Ninguém gosta de perder, muito menos eu. Na condição de brasileiro senti-me frustrado com a derrota da seleção canarinho que insiste em jogar de azul contra a Holanda. A essa cor faltam tradição e respeito. No entanto, a derrota é muito mais rica e norteadora de novos rumos, é o consolo que nos resta.
O que aconteceu com a seleção brasileira no segundo tempo daquele jogo fatídico já havia se desenhado nos jogos amistosos que o Brasil fizera no Zimbabwe e Tanzânia. Em duas oportunidades o volante da Juventus perdera a bola no meio de campo e propiciara um contra ataque que não resultou em gol pela limitação técnica dos adversários e lamentavelmente, num jogo amistoso fez faltas que deveriam ser punidas com cartão vermelho. Não o foi porque era jogo de congraçamento. A violência desse volante continuou no jogo contra Portugal. Nosso treinador que é teimoso nada fez e também não fez a análise correta do que poderia acontecer num jogo decisivo como ocorreu. Basicamente convocou volantes para atuar no meio campo. Uns mais outros menos criativos, mas todos abaixo da linha criativa necessária para gerar jogadas conscientes que alcançassem o gol adversário. Para tomar a melhor decisão é preciso ter a maior perspectiva possível. Isso não é só no futebol, é em qualquer circunstância da vida. O técnico brasileiro limitou a perspectiva com os seus convocados, e na hora da primeira adversidade real as opções não apareceram porque não tinha banco. O técnico holandês adiantou a marcação e induziu ao erro brasileiro. Era a hora da mudança do esquema tático. Não tinha peças multiuso ou mesmo versáteis. A arte do futebol brasileiro foi esquecida e priorizou-se tão-somente a submissão e disciplina para compor o famigerado “grupo”. Bateu o nervosismo que compromete o sincronismo, equilíbrio e habilidade musculares. Faltou um líder equilibrado e consistente dentro do campo para que pudesse recobrar a tranquilidade necessária para se alcançar a vitória. Não tinha, o resultado foi a eliminação do Brasil que até mesmo na vitória parcial não foi capaz de se impor e ampliar a vantagem no marcador.
Ninguém é campeão por decreto. Muitas são as variáveis que resultam numa vitória, a começar pelo objetivo do presidente da CBF que pela sua escolha desencadeia sequência de fatos ou atitudes que delineiam as resultantes. Todos se enganaram com as conquistas regionais e com a primeira colocação antecipada nas eliminatórias, mas se esqueceram da derrota para a Bolívia por 2x1 na 17ª rodada no dia 11/10/09 e o empate com a Venezuela no Morenão por 0x0 na 18ª rodada no dia 14/10/09. Eram duas seleções fracas, 9ª e 8ª colocadas respectivamente, onde de 6 pontos possíveis o Brasil só conquistou 1. Não se questionou o porquê de tão baixo desempenho. Todos ficaram satisfeitos porque o Brasil já estava classificado e tinha ganhado da Argentina e Uruguai. A soberba precede a ruína e a altivez de espírito, a queda. Faltou crítica séria e responsável por parte da imprensa e não aquela bajulação da TV hegemônica que lamentavelmente tem parcela de culpa na manipulação da opinião pública. Ainda bem que pediram para seu comentarista calar a boca.
Copa do Mundo é alto nível técnico, científico, psicológico, econômico e político. O único atributo que subjuga todos esses elementos e todos se dobram a ela, é a arte. O nosso técnico se esqueceu dela e priorizou outros valores. Temos neste País atletas de qualidade suficiente para formar 5 seleções de futebol campeãs do mundo ao mesmo tempo. O técnico nunca foi técnico e, portanto não tinha qualificação para tal. Não tinha equilíbrio emocional nem sabedoria para se concentrar no seu propósito maior e gastou as suas energias e tempo brigando e agredindo jornalistas. Outra decepção foi a Argentina. Estava também ali um aprendiz de técnico. A queda foi maior ainda.
Esses fatos futebolísticos nos mostram que o sucesso requer preparo. O técnico competente, experiente, salvo excepcionalidades raríssimas, é 50% do time. Também é assim na vida e na política. Não podemos permitir que aventureiros nos dirijam sem terem o mínimo necessário de competência e habilidade para conduzir uma nação de forma acertada. Aqueles que se escondem atrás de tutores ou padrinhos é porque têm vida pregressa complicada e conturbada e não se expuseram a questionamentos sociais. Não desenvolveram habilidade social, condição indispensável para bem conduzir um projeto e ter sucesso. Futebol na Copa é uma vez a cada 4 anos e a decisão política certa tem repercussões todos os dias por 4 anos. Até outubro de 2010 ou junho de 2014, decida pelo certo, marque gol diariamente conquistando vitórias importantes para sua comunidade e País sob a orientação de um verdadeiro técnico e não de um aprendiz.
LUIZ OVANDO, Médico e Professor de Medicina