SILVIO ANDRADE, Corumbá
e FÁBIO DORTA, Dourados
O Museu de História do Pantanal (Muhpan), instalado no porto geral de Corumbá, conta a história da ocupação humana da planície e da fronteira oeste em oito mil anos. Seu acervo inclui peças arqueológicas da relevância do Corumbella Werneri, fóssil que viveu na região há 560 milhões de anos, e a Vênus Pantaneira, única figura antropomorfa feminina encontrada até agora nestes confins.
Inaugurado em 2008 e administrado pela Fundação Barbosa Rodrigues, o Muhpan proporciona um fascínio ao visitante e está sempre enriquecendo seu acervo com novos achados. Um dos documentos históricos mais expressivos acaba de chegar, avisa o coordenador Juliano Borges. Trata-se de um dos livros da junta de classificação dos escravos do Pantanal, datado de 1873/1885.
O livro, de número 28, foi cedido pela Câmara de Vereadores de Corumbá, que na época preparava um censo das propriedades que mantinham escravos para libertar seus filhos, beneficiados pela Lei do Ventre Livre, de setembro de 1871, por meio de um fundo de emancipação criado um ano depois pela província de Mato Grosso. As páginas estão craquelando e passarão por tratamento.
O documento cadastrou senhores como Joaquim José Gomes da Silva, o Barão de Vila Maria, um dos maiores latifundiários do Pantanal de Corumbá no século 19. Ele mantinha a escrava Esmeralda, mãe de Julia. Também cita Antônio Maria Coelho, um dos heróis da Guerra do Paraguai (1864/1870), dono de Jacinta, mãe de Antônia. As meninas nasceram no mesmo ano: 1874.
Juliano explica que, após o processo de restauração, o livro será digitalizado e disponibilizado para pesquisa, conservando o original. "Mais do que ir para a vitrine, simplesmente, é um documento histórico significativo para conhecimento da população local e do público em geral", diz ele. O Muhpan tem recebido um número cada vez maior de doações de objetos, todas espontâneas.
Salva de Prata
O Museu Histórico de Dourados, que funciona na antiga sede da Prefeitura Municipal, na Rua João Rosa Góes, no centro da cidade, conta com objetos e fotografias doados por famílias de pioneiros como José Serrano, o primeiro morador da região, e de Francisco Xavier Pedroso, o segundo morador que se instalou no distrito de Itahum (65 km da sede do município). O museu também traz fotos e objetos pessoais do fundador do município, o paranaense Marcelino Pires. Mas a peça mais emblemática do museu é a "Salva de Prata", uma homenagem aos douradenses feita pelo coronel do exército norte-americano Sidney T. Smith.
Ele comandava uma missão militar dos Estados Unidos no Paraguai e, quando sobrevoava Dourados no dia 18 de setembro de 1952, o avião em que estava com seus comandados (não há informação no museu sobre o número de pessoas) precisou fazer um pouso de emergência à noite.
O aeroporto de Dourados não tinha iluminação noturna e, então, houve em poucos minutos uma enorme mobilização, com dezenas de pessoas se dirigindo ao acanhado aeroporto com veículos, lanternas e até lampiões, iluminando a pista, permitindo o pouso da aeronave, evitando que acontecesse uma tragédia.