Ivanise Andrade,
Especial para o Correio do Estado
Lívia e Larissa. Meninas brasileiras desaparecidas na Bolívia. Lívia Gonçalves Alves, de 11 anos, desapareceu em Corumbá, no dia 13 de junho. Seu paradeiro é incerto, mas a Polícia Civil trabalha com a hipótese da menina ter sido levada para a Bolívia, vítima de uma rede de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual.
Larissa tem dupla nacionalidade. Filha de mãe brasileira e pai boliviano, vivia no lado boliviano da fronteira e fazia programas sexuais tanto na Bolívia quanto no Brasil. Foi atendida pela rede de proteção brasileira, mas decidiu voltar ao país vizinho e ninguém sabe seu paradeiro.
A delegada titular da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento da Infância e Juventude) de Corumbá, Priscilla Anuda Quarti Vieira, oficiou o Consulado Boliviano e a polícia do país vizinho para que divulguem fotos e informações sobre Lívia. Assim que soube do desaparecimento, em junho, a delegada já havia tomado essa providência. Agora, a medida foi reforçada.
O inquérito ainda está em andamento e não há provas suficientes que configurem o crime de tráfico internacional de pessoas, por isso, segundo a delegada, a Polícia Federal ainda não foi acionada. “Se houver indício de transnacionalidade. Se existe uma rede, uma outra situação, no outro país, a gente passa a atuar se formos acionados”, explica o delegado da PF em Corumbá, Alexandre Nascimento. A Polícia Federal pode contatar autoridades brasileiras e bolivianas, bem como qualquer pessoa que forneça dados que levem ao possível paradeiro da menina.
“O que sabemos é que a Lívia foi sequestrada para fins libidinosos”. O caso Lívia foi o estopim para a abertura de outros sete inquéritos e a identificação de 14 vítimas, entre adolescentes e crianças. Uma moça de 19 anos foi presa, acusada de aliciamento. Outra adolescente, de 12 anos, também envolvida com o sequestro de Lívia, está abrigada. “Ela é novinha, mas a experiência que tem de vida dá uma bagagem. Você conversa com ela e você não diz que ela tem 12 anos”, comenta, surpresa, a delegada.
Dos sete inquéritos abertos a partir do sumiço de Lívia, um foi concluído, o que trata de estupro de vulnerável de uma das vítimas. Não há prazo para a conclusão das investigações. A proximidade com a fronteira é o principal entrave.
De volta pra casa
Larissa foi encontrada em situação de exploração sexual em Corumbá. O Conselho Tutelar realizou os primeiros atendimentos e a encaminhou para acompanhamento psicossocial no Creas (Centro de Referência Especializada em Assistência Social). Larissa também ficou abrigada em Corumbá, embora vivesse na Bolívia.
Seu caso revela uma rede informal de proteção dos direitos da criança e do adolescente que reúne autoridades bolivianas e brasileiras. Segundo a psicóloga do Creas de Corumbá, Vanessa Hamad Borges Witak, representante da Defensoria Del Niñez, de Puerto Suarez, foi até Corumbá buscar mais informações sobre o caso e para articular soluções conjuntas . “Foi uma troca de informações para conhecermos melhor o caso e planejarmos as ações”. Vanessa conta que foi a primeira experiência de interlocução entre os países vizinhos.
A psicóloga explica que se a adolescente boliviana é pega no Brasil em situação de violação de direitos e começa a ser acompanhada pela rede há uma continuidade, mas se acontece de deixar de ir por algum motivo, a equipe do Creas não tem autonomia diplomática para ir até o país vizinho e obter informações sobre a paciente. “Não podemos intervir lá”, explica.
Isso acaba provocando a perda de contato com a criança ou adolescente atendido. Sem possibilidade de fazer visitas domiciliares ou solicitar apoio policial para a busca dessas pessoas, o acompanhamento deixa de ser feito.