Após ter atingido ontem seu maior valor desde agosto, o dólar passou por um ajuste hoje e fechou em queda em relação ao real. A avaliação de especialistas, no entanto, é de que a moeda seguirá pressionada no médio prazo.
"Foi um movimento natural. Ontem, o dólar subiu bastante, por isso, hoje, houve ajuste", diz Paulo Petrassi, sócio operador da Leme Investimentos. "Seguimos com elevado deficit nas contas externas e, no exterior, os EUA começaram a retirar os estímulos, mesmo que gradualmente. Isso mantém a perspectiva de pressão sobre a moeda", acrescenta.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou hoje em queda de 0,52% em relação ao real, cotado em R$ 2,381 na venda. Na semana, porém, houve alta de 1,58%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, cedeu 0,71% no dia, a R$ 2,374, e subiu 1,50% na semana.
O mercado avaliou a notícia de que o governo federal superou a meta de economizar R$ 73 bilhões em 2013. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o superavit primário - economia do governo para pagar juros da dívida- fechou o ano passado em cerca de R$ 75 bilhões, reforçado por mais um bom resultado em dezembro.
"O efeito foi neutro, pois o Mantega já vinha afirmando que o governo cumpriria a meta para o superavit primário do país", diz Celso Siqueira, gerente de câmbio da Advanced Corretora. "O ministro não disse, porém, nada sobre a meta para 2014, o que poderia acalmar um pouco o mercado e reduzir a pressão sobre o câmbio", completa.
Ajudou na queda do dólar o programa de intervenções do Banco Central no câmbio. A autoridade promoveu um leilão de swap cambial tradicional, que equivale à venda de dólares no mercado futuro, vendendo 4 mil contratos com vencimento em 2 de maio de 2014 por US$ 199 milhões.
A operação já faz parte da nova fase do programa de intervenções do BC, em que a oferta de dólares no mercado foi reduzida. Desde agosto do ano passado, o BC oferecia até US$ 3 bilhões por semana através de suas atuações no câmbio, mas a cifra caiu a US$ 1 bilhão por semana a partir de janeiro deste ano.
O movimento seguiu na esteira da redução no estímulo mensal dado pelo Fed (banco central americano) à economia dos Estados Unidos, que também teve início neste mês.
A interpretação de analistas foi a de que a redução dos estímulos americanos será progressiva e que os juros daquele país não deverão subir até 2015, o que diminui o risco de uma disparada do dólar no Brasil em razão de uma eventual fuga de capitais para os EUA, na esteira da recuperação da economia americana, justificando a medida do BC brasileiro.