Isabella foi esganada e arremessada de prédio, afirma legista
24 MAR 10 - 10h:13
A menina Isabella Nardoni
sofreu diversas lesões que culminaram
em sua morte, entre
elas, asfixia mecânica, fruto
de uma esganadura, e outras
decorrentes de quedas. As
afirmações foram feitas ontem
pelo legista Paulo Sergio
Tieppo Alves ao júri popular
que decide se Alexandre Nardoni
e Anna Carolina Jatobá
são culpados ou inocentes
pela morte da menina, em
março de 2008. Ontem foi o
segundo dia do julgamento.
Para comprovar que a menina
se mordeu ao ser esganada,
o médico legista mostrou
imagens da parte interna da
bochecha. Alguém tentou impedi-
la de gritar. Segundo Alves,
que prestou depoimento
como testemunha de acusação
no caso, a morte de Isabella
ocorreu pela associação
de um conjunto de traumas.
“Há sinais específicos da esganadura.
Outros que atestam a
queda do sexto andar. E ainda
outros traumas”, afirmou.
O legista especifica que
determinadas lesões mostram
que Isabella sofreu uma queda
momentos antes de desabar
do edifício London. “Dentro
do conjunto da perícia, os
laudos mostram que alguém a
jogou contra o chão.”
Em seguida, o legista foi
pressionado para afirmar se
existiria a possibilidade de essa
asfixia ser causada pela queda
do prédio. “Pode acontecer uma
esganadura comum. E esse laudo
específico em relação a esganadura
mostram que esses
ferimentos não têm nenhuma
relação com a queda ou com
manobras produzidas, por
exemplo, para ressuscitação
de uma vítima. Nesse caso, os
traumas nos mostram que realmente
houve a esganadura.”
O promotor do caso, Francisco
Cembranelli, defende
que Isabella foi jogada pela
janela do 6º andar do edifício
London pelo pai. Antes, teria
sido esganada pela madrasta
e agredida por ambos – teria
sido atirada inconsciente. Já a
defesa do casal insiste na tese
de que havia uma terceira
pessoa no prédio. Os dois negam
as acusações e se dizem
inocentes.
Mais depoimentos
O primeiro depoimento do
segundo dia de julgamento
foi da delegada Renata Pontes,
que era do 9ª DP (Carandiru) à
época do crime. Ela afirmou
aos jurados que as investigações
apontaram que não há
hipótese de que uma terceira
pessoa tenha atuado no homicídio
de Isabella Nardoni,
5 anos, que morreu em março
de 2008 após a queda do 6º
andar do edifício London, zona
norte de São Paulo.
A delegada, que afirmou ter
“100% de certeza” de que Alexandre
Nardoni e Anna Carolina
Jatobá cometeram o crime
sozinhos, disse que mais de 30
policiais vasculharam o local
e não encontraram vestígios
de que outra pessoa esteve no
apartamento naquela noite.
Segundo a delegada, com base
em depoimentos de vizinhos,
eles ouviram gritos de uma
criança chamando pelo pai.
“Para, pai!”. Em seguida, alguns
deles relataram ter ouvido um
som abafado, que poderia ser
de uma criança caindo.
O advogado de defesa, que
tentou desqualificar o depoimento
da delegada, a questionou
sobre laudos e sobre o
sangue encontrado no apartamento.
Para Roberto Podval,
não há provas concretas que
liguem o casal aos ferimentos
de Isabella. O advogado também
perguntou à testemunha,
também arrolada pelo promotor
do caso, Francisco Cembranelli,
se ela tinha conhecimento
de histórico de violência do
casal, sem ser por depoimentos
de terceiros.
“O que sei é que há relatos
de que Jatobá já arremessou
um dos filhos por ciúme, e que
Alexandre repreendeu o próprio
filho jogando-o no chão”,
afirmou Pontes, com base no
que disseram a mãe de Alexandre
e a mãe de Ana Carolina
Oliveira, avó de Isabella.
Durante questionamento
do promotor do caso, Francisco
Cembranelli, a delegada
também defendeu que nunca
houve qualquer abuso por
parte de policiais envolvidos
na investigação e disse que
nunca pré-julgou o casal, em
resposta a Podval sobre porque
passaram um dia inteiro
na delegacia naquele dia.
“Fizemos exames porque é o
procedimento, até para não
haver acusação infundada. O
crime é muito complexo. Eles
foram ouvidos informalmente
muitas vezes”, afirmou.
Cembranelli usou uma
maquete especialmente feita
para júri, que reproduz o
apartamento no edifício London,
onde o crime aconteceu.
A maquete reproduz marcas
de sangue encontradas no
apartamento, que a delegada
confirmou ter encontrado:
na entrada do apartamento e
no quarto dos filhos do casal.
Posteriormente, por meio do
luminol, mais sangue foi encontrado,
segundo ela.
Cansaço
O juiz Maurício Fossen encerrou
às 19h35min de ontem
o segundo dia de julgamento
dos Nardoni. A sessão terminou
antes do previsto, 21h,
por conta do cansaço dos
presentes no plenário.
O depoimento do perito
baiano Luiz Eduardo Carvalho
foi breve e muito técnico.
Em cerca de 40 minutos, ele
contou que analisou as manchas
de sangue que estavam
no lençol das camas dos filhos
do casal.
Ele foi chamado pela acusação
por ser especialista na
análise de manchas. Luiz
Eduardo Carvalho concluiu
que as gotas de sangue caíram
de uma altura de 1,25 m. Com
sinais evidentes de cansaço,
o júri acompanhou a sessão
impassível.