A menina Isabella Nardoni sofreu diversas lesões que culminaram em sua morte, entre elas, asfixia mecânica, fruto de uma esganadura, e outras decorrentes de quedas. As afirmações foram feitas ontem pelo legista Paulo Sergio Tieppo Alves ao júri popular que decide se Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são culpados ou inocentes pela morte da menina, em março de 2008. Ontem foi o segundo dia do julgamento. Para comprovar que a menina se mordeu ao ser esganada, o médico legista mostrou imagens da parte interna da bochecha. Alguém tentou impedi- la de gritar. Segundo Alves, que prestou depoimento como testemunha de acusação no caso, a morte de Isabella ocorreu pela associação de um conjunto de traumas. “Há sinais específicos da esganadura. Outros que atestam a queda do sexto andar. E ainda outros traumas”, afirmou. O legista especifica que determinadas lesões mostram que Isabella sofreu uma queda momentos antes de desabar do edifício London. “Dentro do conjunto da perícia, os laudos mostram que alguém a jogou contra o chão.” Em seguida, o legista foi pressionado para afirmar se existiria a possibilidade de essa asfixia ser causada pela queda do prédio. “Pode acontecer uma esganadura comum. E esse laudo específico em relação a esganadura mostram que esses ferimentos não têm nenhuma relação com a queda ou com manobras produzidas, por exemplo, para ressuscitação de uma vítima. Nesse caso, os traumas nos mostram que realmente houve a esganadura.” O promotor do caso, Francisco Cembranelli, defende que Isabella foi jogada pela janela do 6º andar do edifício London pelo pai. Antes, teria sido esganada pela madrasta e agredida por ambos – teria sido atirada inconsciente. Já a defesa do casal insiste na tese de que havia uma terceira pessoa no prédio. Os dois negam as acusações e se dizem inocentes. Mais depoimentos O primeiro depoimento do segundo dia de julgamento foi da delegada Renata Pontes, que era do 9ª DP (Carandiru) à época do crime. Ela afirmou aos jurados que as investigações apontaram que não há hipótese de que uma terceira pessoa tenha atuado no homicídio de Isabella Nardoni, 5 anos, que morreu em março de 2008 após a queda do 6º andar do edifício London, zona norte de São Paulo. A delegada, que afirmou ter “100% de certeza” de que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá cometeram o crime sozinhos, disse que mais de 30 policiais vasculharam o local e não encontraram vestígios de que outra pessoa esteve no apartamento naquela noite. Segundo a delegada, com base em depoimentos de vizinhos, eles ouviram gritos de uma criança chamando pelo pai. “Para, pai!”. Em seguida, alguns deles relataram ter ouvido um som abafado, que poderia ser de uma criança caindo. O advogado de defesa, que tentou desqualificar o depoimento da delegada, a questionou sobre laudos e sobre o sangue encontrado no apartamento. Para Roberto Podval, não há provas concretas que liguem o casal aos ferimentos de Isabella. O advogado também perguntou à testemunha, também arrolada pelo promotor do caso, Francisco Cembranelli, se ela tinha conhecimento de histórico de violência do casal, sem ser por depoimentos de terceiros. “O que sei é que há relatos de que Jatobá já arremessou um dos filhos por ciúme, e que Alexandre repreendeu o próprio filho jogando-o no chão”, afirmou Pontes, com base no que disseram a mãe de Alexandre e a mãe de Ana Carolina Oliveira, avó de Isabella. Durante questionamento do promotor do caso, Francisco Cembranelli, a delegada também defendeu que nunca houve qualquer abuso por parte de policiais envolvidos na investigação e disse que nunca pré-julgou o casal, em resposta a Podval sobre porque passaram um dia inteiro na delegacia naquele dia. “Fizemos exames porque é o procedimento, até para não haver acusação infundada. O crime é muito complexo. Eles foram ouvidos informalmente muitas vezes”, afirmou. Cembranelli usou uma maquete especialmente feita para júri, que reproduz o apartamento no edifício London, onde o crime aconteceu. A maquete reproduz marcas de sangue encontradas no apartamento, que a delegada confirmou ter encontrado: na entrada do apartamento e no quarto dos filhos do casal. Posteriormente, por meio do luminol, mais sangue foi encontrado, segundo ela. Cansaço O juiz Maurício Fossen encerrou às 19h35min de ontem o segundo dia de julgamento dos Nardoni. A sessão terminou antes do previsto, 21h, por conta do cansaço dos presentes no plenário. O depoimento do perito baiano Luiz Eduardo Carvalho foi breve e muito técnico. Em cerca de 40 minutos, ele contou que analisou as manchas de sangue que estavam no lençol das camas dos filhos do casal. Ele foi chamado pela acusação por ser especialista na análise de manchas. Luiz Eduardo Carvalho concluiu que as gotas de sangue caíram de uma altura de 1,25 m. Com sinais evidentes de cansaço, o júri acompanhou a sessão impassível.