ACONTECEU EM 1973...
Bom dia, boa tarde, boa noite...
Tudo bem com vocês, caros leitores? Espero que sim.
Vamos iniciar a MEMÓRIA DO CORREIO desta semana com uma pergunta simples a você, estudante ou que já passou pelos bancos acadêmicos: já imaginou ter que decorar um mapa do Brasil com 22 estados, 15 territórios e o Distrito Federal?
Pois bem, se hoje, no novo milênio, a existência de 27 unidades da Federação já causa confusão em cabeças pelo Brasil afora, a sugestão de uma nova divisão territorial do País parecia bem mais confusa, porém com alguma lógica.
Divisão? Como? Isso mesmo...
"Ministério da Justiça estuda a redivisão territorial do País", apontava o Correio do Estado em sua edição de 26 de fevereiro de 1973, manchetando o assunto que causou comoção pelo Brasil por algumas semanas, mas que logo fora descartado e esquecido pela eternidade.
A não ser, claro, em dois locais. Um deles, como o título desse escriba entrega, foi o Mato Grosso do Sul.
DIVISÃO
Não vamos aqui escrever um amplo tratado sobre a divisão de Mato Grosso. Deixemos para o histórico 11 de outubro.
Cabe aqui apenas explicarmos o título - mais uma vez. A última vez que a divisão territorial de Mato Grosso fora almejada por algo oficioso que seja da União em 1932, ou seja, mais de 40 anos antes do projeto do Ministério da Justiça.
Era Maracaju, nome dado à criação revolucionária de um estado federativo brasileiro que existiu sem autorização da União de 10 de julho a 2 de outubro de 1932, durante as agitações da Revolução Constitucionalista de 1932, guiadas por São Paulo para derrubar o então presidente Getúlio Vargas.
O estado reclamava o território que hoje ocupa justamente Mato Grosso do Sul e o nome é uma homenagem à da serra que corta nosso Estado.
Teve como seu governador o então ex prefeito de Campo Grande, Vespasiano Barbosa Martins. Durante essa época, tiveram também os seguintes nomes: como secretário-geral, Arlindo de Andrade Gomes; como Chefe de Polícia do Estado, Leonel Velasco; e como prefeito de Campo Grande, Artur Mendes Jorge Sobrinho.
Maracaju foi uma precoce demonstração das pretensões separatistas com relação a Cuiabá. Durante a Revolução Constitucionalista, o sul de Mato Grosso apoiou a causa paulista, na pessoa do general Bertoldo Klinger.
Com o fim da revolução e a vitória militar do governo central, o estado foi dissolvido, mas serviria de embrião inicial para a causa separatista, com muito de seus nomes fundando o que seria a Liga Sul-Mato-Grossense pela criação do novo estado.
A RETOMADA
A derrota paulista na Revolução custou caro para os dois lados de Mato Grosso.
Ao norte, foi a perda de uma certa autonomia no poder, que teve de ser dividido com os sulistas como forma de apaziguar os ânimos e adiar as ideias separatistas.
Não saberemois, nunca, se os sulistas de fato se contentaram apenas com a parcela dada de poder, afinal eram tempos de ampla manipulação política de bastidores, influência militar e, principalmente, da ditadura do Estado Novo de Getúlio, que reescreveu livros de história e combateu o separatismo com, digamos, uma presença mais intensa da União no sul de Mato Grosso.
O certo é que funcionou. E as discussões pela criação de Mato Grosso do Sul, até então veladas, só ganhariam forma pública novamente em 1961, com a eleição do campo-grandense Jânio Quadros à presidência.
Com um conterrâneo no cargo máximo, a Liga Sul-Mato-Grossense editou a primeira versão de seu 'Manifesto Pela Divisão', histórico documento que entre atualizações e novas páginas foi a base que guiou Ernesto Geisel em 1977. E o livro foi entregue ao presidente naquele maio de 1961.
Pois bem, Jânio ficou de ver a situação, mas não deu tempo. Dois meses depois renunciaria, em uma falha tentativa de voltar ao poder com amplo apoio popular. Para Mato Grosso do Sul, pouco importava: renascia a Liga, livre das amarras varguistas e que faria barulho dalí em diante em busca de concretizar um objetivo, que viria 16 anos depois.
O PROJETO
O que pouco é divulgado, é que Jânio saiu pelas portas dos fundos, mas seus ministros gostaram daquele estudo feito pela Liga. E funcionários do Governo mantiveram o assunto em voga quando João Goulart assumiu como presidente. Em 1963, o Ministério da Justiça encomendou ao sociólogo Severino Marques Monteiro, que em suas andanças morara tanto na Amazônia quando no Pantanal, sua proposta de estudo para uma nova 'formação territorial brasileira'.
Os custos do trabalho seriam bancados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, onde Monteiro era funcionário. E ele teria o tempoq ue fosse necessário para fechar seus estudos.
Assim foi feito. E incríveis dez anos depois, sobrevivendo ao golpe de 1964 e dois presidentes do regime militar, o sociólogo apresentava a Emílio Garrastazu Médici os resultados obtidos, que em resumo, propunha a divisão falada a você leitor lá no início do texto. E que cujos detalhes foram abordados pelo Correio. Leia abaixo a reportagem na íntegra.
Como se sabe, o projeto acabou engavetado pouco depois e caiu no esquecimento. Além das divisões de Mato Grosso e Goiás (fundando o Tocantins), o processo de criar territórios dentro do Estado Brasileiro foi refutado de vez anos depois, com a Constituição de 1988 e a transformação deles em estados, casos de Amapá, Rondônia e Roraima (sendo que esse último sequer era previsto inicialmente).
*SOBRE O AUTOR: Rafael Ribeiro é jornalista desde 2004, graduado pela Faculdade Cásper Líbero (SP). Paulistano, mora em Campo Grande desde 2016 e também é graduado em História pela Universidade de São Paulo, com mestrado em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola Paulista de Sociologia e Política de São Paulo.
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