Muitos casais
deparam-se
com um fato
inesperado
quando
decidem ter um filho: a
infertilidade permanente ou
temporária. Normalmente,
a mulher que não faz uso
de métodos contraceptivos
pode levar até 12
meses para engravidar,
considerando-se que as
chances de sucesso nas
tentativas ficam em torno
de 20% a 22%, para um
casal sem problemas de
fertilidade.
As possibilidades de uma
gravidez natural diminuem
de acordo com a idade e começam
a se alterar aos 35 anos.
“Até esta idade, em princípio,
mulheres que utilizam anticoncepcionais
orais podem
engravidar assim que o uso
das pílulas for interrompido.
Já os anticoncepcionais injetáveis
de aplicação mensal ou
trimestral podem ter um efeito
cumulativo no organismo”,
explica o médico ginecologista
e obstetra Joji Ueno, coordenador
do Curso Teórico e Prático
de Reprodução Humana
Assistida, ministrado em São
Paulo.
Mas, se a gravidez não
acontecer em um ano, o casal
deve procurar ajuda médica,
ou mesmo antes, se houver
suspeita de alguma causa de
infertilidade. Portanto, antes
de desistir do sonho de ter um
bebê, é necessário investigar o
que pode estar dificultando a
gestação. Entre as principais
causas que impedem a mulher
de engravidar estão: o mioma,
a endometriose, a síndrome
dos ovários policísticos e a
menopausa precoce.
Miomas uterinos
A literatura médica registra
que de 30% a 60% das
mulheres em fase reprodutiva
apresentam os sintomas, mas
o número de portadoras de
miomas deve ser maior porque
muitas delas são assintomáticas.
“Existe uma incidência
muito grande de mulheres assintomáticas,
que descobrem
ser portadoras de mioma
uterino, quando procuram o
ginecologista para uma consulta
de rotina”, afirma o ginecologista
Joji Ueno.
Geralmente, o primeiro
sintoma da presença dos miomas
é o aumento do fluxo
menstrual. Numa proporção
muito pequena, o mioma
pode causar infertilidade na
mulher. Há casos em que, só
depois de ter-se submetido
sem sucesso ao tratamento
para engravidar durante dois
ou três anos, a mulher descobre
ser portadora de um mioma
que interfere na cavidade
endometrial, tornando impossível
a gravidez. “Nos quadros
de infertilidade, quando a mulher
vai pesquisar as causas do
problema, a presença de um
mioma uterino isoladamente
explica 5% dos casos, de 15%
a 20% quando associado a
outras doenças, como a endometriose,
ou a alguma outra
moléstia inflamatória pélvica
aguda”, diz o médico.
Segundo Joji, de acordo com
o local em que se instalam, os
miomas podem fazer parte do
quadro de infertilidade feminina.
Os submucosos podem
ser causa de abortamento de
repetição. Porém, é importante
ressaltar que nem sempre a
mulher com mioma uterino
precisa de tratamento para engravidar.
Às vezes, eles são tão
pequenos que não atrapalham
e não provocam sintomas. São
revelados geralmente pela ultrassonografia
e demandam o
que se chama de tratamento
expectante, isto é, o que se limita
a observar a evolução do
quadro de cada paciente.
Síndrome dos
ovários policísticos
A lterações menstruais
constantes constituem-se num
sinal de alerta para as mulheres,
pois podem indicar a presença
da síndrome dos ovários
policísticos ou de endometriose.
A mulher que apresenta esta
síndrome menstrua a cada
dois ou três meses e, frequentemente,
tem apenas dois ou
três episódios de menstruação
por ano, alterando obviamente
a ovulação.
Até os 23 anos de idade,
mais ou menos, mulheres com
a síndrome podem ovular esporadicamente.
Sabe-se que
nem todas as menstruações
que ocorrem espaçadamente
são ovulatórias, mas algumas
são, e a mulher consegue engravidar.
Essa é uma das patologias
mais simples de serem
tratadas porque as mulheres,
em geral, respondem ao indutor
da ovulação mais corriqueiro
que existe, o clomifeno. Ele
é administrado por via oral,
cinco dias por ciclo, a partir
do primeiro dia, e é capaz de
corrigir as anomalias endócrinas
e provocar ovulação.
