Thiago Andrade
Um mundo sem internet e celulares se tornou impensável para muitas pessoas. Ficar desconectado por algumas horas pode ser um suplício insuportável que, em casos mais sérios, causa sintomas físicos como ansiedade, taquicardia, sudorese, secura da boca e tremedeiras. Contudo, as ferramentas também são indispensáveis em diversos setores, como a economia, a educação e o próprio jornalismo. “Eu trabalho na frente do computador. Passo o dia conectada no MSN, no Twitter, no Facebook, e nos meus dois e-mails. Depois do trabalho, em casa, costumo me conectar. Sempre tem algo novo para pesquisar, sempre há alguma informação nova”, conta a estudante Mariana Lopes, de 24 anos. Ela brinca que é mais fácil encontrá-la no mundo virtual do que no real. Além do computador, Mariana também não consegue ficar longe do celular. “Durmo com ele ligado e, se esqueço em casa, volto para buscar”, afirma.
Segundo ela, ficar longe deste oceano de informação que é a internet é algo agoniante. “Quero saber o que está acontecendo, o que as pessoas estão comentando, é difícil parar de pensar”, aponta. Entretanto, Mariana não se considera uma viciada. “Eu gosto de informação e a internet me permite contato bem legal com ela. Não abro mão disso”, informa.
Criado em 2004, o Orkut foi uma das primeiras redes sociais a se tornar realmente popular. Atualmente, é difícil encontrar alguém que não tenha um perfil no site, principalmente porque os brasileiros tornaram-se os maiores usuários da comunidade, desbancando até mesmo os Estados Unidos. Depois dele, aconteceu o “boom” das mídias sociais, com o Facebook, Twitter, Formspring, para citar apenas os mais conhecidos.
Renato Amil, que morou algum tempo nos Estados Unidos, conta que lá o vício por informação é ainda maior. “Eu realizei uma pesquisa para conclusão de curso sobre ciberdependência. Quando morei na América do Norte, vi na prática aquilo que estudei”, lembra.
Mundo on-line
Empresas já reconhecem a importância de se conectar às redes sociais e contratam profissionais de comunicação para coordená-las. “O mundo inteiro se encontra na internet. Muitas informações chegam, primeiramente, às mídias sociais que aos meios oficiais de imprensa”, argumenta Daniel Belalian, estagiário de comunicação da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.
Para ele, que é aficcionado pelo Twitter, a possibilidade de compartilhar todos os tipos de informação é o que mais o atrai nas novas mídias. Daniel tem 19 anos e conta que sempre foi ligado à internet. “Baixei minha primeira música em 1999. Comecei a navegar dois anos antes. Não dá para imaginar um mundo sem a rede”, acredita. Seu próximo plano é adquirir um smartphone, para ter acesso à rede 24 horas por dia.
Jéssica Sandin também cresceu em meio ao mundo digital e não consegue imaginá-lo sem a rede de informações que o interliga. “Uso mais para ter contato com os amigos. Sempre estou com o celular à mão e dou uma checada no computador quando possível”, afirma a estudante de Direito, de 18 anos.
Som do silêncio
“As redes sociais podem dar volta ao mundo, mas se elas se restringirem ao contato virtual, isso pode se tornar um problema”, alerta o psicólogo Rômulo Said Monteiro. Segundo ele, o excesso de informação ao qual as pessoas são submetidas diariamente faz com que muito pouco seja realmente aproveitado.
“Passar o dia inteiro grudado no celular, acessar redes sociais de minuto em minuto, ou mesmo olhar cinco jornais on-line ao mesmo tempo, qual a utilidade disso? Nenhuma. Mas existe uma imposição, seja cultural, social ou de mercado, dizendo que, se você não faz isso, você está fora. É necessário um olhar crítico sobre isso”, defende.
Rômulo acredita que a rede de informação que se criou pode causar sérios problemas, que vão desde estresse e depressão à dependência comportamental. “Esses casos são cada vez mais comuns. As consequências do abuso quanto à internet e aos celulares estão estampados na nossa forma de lidar com o mundo”, explica. Para ele, quando a necessidade de estar informado causa problemas na vida do indivíduo, é um momento de se auto-avaliar.
“É uma dependência como outra qualquer, que pode não parecer prejudicial em um primeiro momento. Ela pode ser causada por diversos motivos, como carência afetiva ou necessidade profissional, mas deve ser tratada por profissionais competentes. Se o problema incomoda, é hora de procurar ajuda”, finaliza o psicólogo.