Pais matando filhos e vice-versa, amigos tirando a vida daqueles que diziam amar. Maridos e mulheres cometendo assassinatos entre si. Irmão contra irmão, famílias inteiras dizimadas pela violência e perversidade de mentes descontroladas e maquiavélicas. Descrevendo assim parece o fim dos tempos, algo apocalíptico. Mas desde que o mundo existe há disputa de poder e inveja entre os seres humanos e não precisamos ir muito longe, basta lembrar a história bíblica de Caim e Abel, que é de conhecimento geral.
Numa linha mais científica é possível afirmar que todas as pessoas têm impulsos violentos, mas que são controlados pela educação, crenças, valores, etc. "São estes pensamentos que ponderam racionalmente as consequências de nossos atos, nos impedindo de agir sem controle, com maldade", destaca a professora de psicologia da Universidade Católica Dom Bosco Ludmila de Moura. No entanto, segundo a psicóloga, algumas pessoas têm um frágil controle racional sobre seus impulsos. São pessoas com dificuldade de tolerar frustração. Então, diante de uma contrariedade, respondem violentamente, algumas vezes até alterando a percepção da realidade, tendo alucinações visuais ou auditivas (surto psicótico). "Em outros casos, podem estar sob influência de drogas ou álcool, que facilitam o descontrole emocional e a preponderância das ações hostis", enumera Ludmila, acrescentando que entre as doenças mentais que mais causam transtornos estão: a depressão, a esquizofrenia, a psicopatia, o risco de suicídio, além das dependências químicas (veja box). Ao perguntar à profissional por que tais atrocidades ocorrem dentro de círculo familiar (englobando aqui amigos e namorados), a terapeuta responde que pessoas próximas muitas vezes estabelecem vínculos possessivos, sentem-se donos do outro e quando contrariados, não suportam a dor do abandono, levando até a matar a pessoa supostamente amada. "Em muitas relações familiares e até de amizades, inicialmente a paciente não enxerga o outro como ele realmente é, mas como ele gostaria que fosse. E à medida que vai conhecendo melhor a pessoa, vendo quem ela realmente é, o sujeito pode não gostar, porque percebe que não tem controle sobre ela. Isso ocorre também com pais, que não planejam filhos e quando os têm, não toleram o choro de criança, não suportam atender às necessidades dela. Nestes casos, são pais também muito carentes de afeto, que não têm condições de atender às necessidades dos filhos, pois também não tiveram suas necessidades supridas", exemplifica. Para Ludmila, o grande problema da sociedade hoje é a existência de muitas pessoas "socialmente abandonadas". E, o contínuo processo de frustrações gera agressividade e luta pela sobrevivência. Em alguns casos, podendo até contribuir para o desenvolvimento da psicopatia. Segundo Ludmila, a psicopatia é definida como uma perturbação da personalidade, com distúrbio de conduta. Hoje, o termo psicopata não é mais usual. Pessoas com este perfil são chamadas de portadores do transtorno antissocial da personalidade, que pode ser classificada ainda como parcial ou grave. Portanto, o psicopata prejudica o semelhante de várias maneiras e em diferentes níveis de perversidade, ou seja, não é só aquele que mata, mas que comete maldades de maneira sorrateira e maquiavélica. É importante salientar, diz a psicóloga, que a psicopatia é considerada como a mais grave alteração de personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia são responsáveis pela maioria dos crimes violentos, cometem vários tipos de crime com maior frequência do que os não-psicopatas e, ainda, têm os maiores índices de reincidência. Prevenção e gatilho É possível prevenir algumas doenças mentais? Segundo a professora e mestre, sim. Por meio do autoconhecimento, seja por meio da psicoterapia, da ioga, de atividades de lazer, que possibilitam maior consciência e responsabilidade sobre as escolhas que temos de fazer na vida. Outro ponto que pode fortalecer a saúde mental é a valorização familiar e social, pois esta condição ajuda a aumentar a autoestima. A qualidade de vida também está relacionada à prevenção: "moradia, lazer, transporte, saúde, segurança, emprego são condições básicas para a saúde mental de uma sociedade", destaca Ludmila. É preciso lembrar ainda que existem algumas situações que funcionam como gatilho de comportamento. O desamparo, a incompreensão, a insegurança, além do uso de álcool e drogas podem desencadear comportamentos antissociais e psicoses. Tratamento Psicoterapias, remédios ou internações? Qual é o tratamento mais eficiente para os transtornos mentais? Segundo a psicóloga é importante uma avaliação inicial, seja por psicólogo ou por psiquiatra. O bom profissional vai verificar a necessidade de acompanhamento correta, de psicoterapia, pelo psicólogo, ou de medicação, pelo psiquiatra. Ludmila cita que pesquisas recentes mostram que a psicoterapia associada à medicação tem melhores resultados, em muitos casos. "Só a medicação não é suficiente, pois apenas trata os sintomas (as consequências), mas não as causas, os conflitos que levam ao transtorno", pondera, acrescentando que a psicoterapia é necessária na maioria dos casos, pois induz a pessoa tornar-se mais consciente de suas escolhas e incentiva ela a buscar soluções para os seus problemas, e não apenas a mascará-los.