Sílvio Andrade, Corumbá
A falta de cimento no mercado interno, engessando a construção civil em um período de aquecimento no setor, é temporário e o produto deverá atender à demanda a partir da próxima semana com a decisão da fábrica da Votorantim de Corumbá em priorizar Mato Grosso do Sul. Mas enquanto isso, muitos empreiteiros estão trazendo cimento da Bolívia para não paralisar suas obras na cidade. “O que está ocorrendo é uma aceleração violenta do mercado”, justifica o gerente da Votorantim, Marco Antônio Monteiro de Souza. As construtoras responsáveis pelo maior volume de obras em Corumbá – do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e projetadas pelo Estado, município e setor de mineração – alegam que a fábrica está mandando sua produção para Mato Grosso e São Paulo.
Ontem, a maioria dos 15 caminhões que aguardavam carga na entrada da fábrica abasteceria o interior do Estado, em detrimento do mercado local, onde falta cimento, conforme pesquisa feita nos principais revendedores. Os pedidos eletrônicos estão sendo rejeitados pela fábrica. Com isso, o preço do saco de 50 kg teve aumento de 23% esta semana, passando de R$ 16,50 para R$ 20.
“Essa situação já ocorre há 30 dias e torna-se preocupante e insuportável”, reclama o empresário Jorge Freitas, dono da construtora Itaoca. Segundo ele, a sua empresa já paralisou as obras de um posto de saúde em Ladário, cidade vizinha, e não conseguiu iniciar outra já contratada em Corumbá, a do Centro de Especialização Médica. “Com certeza, haverá demissões, mesmo temporárias”, avisou.
Da Bolívia
O Correio do Estado apurou que algumas construtoras, e mesmo o comércio local, estão “importando” cimento da Itacamba, a fábrica da Votorantim em Arroyo Concepción, na fronteira seca com Corumbá, para suprir suas necessidades. Lá, o saco de 50 kg está sendo comercializado a R$ 15,27. Uma empresa que produz concreto usinado comprou esta semana uma carreta em São Paulo.
“A Votorantim está mandando o cimento para Mato Grosso e São Paulo, se esquecendo da gente”, cobra Jorge Freitas. Segundo ele, somente Corumbá hoje conta com mais de 20 obras de grande porte, fato que não ocorria há algumas décadas, mas ainda assim a fábrica não privilegia o mercado local. O gerente da Votorantim garantiu que abastece a cidade, ocorre que o comércio não mantém estoque.
Produção
Marco Antônio disse que a fábrica focará o mercado sul-mato-grossense, deixando de mandar cimento para Cuiabá e região, onde as obras do PAC e do projeto da Copa do Mundo de 2014 estão consumindo o produto em grande escala. Disse que a nova fábrica, em Porto Velho, vai atender Mato Grosso, onde a produção de 50 mil sacos/dia da unidade de Nobres é abastece as obras de hidrelétricas.
“O mercado teve uma forte reação nos últimos três meses”, explicou o gerente, citando que a fábrica de Corumbá, até março, exportava cimento para a Bolívia. A unidade dobrou sua produção de 2008 para cá e trabalha com capacidade máxima (20 mil sacos/dia). Na semana que vem, com adaptações no sistema operacional, produzirá mais 2 mil sacos/dia, e Campo Grande é o cliente nº 1 da fila.