Em 2002, o Brasi
l recorreu à
O r g a n i z a ç ã o
Mundial do Comércio
(OMC) contra os subsídios
que o Governo dos
Estados Unidos concedia
aos produtores de
algodão e contra a ajuda
da União Europeia
aos produtores e exportadores
de açúcar. Nas duas reivindicações, o País saiu
vencedor. No caso do açúcar, os europeus praticamente
saíram do mercado e as vendas brasileiras literalmente
explodiram nos últimos anos, ajudadas pela quebra na
produção indiana.
No caso do algodão, representantes de produtores
locais e autoridades brasileiras fizeram grandes comemorações,
pois acreditavam que a partir de então o
Brasil passaria a ter uma nova alternativa de produto
agrícola em caso de a soja, por exemplo, passar por
alguma crise. Contudo, os anos passam e praticamente
nada muda. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a
área permanece inalterada na casa dos 50 mil hectares,
pois os EUA simplesmente ignoraram a condenação.
Agora, a OMC autorizou o País a impor retaliações
aos norte-americanos. Isto significa que o Brasil pode
sobretaxar produtos dos EUA ou até mesmo quebrar
patentes, no valor anual de US$ 829 milhões. Mesmo
depois do anúncio da lista de produtos sobretaxados,
as autoridades norte-americanas continuam em absoluto
silêncio, ignorando tudo e todos. Fazem questão
de deixar claro que desprezam as normas internacionais
do comércio.
As sobretaxas e quebra de patente de medicamentos
pouco interessam ao Brasil, conforme já deixou claro
o presidente Lula. O importante mesmo seria abrir espaço
para o algodão brasileiro no mercado mundial.
Como falta competitividade ao produto, milhões de
hectares acabam sendo ocupados por milho em estados
como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso
do Sul, derrubando a cotação do grão por conta da
alta oferta, o que é catastrófico para os produtores
brasileiros. Quer dizer, os EUA literalmente atropelam
todas as normas e mesmo assim praticamente todos os
países são “obrigados” a aplaudi-los.
É evidente que país nenhum pode cometer a tolice
de romper com o maior mercado consumidor mundial.
Porém, isto comprova que a estratégia da política
externa brasileira de buscar parceiros comerciais nos
mais diferentes cantos do mundo está acertada. O caso
revela, ainda, que a chamada elite pensante brasileira
trata os assuntos internacionais com dois pesos e duas
medidas. Quando Evo Morales, por exemplo, exigiu aumento
no preço do gás, só não foi crucificado por parcela
da classe política e empresarial brasileira porque
esta é uma prática fora de moda. A atitude dos EUA, infinitamente
mais nociva à economia brasileira, porém,
simplesmente merece o silêncio destes mesmos críticos
de outras situações. Qualquer reação destas lideranças
fatalmente repercutiria em boa parcela da população.
E, dos poucos temores dos norte-americanos é a deterioração
de sua imagem, que já não é lá estas coisas.
Mas, por conta da política armamentista e jamais por
desrespeitar as normas comerciais, base do modelo
capitalista atual, que depende da globalização.