Sinopec, Huawei, Lenovo, Sany, Gree, Cherry, Jac Motors são algumas das marcas que os brasileiros estão começando a se acostumar a ouvir. Todas são chinesas e são exemplos da presença do gigante asiático no Brasil. No ano passado, os investimentos da China no País superaram US$ 29,5 bilhões (cerca de R$ 48,2 bilhões), de acordo com um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), cuja prévia foi apresentada nesta quarta-feira, no worshop Relações Economicas Brasil-China, em Brasília.
O número corresponde não apenas aos investimentos concretizados no ano passado, que são 44% do total (US$ 12,9 bilhões), mas também aos anunciados (27%, US$ 8 bilhões) e em negociaçã (29%, US$ 8,6 bilhões). O negócio de maior destaque no ano foi a compra de 40% das ações da Repsol Brasil pela Sinopec, estatal chinesa de petróleo e gás, no valor de US$ 7,1 bilhões.
A operação entre as petrolíferas faz parte da categoria fusões e aquisições, que tem sido a modalidade preferida dos chineses no Brasil, a exemplo da presença do país asiático em outros países, como Franca e Itália, segundo o CEBC. Esse tipo de investimento correspondeu por aproximadamente 83% da entrada chinesa de recursos no Brasil.
Uma hipótese que poderia explicar a preferência chinesa pelas fusões e aquisições, segundo André Soares, analista internacional do CEBC, são as dificuldades derivadas dos contrastes culturais entre os dois países. "As fusões e aquisições, geralmente com participações minoritárias, facilitam a vinda ao País pois, dessa forma, a empresa chinesa passa a ter seus representantes ao lado dos brasileiros."
Enquanto isso, as joint-ventures (empresas criadas em parcerias entre companhias dos dois países) corresponderam por 11,5% do total dos investimentos chineses no Brasil. Um exemplo significativo foi o aporte de US$ 3,5 bilhões que a Wuhan Iron Steel Group fez para a formação de uma joint-venture com o grupo EBX, do empresário Eike Batista, para a instalação de uma siderúrgica no norte fluminense.
A terceira modalidade de investimentos, que são os projetos greenfield (em que a empresa investe na construção de uma unidade no território estrangeiro, para instalar uma base de produção), representou 5,2% do total. Um dos exemplos mais conhecidos foi a entrada da automobilistica Cherry, que investiu US$ 400 milhões em uma fábrica no interior de São Paulo.
Recursos Naturais
Os investimentos chineses no Brasil estão concentrados principalmente nos setores de energia, mineração e siderurgia, segundo o levantamento do CEBC, que teve como fonte de informação notícias da imprensa e entrevistas com empresas. Juntos, os três setores corresponderam por 88% dos recursos depositados por empresas da China no País.
Segundo o estudo, essa distribuição setorial pode ser resultado da demanda chinesa por recursos naturais, sendo os investimentos feitos com o objetivo de produzir para a exportação para a China. "A China vem consolidando há alguns anos uma base internacional de matérias-primas e o Brasil passou a fazer parte desta base de fornecedores”, diz o estudo.
Soares comenta que uma conseqüência positiva desse movimento são os investimentos chineses em infraestrutura para o escoamento da produção para a Ásia. Um exemplo é o financiamento de parte dos equipamentos do Superporto Sudeste, no valor de US$ 1 bilhão, pela China Development Bank para a LLX, empresa de logística de Eike Batista.
Montadoras
A CEBC aponta também a entrada de investimentos direcionados à industria, que devem afetar a política industrial brasileira. Entre as representantes deste movimento nos últimos anos estão a Huawei, empresa do setor de telecomunicações, que possui uma fábrica em Campinas (SP), a companhia de maquinário industrial Sany, que se instalou em São José dos Campos (SP), e mais recentemente, as montadoras.
Pelo menos US$ 420 milhões já foram anunciados por três das maiores empresas chinesas do setor automotivo, Jac Motors Cherry e Dongfeng, segundo o estudo.