O governo planeja novas medidas para proteger a indústria local da queda do dólar, incluindo a investigação sobre produtos chineses que entram indevidamente no país por outras nações, afirmou à Reuters na sexta-feira (13) o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
Pimentel disse que a investigação da chamada "triangulação" de bens será a primeira do tipo no país. O primeiro caso envolverá cobertores vindos da China que chegaram ao Brasil via Paraguai e Uruguai, com mais investigações sendo esperadas para os próximos meses, afirmou.
As medidas ocorrem conforme a presidente Dilma Rousseff enfrenta grande pressão de manufatureiros, importante eleitorado, para desacelerar uma enxurrada de produtos importados.
O dólar está relativamente próximo das mínimas da década, graças à força da economia brasileira e à avalanche de capitais oriunda do mundo desenvolvido.
"Não podemos ficar parados assistindo a nossa indústria ser devastada pela taxa de câmbio, que não vai mudar no curto prazo", afirmou Pimentel.
O ministro também se reunirá com uma nova equipe de autoridades da Receita Federal e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para monitorar as importações, um passo que, segundo ele, vai substancialmente melhorar a capacidade do governo de compartilhar informações e identificar "dumping" e outras práticas comerciais injustas.
Alguns líderes empresariais brasileiros têm pedido por ações como essa há meses.
As medidas, somadas a outras recentes ações incluindo novas barreiras para reduzir as importações de automóveis, ameaçam provocar uma nova onda de protecionismo na América do Sul, possibilidade totalmente descartada por Pimentel.
"Isso não é protecionismo. São os instrumentos de que dispomos", disse o ministro, acrescentando que as medidas são autorizadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Pimentel afirmou que as medidas para o setor automotivo, particularmente, não visam um país específico --incluindo a Argentina, que protestou fortemente contra a iniciativa.
"Há gente que acha que (a medida de autos) tem a ver com a Argentina. Não é assim. É parte de uma grande estratégia para proteger a nossa indústria, não é uma guerra comercial com ninguém", disse.
Ele considerou o setor automotivo "estratégico" para o Brasil e disse que o recente salto nas importações de veículos é um símbolo das dificuldades enfrentadas pela indústria local.
O real acumula ganho de cerca de 42% desde 2009, sendo considerado pelo Goldman Sachs a moeda mais sobrevalorizada do mundo dentre as principais.
A economia brasileira também está lidando com outros sinais de possível superaquecimento, incluindo o salto da inflação, cuja leitura em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou em abril 6,51%, acima do teto da meta, que tem centro em 4,5% e tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
No início desta sexta-feira, a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi, enviou uma carta a Pimentel pedindo que ele reconsiderasse a decisão de atrasar a concessão de licenças para veículos importados, algo que, na prática, reduz o comércio.