Não foram poucas as vezes em que ouvi os pais se lamentando em função da chegada das férias. Nada poderia ser mais desanimador para as crianças do que saber que seu pai e sua mãe não ‘curtem’ a possibilidade de todos estarem juntos durante períodos mais longos de tempo. As férias existem também para isso, para estreitar os laços familiares, aproximar pais e filhos, criar espaços de diálogo e definir uma verdadeira amizade. O tempo passa muito rapidamente e não percebemos isso. De repente, nossas crianças se tornam adolescentes, estão às vésperas de exames vestibulares e, finalmente, decolam para seus voos particulares, em que viverão suas vidas totalmente independentes de nossa existência. Quando abrimos os olhos e percebemos a forma como o tempo se esvai, ficamos nos lamentando dos momentos que não vivemos, das emoções que não extravasamos, dos beijos e abraços que não demos. Ser pai e mãe envolve cobranças, castigos, ‘puxões de orelha’ e regras. Temos que cobrar disciplina de nossos filhos para que eles possam se adaptar aos rigores do mundo em que vivemos. Entretanto, temos que perceber a necessidade de uma presença mais participativa e carinhosa nessa relação entre pais e filhos. Brincar com os filhos em casa, ler histórias, assistir desenhos animados, desenhar, pintar e tantas outras atividades aumentam a cumplicidade e estimulam a amizade e a sinceridade entre pais e filhos. Férias em família podem ser um momento de intensa união, de programas conjuntos, de solidariedade e diversão. É um tempo sem igual, que bem aproveitado pode ser relembrado ao longo de toda a vida. E não é necessário fazer estragos no orçamento doméstico para conseguir isso. Pelo contrário, as melhores fórmulas são justamente as mais simples e baratas. Aquelas que envolvem principalmente a participação, a presença dos pais, são muito mais valiosas do que qualquer uma que envolva investimentos mais altos. Uma volta de bicicleta na praça, uma visita ao clube, brincar com carrinhos ou bonecas na sala de casa, ler histórias infantis e revistas em quadrinhos, montar quebra-cabeças ou mesmo se divertir visitando algum museu ou exposição podem ser ótimos programas aos olhos de nossos filhos. Fico indignado quando escuto as lamúrias dos pais quanto a esses meses de férias. As crianças em casa passaram a ser vistas como problema ou então como gastos adicionais. A geladeira precisa estar constantemente abastecida, é necessário agendar passeios caros, a insatisfação dos filhos parece sempre ser maior do que o contentamento, eles parecem estar o tempo todo nos nossos pés pedindo alguma coisa. Não encarem as férias dessa maneira. Revertam essas expectativas. Pensem nas boas alternativas que se apresentam a partir dessa fortuita reunião familiar. Façam uma pesquisa das alternativas existentes em sua cidade ou região. Há muitos programas gratuitos ou baratos. Tornem a estadia em sua própria casa uma lembrança das mais agradáveis. Se os filhos forem crianças, vocês podem relembrar brincadeiras de seu tempo de infância que provavelmente desconhecem, como esconde-esconde, cabra-cega, amarelinha. Outras possibilidades são passeios de bicicleta, jogar bola, criar brinquedos a partir de sucata. Não há carinho tão sincero na vida das crianças quanto aquele vivido em família.