Toda e qualquer novidade requer um período de adaptação e é normal que surjam dúvidas, sem contar as adaptações que sempre precisam ser realizadas. E, o novo sistema de preenchimento de vagas implantado pelo Ministério da Educação e adotado por inúmeras universidades públicas, inclusive a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, certamente é uma destas situações. Porém, quando os desencontros e a necessidade de ajustes são demasiadamente grandes, algo deve estar errado e talvez o “aborto” da novidade seja mais pertinente que os ajustes, embora esta decisão só possa ser tomada depois das necessárias tentativas de acerto.
No começo do ano, quando a UFMS utilizou parcialmente as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para preencher suas vagas, em torno de 200, quase 10% do total, simplesmente ficaram em aberto e foram oferecidas novamente na seleção de inverno, que ainda está em andamento. Agora, quando o único critério foram as notas do Enem realizado no ano passado, apenas 15% das mais de 900 vagas foram ocupadas na primeira convocação. É certo que nas próximas chamadas este índice tenderá a aumentar, mas a tendência é que as aulas comecem e uma infinidade de vagas continue sobrando. E, levando em consideração que nos primeiros meses acontecem as costumeiras desistências, pois muitos jovens descobrem que não era aquele curso que buscavam, salas de aula ficarão com a metade de sua lotação. No sistema anterior, o tradicional vestibular, dificilmente algum curso começava sem ocupação plena.
Além disso, o novo sistema está levando milhares de jovens a frequentar cursos longe de sua terra natal, pois muitos temem não conseguir espaço na área pretendida em sua região e por isso optam por qualquer cidade do País, gerando custos desnecessários para as famílias. O mais grave, porém, é que existe risco real de haver desequilíbrio em determinadas áreas profissionais. Em Campo Grande, por exemplo, há carência crônica de pediatras. Este fenômeno explica-se, em parte, porque boa parcela dos jovens que cursam medicina da UFMS são de outros estados e para lá retornam após a formatura. Algo parecido pode acontecer em outras áreas. E, todos têm pleno conhecimento do transtorno que a falta de pediatras provoca em Campo Grande.
Num país de dimensões continentais e com diferenças culturais e educacionais muito acentuadas, a universalização das regras, que em tese pode ser até algo louvável, talvez seja inviável na prática. Até mesmo a elaboração das provas do Enem, o que normalmente ocorre nos grandes centros brasileiros, tende a beneficiar estudantes destas regiões. Então, por mais bem preparados que sejam os estudantes de outras partes do País, eles não conseguirão disputar em pé de igualdade porque simplesmente os estudos tiveram direcionamento diferente.
Concluir que o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) foi aprovado ou reprovado ainda é cedo. Porém, estas e outras questões precisam ser levadas em consideração desde já sob pena de se bagunçar um sistema que estava todo engrenado.