O dólar comercial é negociado por R$ 1,593 (valor de venda), em um decréscimo de 1,30%, nas operações desta quinta-feira. Trata-se da menor cotação desde 7 de agosto de 2008.
Ontem à noite, após o encerramento dos mercados, o governo baixou uma nova norma, ampliando o prazo para incidência do IOF (imposto sobre operações financeiras) sobre empréstimos externos, de 360 para 720 dias. A medida, no entanto, teve uma avaliação cética no mercado financeiro. "A medida deve ser considerada leve pelo mercado e, na prática, apenas reforça a posição defendida publicamente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que é a de apenas atenuar o movimento de valorização do real", avalia Miriam Tavares, diretora da AGK Corretora, em seu comentário diário sobre o mercado financeiro.
Há meses prevalece um ceticismo em bancos e corretoras sobre o "arsenal" do governo para conter a desvalorização cambial em face do motivo fundamental para explicar o fenômeno: o diferencial de juros domésticos e externos, o que torna o país atrativo para o capital estrangeiro, inundando a economia de dólares.
E como as pressões inflacionárias não cedem, há poucas perspectivas de que a taxa básica da economia caia, reduzindo esse diferencial. O governo tem insistido que vai enfatizar "medidas macroprudenciais" para refrear o crédito e controlar a alta dos preços. Mas essa nova estratégia é vista com dúvidas no setor financeiro.
Além do fluxo cambial, outros especialistas preferem olhar para outro fator financeiro: as apostas bilionárias dos grandes agentes financeiros (como bancos e fundos estrangeiros) na valorização da moeda brasileira. A equipe econômica somente começou a tentar restringir essas "apostas", ao exigir que várias instituições financeiras aumentassem suas reservas comparativamente as suas aplicações em dólar.
"Está faltando às autoridades monetárias "coerência", pois se desejam obstar os ingressos de curto prazo, as posições 'vendidas' dos bancos no mercado de câmbio à vista já deveriam ter sido drasticamente reduzidas", Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO, em relatório diário sobre o mercado de câmbio.
MEDIDAS CAMBIAIS
Desde pelo menos o final do ano passado o governo tem multiplicado esforços para fazer frente a essa "enxurrada" de moeda. Mais recentemente, ele elevou o impacto do impostos sobre operações externas.
No segundo semestre do ano passado, a equipe econômica aumentou os impostos sobre operações de estrangeiros no mercado de renda fixa brasileiro. E permitiu que o Tesouro antecipasse compras de dólares para saldar dívidas em moeda estrangeira. Além disso, aperfeiçou a legislação para que impedir que investidores externos "escapassem" da incidência do IOF em suas aplicações no mercado financeiro do país.
Para profissionais do segmento de câmbio, o governo ainda prepara inciativas ainda mais rigorosas para conter a avalanche de moeda para o país.
Números divulgados ontem pelo Banco Central mostraram que a entrada de dólares no país superou a saída em US$ 35,6 bilhões no primeiro trimestre de 2011. Foi o maior valor verificado na série iniciada em 1982. É também mais que o dobro do recorde anterior, verificado no mesmo período de 2006 (US$ 17,7 bilhões).