Deputados da base aliada do Governo
não pouparam críticas à decisão do prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad
(PMDB), de manifestar sua preferência pela
provável candidata petista à Presidência da
República, Dilma Rousseff.
Eles argumentam
que o prefeito deveria ter aguardado a definição do
governador para declarar sua preferência pelo candidato
ao Planalto. E não ficaram somente nas críticas.
Ameaçam, inclusive, privá-lo de um possível apoio caso
venha a disputar o Governo do Estado, por exemplo.
Eles entendem que o prefeito, assim como eles,
deve ficar submisso aos interesses do governador.
Fidelidade e coerência política é, realmente,
uma característica importante em qualquer homem
público. Porém, será que é mais importante que o
homem público seja fiel, ou submisso, ao seu grupo
político ou à população? O prefeito Nelsinho Trad, ao
descer do muro a respeito do candidado à Presidência,
certamente levou em consideração o que seria melhor
para a população da cidade que administra. Seu argumento
principal foi o de que não poderia ser ingrato
com quem o ajudou e ainda deverá ajudar muito nos
quase três anos que lhe restam à frente da Prefeitura
de Campo Grande. Quer dizer, entre os políticos e
aquilo que provavelmente é melhor para os campograndenses,
o prefeito preferiu submeter-se aos eleitores
da cidade onde nasceu. Gratidão, como ele próprio
definiu sua opção, tem sido uma das virtudes nestes
cinco anos à frente da administração. E, em nome desta,
não é a primeira vez que desaponta interesses daqueles
que se consideram caciques. O dinheiro repassado
pela União é público e não pertence ao presidente ou
à pré-candidata, argumentam seus críticos. Disto não
restam dúvidas. Porém, ao longo dos últimos anos, o
governador André só lhe repassou "abacaxis". Enquanto
isso, Lula descascou vários deles. Talvez seja por
conta disso que agora fez questão de se mostrar grato.
Além disso, ao declarar-se "petista" na eleição
presidencial e "andresista" na estadual, deixou clara, pela
primeira vez, sua independência com relação ao grupo
político ao lado do qual fez sua trajetória nestes últimos
anos. E evidenciou que não se trata de rompimento
ou qualquer coisa neste sentido. Somente mostrou que
tem liderança suficiente, ou status, para definir o norte
próprio e o do partido no Estado, até porque conta hoje
com popularidade maior que a de todos os seus críticos
juntos, os quais certamente falaram em nome do governador.
Deputados que o reprovaram estão convencidos
de que Nelsinho é um "simples" subalterno do "chefe
André". Se algum dia este foi o caso, o próprio André
já deixou claro, nas entrelinhas, que nem ele mais tem
esta convicção. No dia em que afirmou que gostaria de
ter Nelsinho e Simone Tebet, prefeita de Três Lagoas,
como candidatos do PMDB ao Senado, assumiu a perda
de prestígio pessoal e também que estava carecendo
do socorro dos dois prefeitos para tentar salvar sua
reeleição, já que o petista José Orcírio insiste em não se
retirar da disputa. E, a partir do momento em que Trad
anunciou apoio a Dilma Rousseff, o poder de convencimento
de André em Brasília sofreu sério abalo. Se até o
começo desta semana o governador havia determinado
poder de barganha, agora ele caiu quase pela metade.