OSCAR ROCHA
Ele não era campo-grandense – natural de Campo Mourão (Paraná) –, mas foi por aqui, a partir da década de 1980, que produziu telas carregadas de cores, estabelecendo visão própria sobre temas corriqueiros, como flores, gatos e bicicletas. A partir de hoje, uma exposição relembra a arte de Beto Lima, artista plástico morto em 2003. O local é o Espaço Cultural da Unipsico (Rua Antônio Maria Coelho, 3.656). Serão expostas 18 obras – todas fazem parte do acervo da família. “Várias pessoas não ligadas à família se propuseram a emprestar obras dele, mas resolvemos ficar somente com aquelas que estavam no acervo de parentes. Entre os trabalhos que poderão ser vistos estão pinturas feitas por ele quando tinha 12 anos, com temática primitiva”, explica a organizadora da exposição, Ana Elizabeth Arruda.
Ela diz que Beto, durante algum tempo, produziu tela, mas não acreditava no próprio talento. Após incentivo de nomes conhecidos do cenário das artes plásticas local, como Humberto Espíndola, passou a pintar com perspectiva de encontrar público mais amplo. “Ele sempre gostou de pintura, pintava desde garoto, aos 10, 11 anos; depois de frequentar um curso começou a fazer os primeiros quadrinhos. Nunca mais voltou a estudar, foi totalmente autodidata”, aponta a irmã, a professora Maria Inez Lima Ribeiro – o artista também se dedicou ao jornalismo durante algum período.
Ela conta que o irmão não explicava muito seu universo temático, e cita um exemplo de sua peculiaridade no instante da criação. “Beto gostava muito de cachorros, mas preferia pintar gatos. Tem apenas um quadro em que aparece um cachorro ao lado de um homem, que pode até ser ele. Quando questionávamos o porquê dessa opção, dizia não saber explicar”.
No período mais produtivo, o artista atravessou a fronteira do País, expondo em vários países. Nessas estadas também era influenciado pelo que observava. “Ele gostava muito de viajar. Passava muito tempo fora. Em algumas obras pode ser notada a influência do período vivido fora”, lembra Maria Inez.
Um exemplo é a série bicicletas, na qual foi motivado pelo que viu em cidades europeias, onde o transporte faz parte da rotina. “Ele me falou que não entendia como as bicicletas não faziam parte, em maior quantidade, da paisagem de Campo Grande, assim como acontecia em outros lugares que visitou, já que a cidade tinha condições para isso. Essa série foi bastante influenciada por suas idas ao exterior”, destaca a editora do Caderno B, Cristina Medeiros, que o entrevistou na época em que retornou da Europa.
Valor
A irmã acredita que houve reconhecimento maior das qualidades artísticas de Beto Lima depois de sua morte e há um novo público apreciando sua produção. “Levei algumas telas à escola onde trabalho, numa feira de ciências e foi o maior sucesso, muitos elogiaram, alguns até querendo adquirir”, conta Maria Inez. Os elogios maiores ficaram em torno da utilização das cores. “O efeito das tintas é uma diferenciação nas coisas que ele produziu, marcando a identidade como artista”. Outro momento recente de apreciação das telas de Beto Lima foi a exposição realizada no Museu de Arte Contemporânea (Marco), em 2009.
Nem a debilitação causada pela doença, que o matou aos 39 anos, o afastou das artes plásticas. Até no hospital trabalhou. “Para ele, a pintura era uma forma de terapia para enfrentar o problema de saúde”. A família deseja ter um espaço em Campo Grande, onde o acervo deixado pelo artista possa ser visto pelo público em geral. A iniciativa ainda está em fase embrionária, mas deve ganhar corpo no futuro. Beto Lima deixou cerca 40 obras aos familiares.
A comunicação artística obtida pelo artista foi por meio de aspectos do cotidiano, marcando o seu olhar sobre o banal. “Na aparente simplicidade da pintura, o artista estabelece um diálogo entre o que está presente e o ausente, um enigma, um pacto. Para permanecer”, destaca num trecho do texto de apresentação da exposição a professora e crítica de artes Maria Adélia Menegazzo. A exposição pode ser vista até 15 de maio, de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h.