ADRIANA MOLINA
Apenas 30% do valor gasto pelos produtores de Mato Grosso do Sul no custeio das lavouras são provenientes dos recursos disponibilizados no Plano Safra. O montante previsto pelo governo, que neste ano, apenas no Banco do Brasil, chega a R$ 1,8 bilhão no Estado, seria suficiente para bancar as despesas de plantio, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária (Famasul), mas todo o crédito não deve chegar ao campo por conta do endividamento dos agricultores.
De acordo com o assessor agrícola da entidade, Lucas Galvan, as quebras de safra que ocorreram nos anos de 2003, 2004 e 2005, por conta da seca, obrigaram muitos produtores a renegociarem suas dívidas, deixando a renda comprometida para novos financiamentos. “Além disso, em boa parte dos casos, o valor disponibilizado por agricultor é insuficiente. No plantio de soja, por exemplo, o limite de contratação é de R$ 500 mil por CPF, o que daria apenas para cerca de 400 hectares contabilizando os atuais custos de produção”, afirma.
As regras e o endividamento podem ser os responsáveis pela sobra de recursos que acontece todos os anos e que, nesta safra, já foi estimada em 10% do montante total, segundo o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi.
Seja por não ter acesso ao crédito ou por disponibilização insuficiente, grande parte dos que optam pelo plantio da oleaginosa acabam tendo que entrar em dívidas com empresas privadas e também se veem obrigados a investir o próprio capital. A estimativa é de que 40% dos custos sejam financiados em trades, a juros que chegam a ser o dobro dos fixados pelos bancos, de 14% a 16%, e os outros 30% restantes saiam do bolso dos próprios agricultores.
“A situação não seria essa se tivéssemos um seguro rural eficiente”, atribui Galvan. Uma das mais antigas brigas do setor é a formalização de um seguro que atenda às necessidades dos produtores, que mesmo segurados, em casos como os de 2003, 2004 e 2005, não tiveram cobertura total das perdas por conta dos termos contratuais.
Saindo da crise
Embora a realidade ainda seja de dificuldades, dados do Banco do Brasil revelam incremento de 15% na contratação do crédito rural na safra 2009/2010, frente a 2008/2009. O acréscimo se deve à redução dos custos de produção, que ficaram cerca de 25% menores, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O gerente de agronegócios da instituição financeira conta que este é o melhor momento desde as quebras entre 2003 e 2005. “Estamos com boa safra e preços razoáveis. Não temos visto muita dificuldade na contratação do atual crédito”, conta, revelando que foram contratados desde maio R$ 63 milhões dos R$ 1,8 bilhões da meta do banco para até o final de 2010.