Menopausa precoce
A menopausa precoce é
causada por um motivo conhecido
que marca o fim das funções
reprodutivas femininas. É
o que acontece com mulheres
portadoras de câncer – que se
submeteram ao tratamento
quimioterápico ou radioterápico,
terapias que prejudicam a
fertilidade feminina – e com as
que tiveram que remover cirurgicamente
os ovários. “Tanto a
menopausa resultante do processo
de extração dos ovários,
quanto a que resulta de tratamentos
de câncer produzem
sintomas intensos de calores
e suores, bem como secura vaginal
e os demais desconfortos
que caracterizam a menopausa
porque provocam uma queda
brusca na produção hormonal”,
explica Joji Ueno.
Quando a menopausa ocorre
antes dos 40 anos, sem uma
causa aparente, costuma-se
identificar o processo como
falência ovariana prematura.
Os desconfortos da transição
hormonal, neste caso, ocorrem
gradualmente, como na menopausa
natural. Os ciclos menstruais
tornam-se irregulares e
os demais sintomas e outros
distúrbios típicos do desequilíbrio
hormonal começam de
forma branda e recrudescem,
como na fase normal de transição
ou perimenopausa.
Este problema pode ter causas
genéticas ou ser consequência
de doenças autoimunes
como a artrite reumatóide, o
lupus e o diabetes. “As doenças
autoimunes levam o organismo
a desenvolver anticorpos
que, em alguns casos, afetam
o sistema reprodutivo e interferem
na produção dos hormônios
que regulam a ovulação e
as demais funções ovarianas”,
explica Joji Ueno. A determinação
da causa da menopausa
prematura é importante para
as mulheres que desejam
engravidar. O exame físico é
útil, seguido por exames complementares,
como o de dosagem
hormonal e o ultrassom
ovariano. Exames de sangue
podem ser realizados para se
investigar a presença de anticorpos
que acarretam danos às
glândulas endócrinas – exemplo
de doenças autoimunes.
Para as mulheres com menos
de 30 anos de idade, uma análise
dos cromossomos é geralmente
realizada.
Confirmado o diagnóstico,
a regra para tratamento é a terapia
de reposição hormonal, a
TRH. “O uso da TRH é imprescindível
nos casos de menopausa
de origem cirúrgica ou
provocada por quimioterapia,
em virtude da intensidade
destes sintomas”, afirma Joji
Ueno. Além disto, a menopausa
precoce é indicação precisa
de TRH, pois essas mulheres
apresentam risco quatro vezes
maior de desenvolver doenças
cardíacas e sete vezes maior de
desenvolver osteoporose.
Endometriose
A endometriose é tema
recorrente entre as mulheres
porque além de causar dor
durante a relação sexual, alterações
intestinais durante a
menstruação – como diarreia
ou dor para evacuar – também
está associada às dificuldades
para engravidar após um ano
de tentativas sem sucesso. Como
as cólicas menstruais são
ocorrências habituais na vida
da mulher, o médico recomenda
que a investigação das
causas da cólica deve ser feita
“quando estas apresentarem
resistência a melhorar com
remédios ou quando elas incapacitam
a mulher para exercer
suas atividades normalmente.
Pois cólica intensa é o principal
sintoma de endometriose
e leva à suspeita de que a doença
esteja instalada”, diz Joji
Ueno.
A relação entre a endometriose
e a infertilidade feminina
pode manifestar-se em
alguns casos. Pacientes em
estágio avançado da doença e
obstrução na tuba uterina que
impeça o óvulo de chegar ao
espermatozóide têm um fator
anatômico que justifica a infertilidade.
A lém d i s so, a l gu ma s
questões hormonais e imunológicas
podem ser a causa
para algumas mulheres com
quadros mais leves de endometriose
não conseguirem engravidar.
Após o tratamento,
geralmente, após a realização
da laparoscopia, uma boa parcela
das pacientes consegue
engravidar, principalmente
as mulheres em que as tubas
não tiverem sofrido obstrução.
“É por isso que no final
da laparoscopia costuma-se
injetar contraste pelo canal
do colo uterino para ver se
ele sai pelas tubas. A caracterização
dessa permeabilidade
tubária é um ponto a favor de
uma gravidez que depende,
entretanto, de outros fatores
como a função ovariana ou a
não-formação de aderências
depois da cirurgia, por exemplo”,
finaliza Joji.