poder. “Há uma crença cultural antiga de que uma mulher vence o homem pelo sexo. A beleza é um atrativo para a sexualidade e a ameaça feminina vem daí, com o homem vencido pelo sexo. A mulher bonita cala o homem, ele fica bobo, nesse sentido”, afirma a filósofa

Um dos defensores da “femme aux hommes”, ou seja, da mulher que se veste e se apresenta de forma a agradar o olhar masculino, é o colunista da Folha de S.Paulo Luiz Felipe Pondé. “Antes de tudo o homem olha a beleza, o que não quer dizer que ele não perceba outras características depois. Mas quem erotiza a inteligência é a mulher”, diz Pondé. “A mulher bonita e inteligente precisa tomar cuidado para não esfregar a inteligência na cara de um homem. Homem é inseguro”, diz. “Do ponto de vista externo, a inteligência feminina é um risco”. Mas ele pondera que a beleza pode criar mais problemas com colegas mulheres do que com homens. “A competitividade das mulheres passa pela beleza física”, diz. “Para um homem, a associação de beleza e inteligência no ambiente de trabalho poderá ser negativo se ele perder o cargo para uma bonita e inteligente, mas se não for bonita, ele também vai ficar irritado e desqualificá-la”. A medida entre a beleza que é vício e a que é virtude é muito tênue.
 

Projeto cultural

Após encantar alunos, show "Pop & Poesia" chega a mais três escolas a partir de hoje

Jerry Espíndola e Ju Souc levam clássicos regionais aos estudantes do EJA da Rede Municipal de Ensino com sucesso

15/04/2024 15h23

As últimas apresentações do "Pop & Poesia" estão prontas para conquistar mais uma vez o coração dos alunos do Eja. Foto: Leandro Marques

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O projeto "Pop & Poesia" está chegando ao fim com três apresentações emocionantes programadas para a próxima semana em escolas de Campo Grande. Sob a liderança dos talentosos músicos e amigos Ju Souc e Jerry Espíndola, os próximos shows estão marcados para os dias 15, 16 e 17 de abril, sempre às 19h30.

Depois de oito apresentações bem-sucedidas em escolas de bairros periféricos da capital, o projeto continua sua missão de compartilhar cultura e emoção. As apresentações continuam a acontecer em escolas municipais de diversos bairros, proporcionando uma experiência enriquecedora aos alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

A singularidade do "Pop & Poesia" reside na excelência musical dos artistas e na interação calorosa com o público. Com um repertório criteriosamente selecionado, os espectadores terão a oportunidade não apenas de apreciar clássicos regionais, mas também de conhecer novas composições fruto da parceria entre os músicos. O objetivo do projeto é envolver as pessoas na rica cultura regional e despertar a curiosidade sobre as histórias por trás das músicas.

Marlene Barros, uma estudante de 40 anos que está concluindo o Ensino Fundamental na Escola Municipal Profª Maria Regina de Vasconcelos Galvão, expressou sua gratidão pela oportunidade de vivenciar o show.

"Eu gostei muito do show, muitas músicas da minha infância, que ouvia bastante e me trazem muitas recordações boas."

A diretora da escola, Ângela Maria de Brito, também elogiou a iniciativa e compartilhou o encantamento dos alunos com o espetáculo.

Tem muita gente aqui que nunca foi num show na vida, nunca viu música ao vivo e todos estamos encantados com o que vimos hoje”, afirma.

Com a promessa de noites repletas de emoção, cultura e entretenimento, as últimas apresentações do "Pop & Poesia" estão prontas para conquistar mais uma vez o coração do público campo-grandense.

O "Show Musical - Pop & Poesia" é um projeto financiado pela Lei Paulo Gustavo (LPG) do Ministério da Cultura, Governo Federal, por meio de edital da Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande. Mais informações podem ser encontradas no Instagram (@jerryespindola) e (@soucju).

Confira a programação:

- Segunda-feira (15 de abril) - E. M. Prof. Antônio Lopes Lins, rua Cibele, 460 - Portal Caiobá;
- Terça-feira (16 de abril) - E. M. Carlos Vilhalva Cristaldo, rua Pádua Gazal, 13 - Jardim Aeroporto;
- Quarta-feira (17 de abril) - E. M. José Mauro Messias da Silva, Rua Ivo Osman Miranda, 13 - Vila Moreninha IV.

*Com informações da assessoria

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PLATAFORMAS DIGITAIS

Confira as sugestões de filmes e séries desta semana

A dica da semana é o filme brasileiro "Rio 40 graus"

15/04/2024 14h34

"Rio 40 graus" está disponível no Globoplay e na Amazon Prime Video Divulgação

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“Rio 40 graus” é considerado um marco do cinema brasileiro, filme de Nelson Pereira mostra o Rio de Janeiro para além do estereótipo e possui críticas ainda muito relevantes para a cidade

Um dos mais importantes filmes do cinema nacional, “Rio 40 graus” (1955) foi o primeiro longa-metragem do cineasta Nélson Pereira dos Santos e um precursor do movimento chamado “Cinema Novo” no Brasil. Ao passo que as grandes companhias cinematográficas do país na época se preocupavam em tentar reproduzir um estilo hollywoodiano de contar histórias, “Rio 40 graus” inaugurou uma nova linguagem ao retratar o Rio de Janeiro – na época, capital do país – de uma forma realista, sem os floreios de “cidade maravilhosa” que povoavam o imaginário das pessoas. Atualmente, o filme está disponível no Globoplay e na Amazon Prime Video.

