SCHEILA CANTO
Na corrida vida contemporânea, vários casais optam por ter somente um filho. Alguns são porque não desejam mesmo outra criança. Outros por razões financeiras, outros pela dupla jornada da mãe. Seja qual for o motivo, esta é a realidade de várias famílias e o grande desafio dos pais é educar estas crianças equilibrando o amor e o limite, pois a falta ou excesso de um deles, certamente trará consequências negativas ao comportamento do herdeiro. “No sentido literal da palavra todo filho único é mimado”, afirma a psicóloga de crianças e adolescentes Elizabeth Arruda, integrante da Unipsico/MS (Cooperativa de Trabalho em Psicologia).
Segundo a psicóloga, por ser único, geralmente este filho recebe dos seus genitores tudo que for possível. “Alguns pais fazem isso até mesmo para compensarem alguma dificuldade que passaram em suas respectivas infâncias”, exemplifica, acrescentando que isto se torna prejudicial, quando mãe ou pai não colocam limites e os filhos terminam vítimas de tanta atenção.
“Educar é dar amor com limites e está na contramão da permissividade. Dar em excesso, doar-se totalmente pode gerar crianças com a síndrome de rei. Eles passam a acreditar que estão ali para serem atendidos, servidos em tudo e o tempo todo. Se crescerem desta forma, além de serem adultos egoístas, também não conseguirão administrar frustrações”, alerta a especialista.
Ana Elizabete enfatiza que a criança, ao crescer com todo esse excesso, não aprenderá a dar valor ao que tem, sentindo-se sempre insatisfeito. “Mas, é fundamental que ela seja ensinada a ser feliz com o que se tem”, orienta a psicoterapeuta.
De maneira geral e bem objetiva Ana Elizabete sugere aos pais que não exagerem nos cuidados e nas cobranças em relação ao filho, sendo ele único ou não.
A acadêmica de Direito Fabiana Tinoco, 30 anos, mãe de Lívia, 10 anos, conta que mesmo estando sempre presente na vida da filha, durante toda a sua infância, deixando inclusive para voltar aos estudos, somente há um ano, educa a menina da mesma forma que foi educada. “Ela sabe o que é certo, o que é errado, tem regras para tudo, ganha presentes nas datas-chave, sabe esperar e sabe dividir. Ensinamos para ela respeito, valores e disciplina. Se tivéssemos mais filhos, acredito que não seria diferente. Só acho, que às vezes, sou rígida demais, justamente, para não pecar e criar uma filha insegura, dependente e egocêntrica”, revela Fabiana, que tem total apoio do marido, o militar Afrânio.
Outro desafio enfrentado pelas mães é fazer com que o filho ou filha aprenda a dividir e, para isso, é necessário que a criança tenha com quem dividir. O filho único, em casa, tem poucas oportunidades de dividir espaços, atenções, emprestar e pegar emprestado. “As mães podem facilitar a socialização do filho único com outras crianças, os deixando frequentar a casa de primos e amigos, como também convidar crianças para sua casa. É afirmado ainda que é fundamental as mães não se colocarem 24 horas à disposição dos filhos. Assim, eles estabelecem limites e a criança entende o quão importante é aprender a dividir e aguardar a sua vez”, ensina a psicóloga.
Para finalizar, é muito importante que as mães aprendam a lidar com suas próprias frustrações e não depositem os sonhos nos filhos, esperando que eles sejam aquilo que não são. O filho único sente-se muito cobrado, acreditando precisar ser perfeito em tudo o que se dispõe a fazer. Essa alta expectativa pode levar a criança a ficar ansiosa e insegura, prejudicando o desenvolvimento.
A funcionária pública Cirene Arguelho Ávalos, 47 anos, mãe de Jader Vinícius, 18 anos, acredita que acertou na dose do amor. “Meu filho passou pela adolescência sem grandes problemas. Conserva amigos até hoje, desde o jardim de infância. Tem uma namorada há dois anos, sabe dar e receber amor. Acredito que será um adulto bem-resolvido”, elogia a mãe.
A receita de Cirene não fugiu às orientações dos psicólogos. Ela e o marido, Antônio Carlos, oficial de Justiça, sempre tiveram muita preocupação com a superproteção. “Educar é difícil, independente do número de filhos que se tem. Acredito até que quando é único o trabalho é dobrado. Nunca compensei a falta de um irmão oferecendo tudo sem limites. Ao contrário. Ensinei que é preciso ter uma relação de troca, a importância dos vínculos e dos valores”, conclui Cirene.