Um exame que pode ajudar no tratamento de pacientes com a síndrome da apneia obstrutiva do sono foi liberado para uso comercial em hospitais. Até agora, a técnica só era usada de forma experimental no País. Com ela, é possível visualizar as vias respiratórias em condições que simulam o sono normal e localizar a obstrução da passagem de ar. Isso pode ajudar a evitar cirurgias desnecessárias.
O Hospital Samaritano é o primeiro a oferecer a sonoendoscopia, que é feita com a colocação de um aparelho flexível de fibra ótica no nariz do paciente. O exame dura apenas 15 minutos, mas deve ser feito no centro cirúrgico, com acompanhamento de um anestesista. A sedação é feita com uma substância chamada propofol. O paciente recobra a consciência assim que o anestésico é suspenso.
A técnica usada no Samaritano foi desenvolvida pelo médico Fábio Rabelo em sua tese de doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). "Conseguimos encontrar a dose de sedativo capaz de simular as condições exatas do sono normal", explica. A sedação geralmente feita para um exame de endoscopia, diz Rabelo, induz a um sono muito mais profundo que o natural, o que poderia levar a resultados falsos.
O otorrinolaringologista Eric Thuler explica que a obstrução que causa a apneia pode ocorrer em diversos lugares das vias respiratórias, como a amídala, o palato mole, a base da língua e a epiglote. Cada situação requer um tratamento específico. "A cirurgia, por exemplo, só vai trazer bom resultado quando o estreitamento ocorrer na região da amídala. Com a realização da sonoendoscopia, temos visto que em mais de 40% dos pacientes o estreitamento ocorre em outros lugares", diz.
Precisão. Esse foi o caso do administrador de empresas Robério Peixinho, que em junho de 2010 descobriu ser portador da síndrome após realizar a polissonografia. Exames adicionais mostraram que a região da amídala estava aumentada, então, em setembro, Peixinho foi submetido a uma cirurgia para retirar a amídala e esticar o palato. Não obteve melhora.
Após realizar a sonoendoscopia, descobriu que o estreitamento ocorria na base da língua e passou a usar um aparelho oral. Parou de roncar.
Thuler explica que os exames normalmente usados para complementar o diagnóstico da apneia, como a ressonância magnética ou a tomografia, são feitos com o paciente acordado, o que não permite saber com precisão o que ocorre no sono. Ele ressalta, porém, que a sonoendoscopia não substitui a polissonografia. "É complementar."
Uma equipe do Incor também está desenvolvendo técnica semelhante, mas com outro sedativo: o maleato de midazolam (Dormonid). Segundo o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, a vantagem é que esse anestésico dispensaria o centro cirúrgico e o anestesista, tornando o procedimento mais barato. "Ainda são necessários mais estudos para saber se o exame realmente consegue prever se a cirurgia vai ter sucesso ou não", avalia.