Vânya Santos O golpe do torpedo premiado continua sendo uma das estratégias de financiamento de organizações criminosas que atuam de dentro dos presídios, em todo o País. O crime é usado para se levantar dinheiro ou para obtenção de créditos de celulares, o que mantém em funcionamento as centenas de aparelhos introduzidos ilegalmente nas celas. De acordo com o assessor de comunicação da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, delegado Jefferson Luppe, porém, é a combinação entre a vontade de algumas pessoas de ganhar dinheiro fácil com a urgência de bandidos em conseguir recursos que assegura o êxito do golpe. Normalmente, a mensagem é enviada aleatoriamente por detentos para celulares de todo o Brasil e, depois de consumado, o crime pode “render” de R$ 100 a R$ 300, dependendo da vítima. “SBT - Tim. Sua linha móvel é a ganhadora com lote premiado. Parabéns! Ganhou um Citroën C4 zero km e mais R$ 10 mil. Para mais informações ligue 041 88 9606-1568”. Esse é apenas um dos textos prontos que os internos disparam diariamente. Para dar maior credibilidade ao golpe, os presos utilizam nomes de grandes companhias telefônicas, emissoras de TV, bancos ou concessionárias de veículos. Eles enviam torpedos informando que a pessoa foi contemplada num sorteio, concurso ou promoção e ganhou um prêmio, que pode ser carro zero-quilômetro, apartamento, casa ou alta quantia em dinheiro. “A pessoa recebe uma mensagem no celular sem ter jogado ou participado de sorteio. Isso é explorar o que o ser humano tem de pior que é a ganância. Algumas pessoas querem ganhar dinheiro fácil e rápido”, explicou o delegado, esclarecendo que os presos precisam de crédito de celular para manter contato com segmentos das organizações criminosas que estão fora do presídio e dinheiro para adquirir armas e pagar suborno. “É uma forma de fazer caixa”, definiu Jefferson Luppe. Já o concessionário da Citroën em Campo Grande, o proprietário da empresa Motor 3 France, Marcos Alberto, esclareceu que não existe promoção vigente que tenha como premiação veículo como o C4, que pode chegar a R$ 80 mil, dependendo do modelo. O torpedo premiado vem acompanhado de um número de telefone celular para que a vítima entre em contato, “gratuitamente” – como informa o golpista em alguns casos – para saber detalhes da premiação. Ao efetuar uma ligação tarifada, já que o número é de celular, a vítima é atendida por um “operador de telemarketing”. Utilizando termos semelhantes aos de profissionais de teleatendimento, alguns presos chegam, inclusive, a comunicar que por motivos de segurança a ligação está sendo gravada. Durante o telefonema, o detento informa, ainda, que o contemplado terá que pagar uma pequena taxa referente ao pagamento de imposto, despesa com cartório ou despacho aduaneiro de mercadoria importada. O depósito deste valor é imprescindível para a liberação do prêmio. À vítima são informados dados de uma conta bancária para que o valor seja depositado. Geralmente, a taxa de liberação varia de R$ 100 a R$ 300. Um comparsa fica responsável por acompanhar o momento em que o dinheiro é liberado na conta para que possa ser retirado o mais rápido possível. A ação rápida tem como objetivo impedir que a vítima descubra o golpe e peça estorno do depósito. O golpista também pode pedir que a pessoa compre cartões de celular pré-pago da operadora que patrocina a promoção e repasse os códigos ao “atendente”. Ao cair no golpe a pessoa colabora com as finanças de facções criminosas. “A vítima fica sem enxergar, faz tudo escondido e quando vê já foi enganada. Além de a pessoa ficar sem dinheiro, outro grande prejuízo para a sociedade é que a pessoa está alimentando uma organização criminosa”, garantiu o assessor de comunicação.