OSCAR ROCHA
O Duo Cancionâncias, escalado para se apresentar amanhã (sexta-feira), às 20h50min, no Palco Brasil, do 7º Festival América do Sul, que está sendo promovido em Corumbá, desde ontem, promete repertório baseado na música de concerto inspirado em temas populares, homenageando a natureza e a integração latino-americano. Formado há três anos, no Rio Janeiro, a partir do encontro do violonista sul-mato-grossense Cyro Delvizio e da soprano gaúcha Manuelai Carmargo, o duo afirma que alterou a seleção que normalmente apresenta para se adequar ao perfil do festival, mas sem esquecer a marca registrada: temas produzidos por compositores brasileiros.
“Para a apresentação, fizemos um pouco diferente do que habitualmente fazemos, pensamos em um viés do festival, que faz a reflexão sobre a questão ambiental e a integração entre os países da América Latina. Em outras apresentações, normalmente, fixamos em criações musicais nacionais”, explica Cyro, que saiu de Campo Grande há 6 anos para estudar música na Universidade Federal do Rio de Janeiro – atualmente se dedica ao mestrado, assim como Manuelai.
O violonista faz questão de enfatizar que mesmo abraçando a música acadêmica, ou erudita contemporânea, prefere abrir espaço para os autores que se inspiraram em ritmos populares. A seleção prova isso. Para começar, o duo encontrou na parceria do compositor Cláudio Santoro e o poeta Vinicius de Moraes canções que passeiam pelo universo popular e erudito. “Foram compostas na época em que a bossa nova estava sendo criada. Não é bossa nova mais remete a esse gênero, tem certos elementos”, aponta Cyro. Em outro momento, aparecem peças inspiradas na canção de roda “Nessa rua”. Uma escrita pelo compositor e maestro carioca João Guilherme Ripper, que tem passagem importante pela música sul-mato-grossense, e Heitor Villa-lobos. Ainda deste último, o duo destaca os temas “Cair da tarde” e “Melodia sentimental”. Do Pará, apresenta as trabalhos do compositor Waldemar Henrique da Costa Pereira, que ficou conhecido por suas peças influenciadas pela tradição amazônica. Na apresentação serão destacadas as obras “Cobra grande” e “Uirapuru”. “Não são músicas inspiradas no Pantanal, mas têm a natureza como principal fonte”, aponta Cyro, que aproveitará para mostrar a sua versatilidade como compositor. Duas obras serão incluídas: “Divertimento polqueado” – “fiz no Rio de Janeiro, lembrando da música de Mato Grosso do Sul” – e “Ufania do pecador” – “esta é um tango que fiz para uma peça de teatro que ainda não estreou”. Na parte final, haverá homenagem à música do continente com a inclusão das conhecidas “Gracias a la vida” e “Mercedita”.
Entre os projetos da dupla está a gravação de CD acompanhado de partituras das músicas do repertório. Cyro explica que, normalmente, as peças que o duo executa são originalmente feitas para piano/voz e que são necessárias adaptações para execução em violão/voz. As publicações das partituras servirão para divulgação do repertório além da fronteira brasileira. Outro projeto é a gravação de álbum somente com composições de Claudio Santoro. Fora atuação no duo, cada um se apresenta em projetos individuais. “Foi uma surpresa ser selecionado para o Festival América do Sul; no ano passado tinha me escrito. Estou muito feliz em poder tocar na cidade onde tenho familiares”, finaliza Cyro.