Empresários de turismo de Corumbá, principal polo de pesca esportiva do Pantanal, lançaram campanha pela preservação do dourado, peixe considerado o rei dos rios, propondo a modalidade de pesque-solte por tempo indeterminado. A redução do estoque pesqueiro dos rios pantaneiros é uma constatação, sendo o dourado uma das espécies que sofre maior pressão por ser um peixe de característica esportiva.
A proposta, embora tenha alcançado sucesso na Argentina e Paraguai e se tornado lei em Cáceres (MT), onde está proibida por três anos a captura do dourado, há resistência de alguns setores. A Embrapa Pantanal, com sede em Corumbá, quer uma discussão mais ampla e sugere levar o assunto para análise do Conpesca (Conselho Estadual de Pesca), que hoje não tem conselheiros nomeados e está desativado.
Em Corumbá não se acha dourado nas bancas do porto geral, mantidas por pescadores profissionais, ou nos supermercados, contudo o pesquisador Agostinho Catella, da Embrapa, afirma que a espécie tem “alto valor de revenda” em Mato Grosso do Sul. Segundo ele, o peixe é fonte de renda para os pescadores profissionais. “Se deixarem de pescar que compensações vão ter?”, questiona o pesquisador.
A posição do técnico, feita durante o lançamento da campanha, causou mal-estar no trade turístico, que esperava o respaldo do órgão federal. “O dourado não é consumido na região, não tem mercado, e se tem valor comercial fora do município é um fator ainda mais preocupante. Está havendo pressão da pesca profissional, pois hoje o amador quase não lacra o dourado”, contestou o empresário Luis Antônio Martins.
Estudos
Segundo a Acert (Associação das Empresas de Turismo de Corumbá), que se manifestou contra a nova lei de pesca estadual, considerada predatória, a maioria dos pescadores que vem ao Pantanal é favorável a não captura do dourado. “O pescador tem nos cobrado uma posição, o dourado desapareceu dos nossos rios. De dez peixes lacrados em Corumbá um é dourado”, diz a presidente Joice Santana Marques. Para Agostinho Catella, é preciso aprofundar os estudos relacionados ao pesque-solte. “Há indícios de que a mortalidade seja alta após a devolução do peixe ao rio, e que a proteção à espécie seria parcial”, sustenta. O pesquisador disse que a Embrapa Pantanal coleta dados e apresentará até meados do ano estudos sobre crescimento e avaliação do nível de exploração e rendimento da pesca do dourado.
Uma lei
A campanha da Acert será desenvolvida junto aos pescadores amadores, os quais semanalmente lotam os barcos-hotéis e sobem o Rio Paraguai em busca de aventura. A entidade produziu material de divulgação e as operadoras estão pedindo adesão no ato da contratação da embarcação. “Se o pesque-solte deu certo na Argentina e no Paraguai por que não daria no Pantanal? Já estamos atrasados”, diz Joice.
“Na Argentina, a piranha deles hoje é o dourado”, completa a presidente da Acert, lembrando que a campanha pró-dourado quer mexer com o íntimo dos pescadores para conscientizá-los da importância de preservar a nobre espécie. “O nosso pescador também tem uma visão diferente hoje. Ele quer pescar o dourado por ser um peixe brigador, pela emoção. Quando muito pede para comer o peixe no barco”, diz ela.
O objetivo final da Acert é tornar o pesque-solte do dourado uma lei, como ocorreu em Cáceres. Na cidade mato-grossense, a iniciativa dos empresários de turismo teve o apoio da secretaria estadual de Meio Ambiente e a proibição da captura estende-se até 2013. A entidade também aguarda uma lei municipal que proíbe a saída do pescado, a fim de impedir a pesca predatória financiada por atravessadores.