Quem for assistir “Cabeça a prêmio”, achando que verá um passeio turístico por solo sul-mato-grossense, terá decepções. Algumas das paisagens do Estado estão ali, mas poderiam ser de qualquer outro ponto do País. Agora, quem for preparado para acompanhar trama marcada por personagens em momentos-limite, prestes a deixar o que vivem para uma nova fase, nem que para isso tenham que tomar atitudes extremas, terá ao longo de quase duas horas boas surpresas.
Marco Ricca, estreando na direção, como disse, cria palco propício para personagens em conflitos existenciais. Poderia resultar daí um filme pesado, caso o elenco não fosse adequado. Porém, felizmente, o que se acompanha são atuações beirando a antológica.
Para começar, Fúlvio Stefanini está impagável como o pecuarista traficante, amoroso com a filha e querendo deixar o mundo do crime diante do cerco policial. Há uma naturalidade no tom de voz e nos olhares. A dupla de matadores de aluguel (interpretada por Eduardo Moscovis e Cássio Gabus Mendes) apresenta caracterizações críveis. Moscovis interpreta por meio do silêncio, enquanto Cássio Gabus Mendes faz um tipo popular, que se personifica por meio do uso da palavra excessiva.
Alice Braga conquista o espectador pelo carisma, já que a personagem é a mais linear da trama. Por sua vez, Otávio Muller faz o tipo mais complexo – homossexual, assassino e invejoso. Teria tudo para cair no clichê. Longe disso, apresenta algo entre o estranho e facilmente reconhecível. Para fechar o quadro de boas atuações, aparece o ator uruguaio Daniel Hendler, interpretando o aviador. O personagem é um “sem destino”, mostrando a realidade complexa numa região de fronteira.
O saldo final é mais que positivo, mas é preciso que se diga: não é um filme para todos. (OR)