Dados da Polícia
Federa l i nd icam
que entre
2003 e 2006 ocorreu
superfaturamento nas
obras de dez aeroportos
do País, incluindo o de
Corumbá. No total, o esquema
fraudou R$ 991,8
milhões dos cofres públicos,
fortuna suficiente para construir 34 mil casas,
onde poderiam ser abrigadas 113 mil pessoas, de
acordo com o relatório da PF. Ou seja, é dinheiro que
não acaba mais. Se os servidores públicos e empreiteiros
realmente desviaram este dinheiro todo caberá
à Justiça dizer. Porém, é de se imaginar que a Polícia
Federal não seria irresponsável ao ponto de apontar
tamanho esquema de corrupção sem que tivesse evidências
claras. E, para confirmar a tese de que onde
há fumaça há fogo, vale lembrar que não é de hoje
que os superfaturamentos fazem parte da relação
entre determinadas empreiteiras e homens públicos.
Esta tradição, contudo, de nada adianta para
que os responsáveis pelas empreiteiras e principalmente
os administradores públicos sejam punidos
ou que algum dinheiro seja devolvido. Pelo contrário,
ficam cada vez mais poderosos. Empresas como
Odebrecht, OAS, Constran, Queiroz Galvão, Mendes
Júnior, Gautama, Camargo Corrêa e Financial (só para
citar algumas das 18 apontadas pela Polícia Federal)
já se envolveram numa infinidade de escândalos, mas
continuam executando os principais projetos pelo País
afora. E, embora um suposto caso de fraude não seja
por si só prova de que nas demais obras também há irregularidades,
não se pode negar que, quando alguém
cometeu um deslize voluntário de caráter ou de honestidade,
sua credibilidade literalmente foi enterrada
e a tendência natural é que, a partir daí, fosse banido.
No caso da Financial, que realizou obras
em Corumbá e está entre as citadas pela PF, é quase
incontável o número de casos em que foi acusada
de negócios suspeitos com o poder público. Mas é
cada dia mais abrangente seu envolvimento com as
administrações locais, tanto na Capital quanto no
interior do Estado. Com as empresas de abrangência
nacional, a situação é idêntica. Os administradores
destas empresas podem até alegar que são literalmente
obrigadas a distribuir propinas caso queiram
vencer alguma licitação. Nisto certamente têm razão.
Contudo, se mantêm o silêncio e não denunciam os
políticos corruptos é porque levam vantagem nestes
esquemas. Não são raros os casos de empresários que
entraram no setor da construção, mas que se retiraram
porque não suportaram as manipulações ou que
se contentam em pegar obras secundárias, as quais
pouco interessam aos barões. Ao realizarem obras
públicas, as empreiteiras transformam-se em "empregados"
do contribuinte, já que é ele quem paga a
conta, superfaturada ou não. Em sã consciência, qual
o cidadão que contrataria um funcionário que já deu
provas de que não é confiável, que desvia dinheiro do
patrão? No meio político, porém, a lógica parece ser
exatamente a inversa.