A partir do segundo trimestre, o crescimento do mercado de crédito passará por uma prova. No próximo dia 1º de abril, acabam alguns dos incentivos criados no auge da crise e a oferta de recursos deve diminuir ao mesmo tempo em que custos tendem a subir. Serão cerca de R$ 120 bilhões a menos na capacidade de empréstimo dos bancos e o fim de abatimentos no depósito compulsório. O “desarme” dos benefícios é a primeira etapa do aperto monetário esperado pelo mercado financeiro para combater a alta da inflação. Será uma ação preliminar à alta do juro esperada também para abril. Na autoridade monetária, o fim das medidas é tratado como um fato importante porque, indiretamente, pode gerar desaceleração no ritmo de expansão dos financiamentos. Não será um pé no freio do crédito, mas será como tirar momentaneamente o pé do acelerador. Na expectativa de que o crédito deve passar a crescer mais lentamente, alguns economistas não descartam que o efeito dessas medidas pode, inclusive, amenizar a intensidade da alta da Selic esperada para começar em abril. A mudança que vai gerar impacto imediato é a que acaba com uma regra que incentivava a criação de reserva adicional contra calote nos empréstimos. Na crise, o BC queria aumentar a segurança dos bancos e, ao mesmo tempo, não queria que o crédito perdesse fôlego. Para isso, autorizou que o sistema financeiro reservasse provisão extra contra inadimplência sem que sua capacidade de gerar financiamentos fosse reduzida. Levantamento feito pela Agência Estado mostra que bancos mantêm atualmente R$ 97,5 bilhões em provisão contra calotes. O valor é superior ao exigido pela lei, que determina um valor conforme o volume e risco dos empréstimos. Por esse cálculo, bancos têm R$ 14,1 bilhões em provisões adicionais. Até 31 de março, esse valor não será descontado do caixa. Mas a partir de 1º de abril, essa reserva terá de ser abatida do capital do banco, o que diminui sua capacidade de emprestar. Com a redução do patrimônio em R$ 14,1 bilhões, instituições financeiras terão pelo menos R$ 120 bilhões a menos para repassar aos clientes. A cifra é relevante e comparável à concessão de financiamentos para empresas e pessoas físicas em todo o segundo semestre de 2009, quando foram repassados R$ 133 bilhões nos seis meses.