O progresso se dá com o esforço para atender necessidades, e foi assim que surgiu um industrial em Campo Grande apostando na atividade pelo período de 1940 a 1958. Miguel Letteriello, um italiano que se fez apaixonado campo-grandense, chegando a defender a cidade publicamente e a ela entregar sacrifícios cotidianos. O seu filho, Rêmolo Letteriello, entregá-lhe, em memória, um pouco do crédito que lhe deve a história, ao registrar importante artigo que o eterniza na publicação "Personalidades – Série Campo Grande – Ano V – 2003 – da Prefeitura Municipal.
Rêmolo Letteriello, filho de Miguel Letteriello e Nélida Andreoni Letteriello, nasceu a 20 de março de 1941, natural de Campo Grande, MS. Ocupa a cadeira 22 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, patrono Vespasiano Martins, ocupada anteriormente por Oliva Enciso, em memória. Formado em Direito (Universidade Federal do Paraná, 1966). É desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. Presidente da Comissão dos Juizados Especiais do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil; vice-presidente e corregedor do Tribunal Regional Eleitoral – MS, entre muitas outras funções.
Das obras publicadas, de Rêmolo, temos também: "Ação Reivindicatória" em co-autoria com Paulo Tadeu Haendchen, 1988; "Ação de Usucapião Ordinário", 1986; e "Repertório dos Juizados Especiais Cíveis e Estaduais" (sobre a Lei 9.099/95).
Um nome fulgura entre os maiores impulsionadores do progresso de Campo Grande, ao seu tempo. Miguel Letteriello é "O imigrante italiano pioneiro da industrialização que acreditou em Campo Grande", como diz a epígrafe do artigo que Rêmolo entregou à cultura campo-grandense. Miguel Letteriello (10/12/1902, cidade de Rivello, Basilicata – zona sul da Itália — 11/3/1986, Campo Grande-MS) acompanhando sua mãe, em 1925 aportava em Miranda, onde já se houvera radicado o seu pai.
A partir desse momento (1925), narra o autor, Miguel lançou-se à "penosa e longa jornada de um caixeiro viajante". Percorria cidades de São Paulo e Mato Grosso, utilizando precaríssimos meios de transporte em regiões que se encontravam em condições rudes, praticamente ainda em fase de desbravamento. Representava empresas como a Singer; Samuel Colicoff; J. Bignardi; Chocolates Gardano, Metalúrgica Fracalanza, Renner e outras.
Chegado a Campo Grande, 1940, materializava o seu sonho de tornar-se industrial e fundou o empreendimento "Fábricas Paulistas Ltda.". Produzia caramelos e doces, abastecendo o sul de Mato Grosso e o vizinho Estado de São Paulo. Vitorioso nos primeiros cometimentos, Miguel Letteriello implantou, a 1942, o primeiro pastifício, em escala industrial, do Estado.
"Um apaixonado" pelo município de Campo Grande, narra o autor, Rêmolo, sobre o seu pai. E escreve: os padres salesianos relatavam que São João Bosco, em 1883 fez profecia sobre uma grande cidade que surgiria entre os paralelos 15º e 20º e seria "A Terra Prometida", o berço de uma grande civilização. Dizia-se que seria Brasília, mas, para Miguel "essa cidade seria Campo Grande, igualmente situada entre os graus 15 e 20 na América do Sul".
"Uma personalidade nobre e participativa", pontua o escritor definindo a atitude benemerente de Miguel Letteriello, cujas práticas a mancheias aureolaram-se na ampla folha de serviços que prestou por meio da Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária, entidade de nobilíssimos propósitos e longas ramificações. Ali foi diretor do Setor de Artes e Ofícios.
Miguel apoiou e dirigiu o Esporte Clube Comercial do início da década de 40; com suas indústrias manteve equipe de voleibol feminino; na condição de industrial prestou serviços, sem receber remuneração financeira, à Associação dos Criadores do Sul de Mato Grosso, atual Acrissul.
E foi presidente da Associação de Proprietários de Imóveis de Campo Grande, de 1955 a 1965. Diretor da Associação Comercial. Em 1954, capitaneando industriais, participara da fundação da Associação das Indústrias de Campo Grande, que depois foi integrar a Associação Comercial e Industrial de Campo Grande.
Rêmolo Letteriello registra como "O fim das indústrias" o estado de coisas mediante o qual "As atividades industriais de Miguel Letteriello cessaram em 1958, exatamente na época em que pretendia expandi-las com a implantação de novas fábricas em Campo Grande". Racionamento energético. Depois, no livro "Campo Grande – 100 Anos de Construção", o empresário Jorge Elias Zahran escreveria que Miguel "Foi um pioneiro que, como outros, sucumbiu diante da grande dificuldade para a industrialização de Campo Grande, a falta de energia elétrica".
Sem desesperança, sem aflição; o antigo viajante prosseguiu ensinando caminhos de otimismo e resignação. Soubera transmitir aos seus descendentes, conceitos de iniciativa própria, honradez e trabalho, idealismo e coragem.
Miguel Letteriello! Se você acreditou em Campo Grande, a cidade, por sua vez, imortaliza-o em sua história, enriquecida com os seus bons exemplos, testemunhados pelos seus filhos, como interpreta Rêmolo Letteriello. Um filho que lhe fala com amor. Sempre o amor, resumindo todas as viagens. Amor que não passa, ainda que passassem todas as demais coisas.
Guimarães Rocha