Carlos Henrique Braga
Produtores rurais temem perdas na safra de verão de 2010/2011 se a estiagem provocada pelo fenômeno climático La Niña continuar nos próximos meses. Não chove há mais de 100 dias no norte do Estado e há dois meses em Campo Grande, segundo o Centro de Meteorologia da Universidade Anhanguera-Uniderp. As chuvas devem ocorrer a partir desta semana, conforme as previsões mais otimistas.
Para o agrometeorologista Cláudio Lazzarotto, da Embrapa de Dourados, a preocupação dos agricultores é exagerada. “Tudo indica que vamos ter o La Niña no ano que vem, mas ele (o fenômeno) nem deve ser forte e não é tão prejudicial assim”, tranquiliza. O fenômeno atrasa o período de chuvas, mas ainda assim as plantas podem ter bom crescimento.
A estiagem não provocou estragos nas lavouras neste ano porque se agravou em junho, quando a planta estava em estágio avançado. Boas condições climáticas levaram o Estado a colher 27% a mais de soja (5,3 milhões de toneladas) neste ano. Mesmo assim, a região de Dourados, maior produtora de grãos, teve perdas de produtividade no final dos ciclos do trigo e do milho.
Plantio
Desde agosto, sojicultores preparam-se para o início do plantio em outubro. A demora do fim da estiagem está deixando o setor produtivo temeroso de se repertir a quebra na safra 2008/09, que terminou com prejuízos de R$ 461 milhões, conforme a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul). “Existe previsão de veranico (período de seca no verão) em janeiro, justamente quando a planta mais precisa de chuva”, afirma o assessor de agricultura da entidade, Lucas Galvan.
A soja, que vai dominar 1,7 milhão de hectares da área total destinada a grãos (60% dos 2,8 milhões de hectares), estará em fase de enchimento de grãos, quando precisa de água abundante para se desenvolver. A cana-de-açúcar, que também estará plantada no início de 2011, poderá perder massa com a falta de chuva e render menos ao produtor.
Nos últimos meses, a seca deixou pecuaristas preocupados e consumidores insatisfeitos com a carne até 20% mais cara na Capital. Em pastos secos, animais ganham menos peso e demoram a ser abatidos. A escassez de boi elevou o valor da arroba em 30% (R$ 86) na entressafra e culminou em demissões em frigoríficos, que operam abaixo da capacidade. “O clima é um dos fatores que pioram a situação dos frigoríficos porque torna mais grave a falta de matéria-prima”, analisa o presidente da Associação dos Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne de MS (Assocarnes), João Alberto Dias.
A agravante em relação à agricultura, que pode começar os plantios assim que a água cair, é que o pasto precisa de tempo para germinar antes de receber os animais. Por isso, a ansiedade pela chuva é ainda maior.