Uma espécie de drama com documentário, “Rio 40 graus” acompanha a trajetória de 5 meninos de uma favela carioca em um dia de domingo. Juntos, Zeca, Sujinho, Jorge, Paulinho e Xerife saem pelos pontos turísticos da cidade (Maracanã, Quinta da Boa Vista, Copacabana, Corcovado e Pão de Açúcar) para vender amendoim. Além de usarem o dinheiro para ajudar suas famílias, em especial Jorge – cuja mãe está doente e precisando de dinheiro para comprar remédios –, os meninos também desejam usar parte do valor arrecadado para comprar uma bola de futebol. Ao mesmo tempo, o filme aborda um conjunto de tramas paralelas, como a chegada de um coronel para visitar o Corcovado e a gravidez de uma migrante nordestina.

Apesar de, há muito tempo, o filme ser considerado um marco do cinema nacional, nem sempre foi assim. Na realidade, o longa sofreu com a censura na época do lançamento e a sua exibição foi proibida nos cinemas do país. O filme chegou a ser acusado de ser uma grande mentira e espalhar uma visão muito negativa da cidade – que, inclusive, nunca havia chegado aos 40° C de temperatura. Houve uma campanha para liberar a exibição do filme, que teve repercussão internacional entre artistas e intelectuais. A obra conseguiu sair da lista de filmes proibidos apenas no governo de Juscelino Kubitschek, em 1956.

 

A Disney Plus disponibilizará “Under The Bridge”, um original Hulu, no dia 17 de abril

A Hulu é uma plataforma de streaming norte-americana que vem se destacando no mercado por suas produções originais bastante premiadas, como foi o caso de “The Handmaid 's Tale” (2017). O serviço da empresa não está disponível no Brasil, porém, através de parcerias com outras plataformas, é possível assistir esses originais no país. Esse será o caso com o novo original da Hulu, “Under the Bridge”, uma série de “true crime” baseada no livro homônimo da autora canadense Rebecca Godfrey. Dessa vez, a responsabilidade de distribuir o original ficou a cargo da Disney Plus, que disponibilizará a série no Brasil a partir do dia 17 de abril em sua plataforma.

A série acompanha as investigações de um crime real que chocou o Canadá, no ano de 1977.  A história começa com o desaparecimento de uma menina de 14 anos chamada Reena Virk, que saiu para encontrar as amigas em uma festa e nunca mais voltou. Quando a adolescente é encontrada morta de uma forma brutal, a investigação corre para tentar encontrar os responsáveis pelo crime. Dentre os principais suspeitos estão um grupo de 7 meninas e um menino, todos entre 14 e 16 anos de idade.

“Under The Bridge” aborda o caso pelos olhos da escritora Rebecca (Riley Keough) e da policial local Cam (Lily Gladstone), que unem forças para tentar desvendar os acontecimentos que levaram à morte da jovem. Juntas, elas começam a investigar a realidade dos adolescentes acusados e, com diferentes abordagens, conseguem fazer com que a verdade vá se revelando até que o caso seja concluído de forma inesperada. O caso de Reena Virk, na época, escancarou de forma trágica os perigos do bullying e suas consequências desastrosas para os jovens. Ajudou a mostrar o quanto era importante que o assédio moral nas escolas fosse um tópico mais discutido e combatido no país – e no mundo.

 

Nova série da Netflix mergulha mais fundo no universo de “Sandman”, criado por Neil Gaiman, e conta a história de dois meninos que investigam mistérios depois da morte

Um dos escritores mais famosos e bem-sucedidos da literatura contemporânea, o autor britânico Neil Gaiman tem uma obra bastante versátil, que vai desde livros e contos, até histórias em quadrinhos e séries televisivas. Dentre os seus trabalhos mais conhecidos, estão “Sandman” (1989) – que ganhou nove Eisner, importante prêmio da indústria norte americana de quadrinhos –, “Deuses Americanos” (2001), “Coraline” (2020) e “Good Omens” (2019). As histórias criadas por Gaiman são um prato cheio para os amantes de fantasia e do macabro, uma vez que o escritor consegue manipular com maestria o que é conhecido como “o desconhecido”, criando novas realidades a partir de um universo pré-existente.

Sendo assim, todas as vezes que as histórias de Gaiman recebem uma adaptação cinematográfica, elas recebem uma atenção especial. Continuando uma parceria frutífera com a Netflix, no dia 25 de abril chegará à plataforma de streaming mais uma parte do universo criado pelo autor em “Sandman”. Com o título de “Garotos Detetives Mortos”, a primeira temporada do original contará com 8 episódios e dará um espaço narrativo especial para dois personagens que aparecem, de relance, na edição de 1991 de “Sandman”. Depois dessa aparição, a dupla até ganhou uma série de HQs próprias, que compunham o universo de spin-offs de “Sandman”.

Em “Garotos Detetives Mortos”, os protagonistas são os personagens Edwin Paine (George Rexstrew) e Charles Rowland (Jayden Revri), dois jovens britânicos que se conheceram após a morte e se tornaram melhores amigos. Juntos, os dois fantasmas fogem do Inferno e da Morte para solucionar mistérios no plano Mortal. Ao longo das investigações, a dupla ajuda outros fantasmas a solucionar os casos que levaram às suas respectivas mortes. Os protagonistas também irão contar com a ajuda da vidente Crystal Palace (Kassius Nelson) e de sua amiga Niko (Yuyu Kitamura). Juntos, eles vão encarar diversos desafios, como bruxas poderosas e seres sobrenaturais.

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